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Passado digital do papa americano coloca Vaticano de frente com a cultura da internet

Perfis antigos, memes e postagens marcaram as primeiras horas do pontificado de Leo XIV, escolhido nesta semana como novo líder da Igreja Católica

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 9 de maio de 2025 às 11h15.

Menos de duas horas após a escolha do novo papa, internautas já haviam rastreado postagens políticas, fotos pessoais e até piadas antigas ligadas ao religioso americano Robert Francis Prevost, 68, agora nomeado Leo XIV.

A eleição de um papa dos Estados Unidos, ineditismo na história da Igreja Católica, provocou uma reação veloz nas redes sociais. Curiosos se mobilizaram para buscar vestígios de sua vida pré-pontificado, expondo seu envolvimento indireto com temas como imigração, porte de armas e mudança climática. O conteúdo, publicado antes de sua entrada no conclave, apareceu sob forma de curtidas, compartilhamentos e perfis ainda ativos.

O episódio evidencia um paradoxo moderno: o chefe de uma das instituições mais antigas do mundo foi introduzido ao público não por comunicados oficiais do Vaticano, mas por rastros deixados em plataformas digitais. A primeira imagem viral foi uma fotografia antiga do futuro papa montado em um pônei, usando óculos escuros, rapidamente transformada em meme.

Robert Prevost: o Popa Leo XIV ( Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)

A disseminação desses dados levantou debate sobre privacidade e exposição de figuras públicas. Se candidatos à presidência são investigados por suas interações em redes sociais, seria razoável aplicar o mesmo rigor ao líder espiritual de 1,4 bilhão de fiéis?

Para alguns, a resposta é sim — principalmente diante da expectativa de transparência de um papa originado de uma democracia ocidental. Para outros, o gesto revela um esvaziamento simbólico: ao tratar o papa como mais um perfil na internet, perde-se a dimensão religiosa e histórica da figura do pontífice.

Vaticano enfrenta desafio inédito de comunicação

Com experiência missionária no Peru e longa carreira dentro da Ordem de Santo Agostinho, Prevost era até então um nome discreto da Cúria Romana. A escolha do nome Leo XIV, em referência a papas anteriores marcados por papéis diplomáticos e doutrinários, indica intenção de continuidade com a tradição. Mas o contexto digital impõe um novo roteiro ao Vaticano.

A Santa Sé, conhecida pelo controle rígido da comunicação papal, agora lida com uma realidade em que dados antigos circulam fora de sua alçada. Em poucas horas, jornalistas e usuários de redes mapearam registros eleitorais, textos acadêmicos e até relações pessoais do novo pontífice.

Especialistas em religião e comunicação apontam que o episódio inaugura era para o papado, em que a reputação pública começa a ser moldada antes mesmo da primeira bênção oficial. A lógica da “cultura do cancelamento” e da vigilância digital desafia o Vaticano a repensar como gerenciar a imagem de líderes que já chegam ao cargo com histórico online indexado.

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