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Pesquisadores ligam intestino ao Alzheimer e mostram que dieta pode ajudar a frear inflamação

Estudo em camundongos do Buck Institute revela migração de células imunológicas do cólon para o cérebro e sugere que fibras alimentares podem reduzir tremores e neurodegeneração

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 29 de agosto de 2025 às 15h46.

Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 17h42.

No intestino humano vivem trilhões de microrganismos — e também cerca de 80% de todas as células do sistema imunológico. Essa comunidade não atua sozinha: sinais partem do trato digestivo e viajam pelo nervo vago até o cérebro, em uma estrada de mão dupla que conecta metabolismo, defesa e até comportamento.

Nos últimos anos, essa chamada eixo intestino-cérebro passou a ser investigada como possível peça-chave em doenças neurológicas. Agora, uma equipe do Buck Institute for Research on Aging, na Califórnia, trouxe novas evidências: em animais com doenças similares ao Alzheimer, células imunológicas migraram do cólon para o cérebro, intensificando a inflamação.

A boa notícia é que uma intervenção simples — dieta rica em fibras — mostrou-se capaz de frear esse processo e reduzir sintomas como tremores. O trabalho foi publicado na revista Cell Reports e é considerado o estudo mais profundo já feito sobre o sistema imune intestinal em doenças neurodegenerativas.

Os pesquisadores começaram comparando colônios de camundongos saudáveis e de camundongos geneticamente modificados para desenvolver Alzheimer. A análise de RNA em célula única revelou uma ativação incomum de vias ligadas à inflamação e à degeneração neuronal nos animais doentes.

Entre os diferentes tipos celulares, chamou a atenção um grupo de linhagem de células B, responsáveis pela produção de anticorpos. Nos intestinos dos animais com Alzheimer, o número dessas células despencava.

Intrigados, os cientistas seguiram a pista. Viram que as células exibiam um sinal de migração ligado ao receptor CXCR4, que responde à molécula CXCL12. Esse mesmo marcador foi encontrado em alta nas células da glia no cérebro — células que, em vez de proteger, podem alimentar processos inflamatórios na doença. O que parecia improvável se confirmou: as células B específicas do intestino, produtoras de anticorpos do tipo IgA, estavam deixando o cólon e se acumulando no cérebro dos camundongos com Alzheimer.

Esse movimento traz consequências duplas. De um lado, o intestino perde uma parte da sua linha de defesa, enfraquecendo o equilíbrio com as bactérias que vivem ali. Do outro, o cérebro ganha combustível para inflamações que agravam a progressão da doença.

Para testar se era possível conter essa migração, a equipe bloqueou o receptor CXCR4 com um medicamento experimental. O efeito foi imediato: as células permaneceram no intestino, preservando o repertório de anticorpos IgA e reduzindo a infiltração cerebral.

Na etapa seguinte, os cientistas se perguntaram se uma estratégia menos invasiva — a alimentação — poderia surtir efeito semelhante. Durante 13 meses, camundongos receberam inulina, uma fibra solúvel comum em vegetais.

O resultado surpreendeu: houve melhora na diversidade microbiana intestinal, redução da inflamação no cérebro e aumento das células IgA no cólon. Os animais ainda apresentaram menos tremores, um sintoma clássico associado à neurodegeneração.

A descoberta reforça a ideia de que intervenções relativamente simples, como ajustes na dieta, podem ter efeito direto sobre doenças complexas do sistema nervoso. Ainda longe de ser aplicada em humanos, a pesquisa amplia o horizonte de um campo em que microbioma, imunologia e neurologia se encontram — e sugere que o caminho para aliviar males do cérebro pode começar pelo intestino.

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