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1. O Nobel do Nobel
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São Paulo – A Fundação Nobel e seus colaboradores, como a Academia Sueca (responsável por indicar o premiado de Literatura), são reconhecidos pelo zelo com que concedem o prêmio Nobel a cientistas e escritores de todo o mundo desde 1901. Seria possível, então, eleger o “Nobel dos prêmios Nobel” dos últimos dez anos, nas várias categorias contempladas pela Fundação? EXAME.com buscou ajuda junto a especialistas das áreas de física, química, medicina, literatura, ciências humanas e economia para que indicassem quais foram os trabalhos mais relevantes contemplados pelo prêmio desde 2001. Eles foram unânimes em dizer que não há como dar uma “palavra final” sobre o assunto e que todo Nobel é importante. Mesmo assim, alguns prêmios podem ser destacados dos demais, seja pela originalidade, pela utilidade ou pela inovação nos critérios de seleção da banca avaliadora. Confira nas próximas páginas os pesquisadores considerados destaques do Nobel dos últimos dez anos, segundo os especialistas ouvidos pelo site.
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2. Os físicos que permitiram a criação do iPod
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No campo da física aplicada, o professor Adalberto Fazio, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), considera muito impactante o prêmio de 2007, dado a Albert Fert (esq.) e Peter Grünberg (dir.). Eles descobriram a magnetorresistência gigante em 1988, fenômeno que possibilitou a criação de leitores de disco rígido compacto. Na prática, os estudiosos viabilizaram a produção de tocadores de MP3, como o iPod, por darem condições de fazer cabeçotes mais sensíveis e precisos para a leitura desse tipo de aparelho. Mas o professor deixa claro que houve várias outras grandes contribuições vindas de vencedores recentes do Nobel. “Quando se fala em Nobel de Física, a maioria das pessoas tende a pensar que os melhores são das invenções ligados à aplicação direta na vida das pessoas”, afirma. Para Fazio, aí está a dificuldade de falar qual dos prêmios nos últimos anos foi o mais impactante. “É difícil comparar trabalhos de diferentes áreas e propostas”, diz.
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3. Os químicos que apostam corrida com bactérias
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Premiados com no Nobel de Química em 2001, os pesquisadores William S. Knowles, K. Barry Sharpless, Ryoji Noyori (foto) demonstraram que é possível sintetizar os chamados compostos quirais, ou enantioméricos, por meio de catalisadores especiais. O processo é muito útil na produção de medicamentos. “Por enquanto, a química ainda perde em desempenho para as bactérias nesse tipo de síntese”, afirma o professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP. “Porém, a contribuição deles representou a abertura para uma nova era da Química, que poderá competir com vantagem sobre a biotecnologia”, diz Toma.
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4. Pesquisa contribui para evitar crise mundial de alimentos
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Em 2007, o alemão Gerhard Ertl (foto) ganhou o Nobel de Química ao desvendar os mecanismos das reações catalíticas, como a síntese da amônia, em escala atômico-molecular. Com isso, ele demonstrou como ocorrem as reações químicas. Segundo o professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP, este processo é muito importante hoje, pois a humanidade demanda mais amônia do que a natureza fornece. “Sem este processo, com certeza a humanidade estaria em séria crise de carência de alimentos”, diz.
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5. Uma ajuda para o setor de medicamentos
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Neste ano, o Nobel de Química foi concedido a Richard F. Heck, Ei-ichi Negishi (foto) e Akira Suzuki, que desenvolveram uma estratégia de síntese orgânica, que permite fazer reações de substituição em compostos chamados olefínicos, importantes na indústria química, na formação de fármacos e polímeros”, afirma o professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP.
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6. Os criadores da moderna ressonância magnética
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Entre todos os agraciados pelo Nobel de Medicina dos últimos dez anos, uma das contribuições mais importantes veio dos pesquisadores Paul C. Lauterbur (foto) e Sir Peter Mansfield. A avaliação é do professor do departamento de Patologia da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva, que não esconde, porém, sua predileção por descobertas “aplicadas”, isto é, que tenham importância prática e direta. Em 2003, a dupla foi premiada por suas descobertas no campo da ressonância nuclear magnética, que permitiram visualizar melhor os órgãos internos humanos. A partir de suas pesquisas, chegou-se a ressonância magnética moderna: a chamada tomografia por ressonância.
