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Apps sem inteligência vão sumir, diz cientista da Microsoft

No Brasil, cientista chefe da Microsoft Research fala sobre a poderosa combinação entre nuvem e inteligência artificial

Rico Malvar: cientista chefe da Microsoft Research fala a EXAME.com sobre nuvem e IA (Microsoft/Divulgação)

Rico Malvar: cientista chefe da Microsoft Research fala a EXAME.com sobre nuvem e IA (Microsoft/Divulgação)

Victor Caputo

Victor Caputo

Publicado em 27 de junho de 2017 às 05h55.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 10h24.

São Paulo – Rico Malvar é um dos brasileiros de maior destaque dentro da Microsoft. Malvar é cientista chefe na Microsoft Research e é gestor do MSR NExT Enable, grupo de pesquisa para criar tecnologias que empoderem pessoas com deficiências.

Malvar está de passagem pelo Brasil para falar no 7º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas (Sebrae).

A palestra de Malvar, que acontece nesta terça-feira (27), é sobre a nuvem inteligente. EXAME.com conversou com o cientista sobre inovações na tecnologia. Veja os melhores momentos da conversa a seguir.

EXAME.com - Pensando na sua palestra, como inteligência artificial e nuvem combinadas vão mudar o mundo?

Rico Malvar – O termo artificial até assusta um pouquinho. No fundo é o computador ajudando, a máquina ajudando. A nuvem nos traz grande poder computacional e espaço para armazenamento. Então na hora que você combina isso com a evolução dos algoritmos que fazem inteligência artificial, você alcança coisas novas.

O que percebemos é que, à medida que se traz a IA, você dá mais valor às pessoas. O ideal é que o computador entenda você e não que você tenha que aprender. Às vezes nos perguntamos como realizar alguma atividade no computador, mas é ele que deveria se virar.

Minha assistente às vezes está fazendo coisas no Excel e começa a conversar com o computador. Eu digo a ela, “prometo que um dia, quando você começar a conversar com ele, o Excel vai responder e conversar com você”. E é por aí que estamos indo mesmo. O Office pegou muito da IA da Cortana [assistente pessoal da Microsoft]. Você pode chegar e falar o que quer fazer e o Office vai confirmar com você e realizar a tarefa. Não será preciso ir até o menu ou buscar ajuda. A vantagem da IA é trazer esse cenário onde você vai permitir que a pessoa seja mais produtiva, possa fazer mais.

O que já temos de exemplos nesse sentido?

Quando você está fazendo uma apresentação em PowerPoint é comum ter efeitos visuais. Mas imagine se a pessoa que tiver contato com essa apresentação tiver deficiência visual, for até cega. Ela vai chegar até um determinado ponto e o sistema dirá que ali está uma imagem. Essa informação se perde. Temos, por ora em add-on, mas será parte do PowerPoint, uma solução que olha a imagem e sugere uma descrição. O usuário só precisa confirmar. Agora você tem documento mais acessível.

A inteligência artificial vai auxiliar em tarefas difíceis. O conceito geral é pegar e fazer as pessoas e organizações mais produtivas. Uma empresa nova, com gente jovem, pode fazer o que, anos atrás, seria possível somente para uma grande empresa. Essas oportunidades de ampliar o valor e a capacidade das pessoas motiva a gente bastante. Isso passou a ser um tema central.

Se você olhar anos para a frente, apps e ferramentas de computação que não forem inteligentes, não terão espaço. As pessoas passarão a esperar esse tipo de capacidade. Um aplicativo muito estático, que só trabalha de uma maneira e não é capaz de conversar com você e entender o que você quer fazer, vai embora. É um caminho sem volta.

Seria possível pensar aplicativos sem interface gráfica?

Exatamente. Você pode conversar com uma assistente virtual sem uma parte visual, tudo acontece de forma invisível. O que importa é que a outra parte entendeu tudo que precisava. Se entender muito bem, talvez não se precise de interface gráfica. Você pode estar andando e falar “Cortana, tem um restaurante chinês por aqui, certo?” Ela pode responder que sim e se oferecer para falar o novo cardápio. Essa conversa todinha pode ser feita sem uma tela.

Enquanto isso você está olhando procurando pelo restaurante e a Cortana falando com você por um fone de ouvido. O ponto básico é entender a sua intenção, a sua linguagem natural. Ainda tem muito o que ser feito. Antigamente a gente controlava o computador, descobria o que podia ser feito para fazer a coisa certa. Agora, a computação vai descobrir o que você quer e vai fazer a coisa certa para você.

O senhor diria que começamos a nossa relação com computadores da forma errada, com a gente tendo que entender?

Eu concordo com isso. Eu só mudaria uma palavra, eu não diria errada. Começamos a nossa relação dentro do que era possível. Agora, realmente está virando. É mais a capacidade de o computador entender você. O Kinect permite que se controle um jogo só com movimentos e voz.

Uma coisa que nós percebemos é que quando você tem que pegar botões e apertar, seja um teclado ou controle, existe um aspecto psicológico que se você apertar o botão errado e alguma coisa errada acontecer é a pessoa quem não sabe usar a máquina. Por outro lado, se eu não tiver botão para apertar e eu fizer meus gestos, falar e a máquina não entender, então a máquina é burra. Isso é superimportante. Isso muda a relação. À medida que você dá essas interfaces. Cada vez mais, será preciso aprender menos a usar a tecnologia.

E que impactos a pessoa não ter mais que aprender traz à nossa relação com as máquinas?

Às vezes você ajuda pessoas de forma inédita. Imagina que você é uma pessoa que trabalha em um serviço de limpeza. Você está no meio de um trabalho e pede para desmarcar o do dia seguinte. Você pode dizer, “Ei, Cortana,” e falar o que quiser. A pessoa perde o medo. Se não der certo, é só falar de novo. Você abre a porta da tecnologia para pessoas que talvez não esperassem usar a tecnologia. São barreiras caindo.

E como nossa relação com o trabalho muda? Podemos nos dedicar mais às questões importantes?

O ser humano tem capacidade de correlacionar coisas que nunca viu. Já a máquina é boa de correlacionar coisas que já viu. A IA tem a capacidade de ver isso numa escala gigantesca. Se eu vi todas as fotos na internet, posso ajudar a encontrar relações, informações. Mas como uma pessoa veria todas as fotos da internet? Esse é um trabalho para a máquina. Mas se uma foto tem uma carga emotiva, isso pode não ser visto pela IA, mas por pessoas.

Outro aspecto é que gastamos tempo com atividades mecânicas em todas as profissões. Essas atividades serão feitas automaticamente. A sua cabeça ficará no que você sabe fazer melhor. Todos ficarão mais produtivos. Parte da IA é ampliar você, trazer informações que trarão coisas novas e também vai ajudar a resolver coisas mecânicas de forma mais rápida. É um futuro de mais colaboração.

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