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Partida coletiva de Pokémon reúne 100 mil jogadores, sobrecarrega Twitch e gera subcultura na web; entenda

Em algo que aparentemente não daria certo, gamers já conseguiram avançar até mais da metade do jogo; experiência social já tem até sistema político e 'religião'

twitchplays (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 17h35.

Um fenômeno curioso tomou a internet, reunindo dezenas de milhares de gamers em prol de um bem maior: terminar um “save” do clássico Pokémon Red coletivamente. Criado na última quarta-feira, 12, e batizado de Twitch Plays Pokemon (TPP), o experimento permite que qualquer jogador que acesse o site do serviço de streaming Twitch participe da partida – basta, para isso, digitar um comando no chat (direções em inglês ou A, B e Start).

A experiência foi baseada em outra chamada SaltyBet, e é algo que, aparentemente, não tinha como funcionar. Mas mesmo com o caos provocado pela avalanche de comandos simultâneos – que faziam o personagem Red andar em círculos, em cenas até cômicas –, os milhares de gamers conseguiram em "apenas" 190 horas passar por quatro dos ginásios do jogo (algo como os “chefes”) e estão, por enquanto, praticamente na metade dele.

Foram também capazes de montar uma equipe de monstrinhos relativamente respeitável e até mesmo a montar uma subcultra na web, superando problemas como a lentidão e inacessibilidade no chat da plataforma do Twitch (que inclusive foi reforçado para aguentar tamanha demanda) e inúmeros trolls de internet. Mas o que há por trás de tudo isso?

O sistema de chat do Twitch – O serviço de streaming para gamers, muito usado para transmissão de campeonatos de League of Legends e DotA 2, conta com um sistema de conversação baseado em IRC (Internet Relay Chat). Ele é usado em diversos clientes de chat por texto, e serve praticamente como uma plataforma sobre a qual outros usuários podem construir, adicionando vários recursos.

Foi graças a isso que o responsável pelo Twitch Plays Pokemon conseguiu implantar a ferramenta de “command input” que move o experimento. O código para ela, no entanto, foi criado às pressas, de acordo com o idealizador da ideia, e justamente por isso ele não pretende divulgá-la tão cedo na web. De qualquer forma, a criação é apenas uma das muitas já implantadas por usuários do serviço, como lembra o engenheiro da companhia Michael Ossare. Em um post em seu blog pessoal, ele menciona ferramentas de moderação automática, criação de votações e até de promoções.

Sobrecarga – O uso do chat por até 100 mil pessoas simultâneas (pico do experimento), no entanto, acabou por deixar o sistema ainda mais lento do que já era, como reclamam jogadores. Medidas tiveram que ser tomadas pelo Twitch, portanto: um servidor IRC dedicado apenas ao TPP foi alocado, o que, em teoria, reduziria significativamente a lentidão na resposta.

Não foi exatamente o que se viu: sentiu-se uma melhora, mas mesmo com CPUs rodando com 100% da capacidade, a lentidão ainda persiste. O chat ainda não pode ser acessado por todos, dada a enorme demanda, por exemplo – aqui na INFO, tentamos abri-lo em pelo menos quatro ocasiões, mas nada feito, mesmo com o streaming rodando plenamente.

Sistema político – O altíssimo e inesperado número de usuários simultâneos não foi capaz apenas de sobrecarregar o sistema de chat do Twitch. Graças a ele, a experiência social também se mostrou ineficaz por diversas vezes. A solução, então, foi tentar acabar com a anarquia que provocava a avalanche de comandos – e um sistema democrático foi implantado.

A ideia consiste em fazer votações a cada vinte segundos, definindo o próximo passo dado pelo personagem. Essa queda no ritmo do jogo desagradou parte da comunidade que se criou ao redor do jogo, mas também foi responsável por fazê-la superar alguns dos desafios – como a invasão à base dos vilões do jogo, a Equipe Rocket. Mesmo assim, a democracia ainda alterna com a “falta de regras” (e o personagem continua, por vezes, girando sem rumo).

Repercussão – Estando 100% funcional ou não, o fato é que o experimento do TPP está sendo um sucesso estrondoso. Para se ter uma ideia, falemos de números: no momento da postagem desse texto, 18 milhões de usuários já passaram pela página do streaming. É preciso considerar, claro, que há aqueles que retornam para acompanhar a partida novamente, mas não dá para ignorar esse total. Em termos de espectadores simultâneos, há mais de 71 mil deles assistindo e jogando nesta noite de quinta-feira, e o pico foi de mais de 100 mil.

Mas falando de números mais específicos, 460.293 usuários únicos havia jogado o Pokémon do TPP até às 19h04 da quinta-feira, 20. Eles apertaram botões 3.799.500 vezes no decorrer desses quase oito dias, sendo o UP (para cima) o preferido, com 808.850 cliques. Uma página está reunindo esses dados, aliás, e é atualizada a cada dois minutos – vale checá-la.

Subcultura – Como tudo que se populariza na internet, o Twitch Plays Pokemon também gerou toda uma subcultura e ondas de virais. Por exemplo, uma “religião” foi criada em torno de um item chamado Helix Fossil, que só ganha utilidade da metade para o final do game. Alguns dos Pokémons (que receberam os nomes mais bizarros, como o Rattata JLVWNNOOOO) assumiram papéis de profetas, ganharam homenagens por terem sido abandonados e viraram personagens de montagens das mais variadas. Há páginas dedicadas a reuni-las, como essa, e colaboradores que estão escrevendo e tentando organizar toda a “história” por trás do experimento, como esses aqui.

Não há previsão para o fim do Twitch Plays Pokemon. Por ora, os jogadores estão tentando chegar ao quinto ginásio (são oito, mais a Liga, que consiste no “desafio final”), e você pode seguir a aventura por aqui ou pela conta não-oficial no Twitter. A movimentação, como mencionado, segue alta no aniversário de oito dias do início do experimento – e pelos gráficos, não deve diminuir tão cedo.

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