Trump e Biden: visões diferentes, mas parecidas (Isaac Brekken/ Drew Angerer/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 3 de novembro de 2020 às 07h13.
Eis um tema que de certa forma une os dois ferrenhos adversários nas eleições americanas, que acontecem nesta terça-feira. Entre as discussões sobre saúde, o novo coronavírus, economia e algumas farpas trocadas nos debates, um assunto diferencia pouco o candidato democrata Joe Biden do republicano Donald Trump. São as big techs: as gigantes americanas da área de tecnologia que estão no centro dos debates da Justiça dos Estados Unidos por acusações de monopólio.
Para Trump, a ideia é manter e até acelerar a regulação das companhias de tecnologia, com esforços que já vinham acontecendo em seu primeiro mandato, como quando ele afirmou que redes como o Facebook e o Twitter tinham preconceitos com conservadores. Em seu mandato, também houve investigações de gigantes como o Google, e ações contrárias aos aplicativos chineses TikTok e WeChat --- que levaram a guerra comercial entre EUA e China para um patamar tecnológico.
A visão de Biden também é crítica ao poder de mercado das big techs. O democrata e a sua candidata a vice, Kamala Harris, são a favor de ações mais rigorosas contra a concentração de mercado por parte das empresas de tecnologia, bem como regras de privacidade online mais claras. Enquanto Trump quer lutar contra o "preconceito contra conservadores", Biden pretende forçar as redes sociais a policiarem melhor os seus sites contra as informações falsas.
O comitê antitruste na Justiça americana foi criado por democratas, com base na ideia de que as big techs se tornaram tão grandes que não dão espaço para seus competidores, monopolizando todo o lucro e reconhecimento para si. No caso da visão democrata, até mesmo empresas como a Apple e a Amazon entram na dança. "Para simplificar, as companhias que antes eram startups pequenas que desafiavam o status quo se tornaram o tipo de monopólio que antes víamos na era de barões de óleo", dizia o relatório.
A recomendação do relatório era proibir que "plataformas dominantes operassem em linhas adjacentes dos negócios", o que significaria que, por exemplo, o Google não poderia ser dono do YouTube, e nem o Facebook do Instagram ou do WhatsApp.
A rede social que corre mais risco, seja em um governo Biden ou Trump, é o Facebook. Em relação à Amazon e a Apple, com Trump no poder, as empresas teriam pouco para se preocupar --- o atual presidente americano ataca mais ferozmente as redes sociais. Um dos motivos para isso é que, somente nesse ano, o Twitter precisou derrubar diversos tuítes de Trump por conter desinformação e conteúdos falsos.
Mesmo sob ameaça, o Facebook tem buscado se adaptar como pode.
É por isso que, para Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto Tecnologia Social (ITS), uma vitória democrata pode ser mais simples para as gigantes da tecnologia. "O Trump considera o Twitter, o Facebook, entre outros, como editoriais de mídia. Então ele acusa o Facebook de fazer censura, o Twitter de fazer censura. Ele faz uma polarização muito grande em relação a elas. A proposta de regulação do Trump é muito mais parecida com a censura, com a ideia de que você é um veículo de comunicação e que você deveria ser responsabilizado por isso. Ao adotar essa postura, a discussão com as big techs se torna bastante limitada", diz. " É como se o Vale do Silício fosse o inimigo do Trump, da mesma forma que a Globo é inimiga do Bolsonaro aqui. É por isso que há uma resistência de encarar o Trump como alguém que tem um diálogo aberto, porque ele é muito mais incisivo."
As companhias não têm a mesma visão dos democratas. "Os democratas têm uma visão de diminuição da regulação, você vê a parte mais da esquerda, da AOC, por exemplo, de ter essa política contra o monopólio. Entretanto, os democratas tendem a ser mais razoáveis ao meio termo, a algo que não seja tão polarizado. É daí que vem uma certa perspectiva de que uma discussão de regulação com os democratas é melhor do que com o Trump", diz.
A única mudança que pode realmente acontecer em relação às empresas de tecnologia, segundo Steibel, são as chinesas --- que, sob o governo Trump, sofreram duras ameaças e restrições. "Os grandes perdedores em uma vitória do Trump são os aplicativos chineses. No caso de uma vitória dos democratas, deixa uma batata quente em uma provável vitória de Biden porque as discussões sobre monopólio e uso de dados vão continuar, porque os chineses seguem outro marco regulatório do que o americano."
Salve-se quem puder: em uma eleição tão polarizada, até as redes sociais viraram alvos.
De acordo com uma reportagem da Wired, os funcionários da Alphabet, da Amazon, da Apple, do Facebook, da Microsoft e da Oracle contribuíram quase 20 vezes mais dinheiro para a campanha de Biden do que para Trump desde o início de 2019. Um dos motivos pode ser, então, a facilidade de diálogo com o partido democrata.
Um relatório aponta que 4,7 milhões de dólares foram doados a Biden, enquanto Trump recebeu apenas 239.527. Os maiores financiadores de Biden são os funcionários da Alphabet, controladora do Google, que doaram 1,8 milhão de dólares para a causa do democrata.