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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h33.
A posição radical dos Estados Unidos em relação ao controle da internet pode ser resumida em uma frase, proferida por um diplomata americano em uma roda com alguns colegas brasileiros presentes em Tunis: "Se vocês quiserem mandar na internet, façam a sua. A que está aí é nossa. Queria ver se vocês estariam discutindo isso se Jon fosse vivo."
O "Jon" em questão era um dos acadêmicos mais respeitados da comunidade científica americana. Por 30 anos, desde a criação da internet, em 1969, Jon Postel reinou sozinho como síndico da rede. "O debate entre ONU e Estados Unidos acontece agora, mas no passado o monopólio técnico da rede não era de um país, mas de uma pessoa", afirma Demi Getschko, um dos pioneiros da internet brasileira. "Como os poucos que conheciam a rede o respeitavam e o resto não tinha nível técnico para sequer conversar com ele, ninguém nunca tirou esse controle de Postel."
Professor da Universidade da Califórnia, Postel foi quem decidiu que cada país deveria ter seus sites locais com uma terminação em duas letras. Toda mudança nos programas de gerenciamento da rede tinham seu aval e os 13 computadores que regulam o tráfego da internet, os chamados servidores-raiz, obedeciam suas ordens. Foi assim até 1998, quando um ataque do coração o matou, aos 55 anos.
O que historicamente era o trabalho de um único indivíduo se transformou na tarefa de uma organização com orçamento anual de 20 milhões de dólares, a Icann, sigla em inglês para Corporação da Internet para Designação de Nomes e Números, cuja autonomia é objeto das discussões que começaram hoje em Tunis. Mesmo que estivesse vivo, Postel não teria mais como gerenciar as grandes decisões da rede sozinho. "Mas eu duvido que a ONU iria fazer do controle da infra-estrutura da rede esse cavalo de batalha caso Postel estivesse vivo", afirma Getschko.