Tecnologia

O pedido da Arm que Cristiano Amon, da Qualcomm, chamou de "ultrajante"

Conflito judicial entre as gigantes da tecnologia pode redesenhar acordos na indústria de semicondutores

Cristiano Amon: CEO da Qualcomm (Ethan Miller)

Cristiano Amon: CEO da Qualcomm (Ethan Miller)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 17h02.

Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 17h15.

Em um julgamento que pode redesenhar as bases contratuais da indústria de tecnologia, o CEO da Qualcomm, o brasileiro Cristiano Amon, afirmou que sua empresa sofreu prejuízos após clientes corporativos serem levados ao erro pela Arm sobre os termos de um acordo de licenciamento vital para o ecossistema eletrônico. O depoimento ocorreu nesta quarta-feira, 6, em um tribunal federal em Wilmington, Delaware, nos EUA, no contexto de um processo que entre duas importantes empresas do setor de chips.

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Amon destacou que a Arm criou uma "incerteza desnecessária" ao sugerir que a licença de uso de sua tecnologia pela Qualcomm expiraria em 2025, quando, na verdade, o acordo é válido até 2033. Ele mencionou que essa informação equivocada gerou preocupações em parceiros estratégicos, incluindo a Samsung, que depende de chips Qualcomm para seus smartphones. “Isso não foi bom para a Qualcomm, nossos clientes e, francamente, para a própria Arm”, afirmou o executivo.

O confronto legal entre Qualcomm e Arm, que já foram parceiras estreitas, intensificou-se após a compra da startup Nuvia pela Qualcomm, em 2021, por US$ 1,4 bilhão. A aquisição trouxe à tona uma disputa sobre os direitos de uso da tecnologia da Arm integrados ao portfólio da Nuvia. A Arm alega que o licenciamento prévio deveria ter sido renegociado após a compra e exige que a Qualcomm destrua os designs desenvolvidos com base no acordo original. Por outro lado, a Qualcomm defende que possui uma licença separada que cobre o uso da tecnologia da Arm sem necessidade de renegociação.

Analistas apontam que o desfecho do caso pode ter ampla repercussão, influenciando contratos de licenciamento e acordos de propriedade intelectual na indústria de semicondutores. Jim McGregor, da Tirias Research, afirmou que a decisão do júri “pode alterar os parâmetros contratuais da tecnologia daqui para frente”.

A Arm, sediada no Reino Unido e controlada majoritariamente pelo SoftBank, do Japão, argumenta que suas instruções de código são fundamentais para que softwares se comuniquem com processadores e que sua integridade no mercado depende da renegociação de acordos como o da Nuvia.

Sob interrogatório, Cristiano Amon rebateu as alegações, afirmando que a Qualcomm respeita compromissos de licenciamento válidos e que a exigência da Arm para a destruição dos designs é “ultrajante”. “É quase inédito que uma empresa de tecnologia exija a destruição de inovações adquiridas legalmente”, declarou Amon.

A disputa gira em torno da interpretação do contrato original. O júri, composto por cinco mulheres e três homens, deve começar as deliberações na quinta-feira, após os argumentos finais. O caso não apenas coloca em foco as relações entre duas gigantes do setor, mas também pode moldar os fundamentos legais para contratos de licenciamento na tecnologia por anos.

O processo está registrado como Arm v. Qualcomm, 22-cv-01146, no Tribunal Distrital dos Estados Unidos, Distrito de Delaware.

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