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7. Em busca de um novo tratamento para a gastrite
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Ainda entre os premiados com o Nobel de Medicina, o médico e professor do departamento de Patologia da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva, faz outra distinção. Trata-se das pesquisas conduzidas por Barry J. Marshall (foto) e J. Robin Warren. Os dois identificaram o papel da bactéria H.pylori da gastrite, na úlcera péptica e no câncer de estômago. Seus estudos contribuíram para descobrir o tratamento e a cura desses problemas. Com isso, ganharam o Nobel de Medicina de 2005.
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8. Um escritor na contramão das questões humanitárias
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Entre todos os vencedores do Nobel de Literatura desde 2001, um dos destaques é o peruano Mario Vargas Llosa (foto) – o premiado deste ano. A opinião é do professor Alcir Pecora, da Universidade de Campinas (Unicamp). Mas, para Pecora, a inovação não é tanto o tipo de escrita de Llosa. Trata-se, mais, de uma nova postura da Academia Sueca (a responsável pela indicação dos escritores). Segundo Pecora, a obra de Llosa vai na contramão dos premiados de outros anos, cujos livros são mais voltados para as minorias e as questões humanitárias. “Além de ser um escritor profissional de qualidade, Vargas Llosa não tem uma atuação de defesa dos direitos humanos. Ele, inclusive, tem uma visão mais conservadora. Isso é diferente”, afirma Pecora.
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9. Um dramaturgo rápido e cáustico
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Outro destaque da década na área de Literatura é Harold Pinter (foto). Premiado com o Nobel de 2005, o autor não escapa da questão política em seus enredos, mas se destaca pelo conjunto de sua obra. “Pinter é basicamente um autor de teatro e suas peças têm muita vivacidade. Ele tem uma escrita rápida, inteligente, cáustica e irônica”, diz o professor Alcir Pecora, da Universidade de Campinas (Unicamp). “Ele é o que eu leria com mais interesse”, afirma.
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10. Em defesa das mulheres muçulmanas
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Dentre as lutas pela paz mundial, a premiação de 2003 se destaca principalmente pela inovação no contexto de trabalho. Para Pedro Paulo Funari, professor do departamento de História da Unicamp, a advogada iraniana Shirin Ebadi (foto) é um ícone da defesa dos direitos civis e das mulheres em um ambiente não-ocidental e, por isso, merece essa ênfase. Sua luta se concentrou dentro da sociedade persa e muçulmana, questão ainda pouco defendida em países de origem islâmica. O professor considera inusitado o prêmio Nobel da Paz de 2007, entregue ao Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) e ao político americano Al Gore, mas de uma maneira diferente. “O tema ambiental não era, antes, considerado relativo à paz”, diz. Além dele, outra homenagem surpreendente foi a do presidente americano Barack Obama, em 2009. “Obama foi premiado antes de poder exercer o poder, como se fosse um voto de confiança ou, mais ainda, como um prêmio ao fato de um afro-americano conseguir chegar à presidência dos EUA”, afirma Funari.
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11. Os pesquisadores que colocaram a Economia no divã
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11/11 (Getty Images)
Apesar da dificuldade de se definir o Nobel de Economia mais inovador e impactante dos últimos dez anos, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA - USP), Carlos Eduardo Soares Gonçalves, considera que os vencedores de 2002 são os que mais se destacam. “A linha de pesquisa deles liga a economia à psicologia, um novo campo de estudo. Com isso, eles desviaram a racionalidade para uma outra vertente, tentando ver além do homo-economicus”, afirma. Em seus estudos, Daniel Kahneman (foto) ligou as duas áreas principalmente no que diz respeito ao julgamento humano e à tomada de decisão diante das incertezas. Já Vernon L. Smith, que dividiu o prêmio com Kahneman, por ter usado experiências em laboratório como ferramenta empírica para fazer análises econômicas, ajudando a compreender o comportamento econômico.