Tecnologia

Os telefones dobráveis chegaram às lojas, mas quem quer comprá-los?

Empresas de tecnologia criaram novos designs, mas os telefones dobráveis não estão na lista de desejos da maioria dos usuários

SMARTPHONES: ao contrário das grandes inovações do passado, os novos aparelhos dobráveis revelaram problemas significativos até o momento. / (Glenn Harvey/The New York Times)

SMARTPHONES: ao contrário das grandes inovações do passado, os novos aparelhos dobráveis revelaram problemas significativos até o momento. / (Glenn Harvey/The New York Times)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 14h30.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2020 às 14h34.

Seu próximo smartphone poderá ser aberto para revelar a tela e ser fechado para guardar no bolso – assim como os clássicos celulares dobráveis dos anos 1990.

Mas, afinal, ainda queremos isso?

Empresas de tecnologia como a Samsung, a Motorola e a Huawei esperam que sim. Muitos percebemos há alguns anos que os smartphones que tínhamos já eram muito bons – e seus sucessores, apenas ligeiramente melhores –, por isso estamos ficando mais tempo com nossos modelos e demorando mais para trocar por um novo. Isso prejudica o faturamento das empresas.

 

Portanto, em um esforço para criar algo novo e empolgante para gastarmos nosso dinheiro, as fabricantes de telefones não param de falar nos novos dobráveis. Entre eles está o recém-lançado Galaxy Z Flip, da Samsung, vendido nos EUA por US$ 1.380, e o Motorola Razr, da Lenovo, que acaba de chegar às lojas americanas por US$ 1.500.

Há alguma coisa errada nisso tudo. Durante anos, as empresas de tecnologia criaram novos designs para telefones com base em pesquisas junto aos consumidores, o que deu origem a aparelhos com telas maiores, baterias mais duráveis e câmeras melhores – coisas que todos queríamos. Mas os telefones dobráveis não estão na lista de desejos da maioria dos usuários.

E, ao contrário das grandes inovações do passado, os novos aparelhos dobráveis revelaram problemas significativos até o momento. O primeiro dobrável da Samsung, o Galaxy Fold, chegou às lojas no ano passado, mas os aparelhos enviados para jornalistas quebraram após poucos dias de teste. De acordo com as primeiras análises, a bateria do novo Motorola Razr dura pouco e dobradiça é barulhenta.

“Trata-se de uma solução em busca de um problema para resolver. Para mim, esse é o problema com essas tecnologias que são colocadas a toque de caixa na mão dos usuários. Não existe demanda, então por que apressar as coisas?”, questionou o analista de tecnologia Paolo Pescatore, da PP Foresight.

Os novos dobráveis são uma moda passageira ou chegaram para ficar?

A tecnologia das telas dobráveis é fascinante e vale a pena ficar de olho nela. Mas o consenso entre os especialistas em tecnologia com quem conversei é o de que provavelmente é melhor esperar um pouco pela chegada de aparelhos mais maduros, antes de pensar em comprar um novo dobrável. Eis os motivos.

Como funcionam os dobráveis

Os novos dobráveis têm diferentes formas e estilos.

Alguns aparelhos, como o Galaxy Fold e o Mate X, da Huawei, contam com duas telas. Abertos, eles funcionam como um tablet de tela grande. Fechados, você tem acesso à segunda tela, do lado de fora.

Outros aparelhos, como o Z Flip, da Samsung, e o Motorola Razr, da Lenovo, se abrem para revelar uma tela touch de tamanho padrão. Quando o celular está dobrado, uma telinha externa exibe notificações e aplicativos.

Aparelhos dobráveis de maior dimensão também estão chegando, como o ThinkPad X1 Fold, da Lenovo, que deve ser lançado ainda este ano. Ele conta com uma grande tela dobrável e funciona como um tablet que pode ser fechado como um livro. Aberto, o aparelho da Lenovo tem 33 centímetros de comprimento.

Todos esses produtos dependem de uma dobradiça, o que significa que os smartphones passarão a ter uma parte móvel. Sem contar com a tela, esse é, portanto, mais um componente que pode quebrar-se.

