Lula e Trump, presidentes de Brasil e Estados Unidos, respectivamente (Kazuhiro NOGI e Jim WATSON / AFP)
Redator
Publicado em 23 de julho de 2025 às 09h43.
O tarifaço anunciado pelos Estados Unidos contra o Brasil tem como pano de fundo a tentativa do governo Trump de proteger as big techs, empresas de tecnologia com atuação global, de novas taxações e regulações impostas por governos estrangeiros. Para isso, Washington usa a ameaça de tarifas e barreiras comerciais como principal instrumento de negociação – estratégia considerada central por Donald Trump, que definiu “tarifa” como “a mais bela palavra do dicionário”.
De acordo com o Wall Street Journal, o pacote de medidas tarifárias, com prazo de implementação em 1º de agosto, inclui sanções direcionadas a Brasil, Coreia do Sul e União Europeia. Entre as ações planejadas estão a taxação de produtos exportados e a imposição de obstáculos ao acesso estrangeiro à economia norte-americana.
No caso do Brasil, as tensões envolvem principalmente o setor de tecnologia. Após o anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, os EUA iniciaram uma investigação sobre o comércio digital e os serviços eletrônicos do país, incluindo o Pix – sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central. A medida ocorre em meio ao debate brasileiro sobre a regulação de plataformas digitais e o avanço de soluções tecnológicas nacionais.
O movimento norte-americano é visto como retaliação indireta a iniciativas brasileiras que afetam a atuação das empresas de tecnologia dos EUA, e que se somam a pressões semelhantes vindas da União Europeia, onde está em curso a implementação do AI Act, lei sobre inteligência artificial que pode limitar o uso de algoritmos e dados por essas empresas.
Para o Brasil, o cenário impõe o desafio de buscar maior autonomia tecnológica sem comprometer as relações com um parceiro estratégico e comercial dominante. O país vem tentando criar soluções próprias em tecnologia digital, como o Pix e, mais recentemente, com a criação de um grupo interministerial para estudar um sistema nacional de navegação via satélite, apelidado de “GPS genérico”.
A defesa da soberania tecnológica, no entanto, colide com os interesses comerciais e a realidade geopolítica. Washington vem tentando conter o avanço de regulações nacionais que afetem suas gigantes digitais por meio de tarifas e ameaças. O Brasil, por sua vez, busca espaço para regular sua economia digital e proteger empresas locais, sem perder acesso ao mercado norte-americano.
Ainda que o governo Trump tenha um histórico de medidas abruptas, a ameaça atual representa mais do que um episódio isolado: trata-se de uma ofensiva estruturada para garantir que interesses das empresas de tecnologia dos EUA sejam mantidos em outros países – inclusive à força, se necessário.