Jack Dorsey: o chairman do Twitter, descrito como vilão por Nick Bilton, é também fundador da empresa de pagamentos Square (Rebecca Cook/Reuters)
Maurício Grego
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 15h32.
São Paulo -- "É uma bagunça. É como se um carro cheio de palhaços tivesse achado uma mina de ouro e caído nela." A frase de Mark Zuckerberg sobre o Twitter é uma das pérolas no livro “Hatching Twitter: A True Story of Money, Power, Friendship, and Betrayal” (“Criando o Twitter: uma história real de dinheiro, poder, amizade e traição”, em tradução livre), do jornalista Nick Bilton, do New York Times.
A descrição de Zuckerberg, citada pelo site AllThingsD, ilustra bem a trajetória errática do Twitter relatada por Bilton em seu livro, que chega amanhã às livrarias nos Estados Unidos. O momento não poderia ser mais propício, já que falta pouco mais de uma semana para o IPO do Twitter.
Bilton deu uma entrevista ao noticiário Cnet em que detalha alguns fatos e diz que o Twitter não tem rumo claro. “Acho que uma coisa de que o Twitter ainda sofre, e já sofria sob o comando de seus três CEO’s é que ele não sabe o que quer ser quando crescer”, disse.
No livro, ele revela que Jack Dorsey, fundador da rede social, traiu seu sócio Noah Glass e depois foi posto para fora por Evan Williams, outro sócio. Dorsey acabaria retornando à empresa no posto de chairman, que ocupa até hoje.
Bilton traça a trajetória do Twitter desde seu início em 2006. A empresa foi fundada por quatro empreendedores: Jack Dorsey, Noah Glass, Evan Williams e Biz Stone.
O jornalista conta que fez centenas de horas de entrevistas e leu mais de mil documentos e e-mails garimpando informações para seu livro. Da obra, emerge um retrato nada elogioso de Jack Dorsey, descrito como um farsante que reivindica para si a fama indevida de inventor e visionário do Twitter.
“Acho que algumas pessoas na imprensa de tecnologia do Vale do Silício retratam Jack como um gênio por que o sistema em que trabalhamos é baseado em permissões de acesso”, disse Bilton à Cnet.
“Jack e a equipe de relações públicas em torno dele aprenderam a jogar esse jogo melhor que ninguém. Se alguém fala mal dele, o acesso a ele é cortado”, prossegue Bilton.
“Como ele consegue manter esse efeito mágico sobre a imprensa? Se você é um cofundador do Twitter e outro cofundador sai por aí dizendo ‘Eu inventei o Twitter’, imagine como você pareceria tolo se tentasse refutar isso publicamente. E, mais ainda, imagine como o Twitter pareceria tolo.”
Bilton também sugere que Evan Williams foi ingênuo ao confiar em Dorsey: “Diferentemente de Zuckerberg, Evan acreditava que que os amigos que ele havia contratado para sua empresa (alguns dos quais foram parar no conselho de administração) nunca se voltariam contra ele.”
“Como você pode ver no livro e Evan mais tarde descobriu, ele estava errado”, diz Bilton. Dos quatro fundadores, só Biz Stone ganha elogios do jornalista: “Sua mais importante contribuição foi erigir uma cerca moral em torno da empresa”, diz.
“Evan criou políticas que protegeram a privacidade das pessoas. Essas políticas também asseguraram que a empresa tomasse decisões que não tomassem partido em questões políticas ou religiosas. Sem Biz, o Twitter seria muito diferente.”