Vantagens:

A principal vantagem de um telefone dobrável é que você pode contar com uma tela maior que ocupa menos espaço no bolso.

E é só isso mesmo.

O resto é desvantagem

Os dobráveis têm muitos problemas, pois dependem de telas OLED flexíveis, uma tecnologia que é muito mais fina que as telas tradicionais. As fabricantes de aparelhos eletrônicos usam OLEDs flexíveis há anos para reduzir o tamanho de telefones e relógios. O Apple Watch, por exemplo, conta com uma tela flexível, mas não é possível dobrá-la porque é coberta por um robusto cristal de safira.

Para que os aparelhos possam ser fechados, eles não podem ser tão rígidos. As telas flexíveis dos dobráveis geralmente são cobertas por uma camada plástica, que pode ser riscada ou penetrada com mais facilidade, sem o vidro que tradicionalmente protege as telas dos celulares. (A Samsumg afirma que o Z Flip conta com um vidro dobrável ultrafino, que permite que o aparelho seja aberto e fechado até 200 mil vezes.)

“Se você pegar uma caneta esferográfica e apertá-la com toda a força contra a tela de um iPhone, não acontece nada. Mas, se você fizer a mesma coisa com uma tela dobrável, ela para de funcionar”, afirmou Kyle Wiens, executivo-chefe da iFixit, uma empresa que fornece instruções e peças de reposição para consertar smartphones.

Em teoria, o design em forma de concha do Z Flip e do Razr fornece uma solução parcial para o problema da durabilidade. Isso porque a tela principal não fica exposta quando está fechada. Ainda assim, se derrubar o telefone enquanto ele estiver aberto, você terá um problema.

“Nada é capaz de proteger a tela dobrável no mundo real, se os usuários tratarem os telefones da maneira a que estão habituados”, afirmou Raymond Soneira, fundador da DisplayMate, que oferece consultoria sobre telas para empresas de alta tecnologia.

Os dobráveis também têm uma falha de design. Em geral, quando estão abertos, a tela tem um sulco que é visível e bastante incômodo, se comparado às telas tradicionais de smartphones e tablets.

Por fim, ainda não se sabe se as dobradiças resistirão ao teste do tempo.

Existem relatos de possíveis problemas com a dobradiça do Razr: alguns usuários afirmam que ela é extremamente dura e que isso atrapalha na hora de abrir e fechar o telefone. O site de tecnologia CNET afirmou que a dobradiça do Razr que estão testando quebrou depois de ser aberta e fechada 27 mil vezes por um robô.

A Motorola afirmou que acredita na durabilidade do Razr, acrescentando que o teste realizado pelo CNET colocou a dobradiça sob condições irrealistas.

Carolina Milanesi, analista de tecnologia da Creative Strategies, não ficou convencida. “Não dá para mostrar a cada um dos usuários como abrir e fechar o aparelho do jeito correto”, afirmou.

A principal desvantagem dos dobráveis não tem qualquer relação com a tecnologia: é o preço. Os aparelhos custam entre US$ 1.400 e US$ 2.400.

Para a maioria das pessoas, isso é impeditivo: um smartphone de boa qualidade com uma ótima câmera, como o Pixel 3A, do Google, custa US$ 400.

O que isso quer dizer?

Ainda é cedo demais para saber se os aparelhos dobráveis serão bem-sucedidos. Em alguns anos, a tecnologia provavelmente se tornará mais barata e robusta.

Mas, quando esse dia chegar, as pessoas vão querer um flip?

Para Wiens, o conceito é atraente, apesar dos tropeços iniciais.

“Todo mundo quer uma tela grande, mas detesto carregar um celular enorme no bolso. Portanto, acho que dá para afirmar que as pessoas querem algo dobrável”, disse.

Soneira, da DisplayMate, afirmou que as telas dobráveis fazem mais sentido em aparelhos que já tratamos com mais delicadeza, como os computadores. Imagine usar uma tela enorme para assistir a filmes no avião e dobrá-la para caber na bagagem de mão.

“Se algum fabricante fizer um laptop dobrável bacana, estou dentro”, completou.

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