Mario Queiroz, vice-presidente de gerenciamento de produtos do Google (Rafael Cusato/INFO)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2011 às 09h25.
São Paulo - Os engenheiros do Google querem levar a web a um território inóspito: a tela da televisão. Em outubro, Sony e Logitech começaram a vender, nos Estados Unidos, os primeiros aparelhos com o Google TV. Eles trazem o sistema Android 2.2 e o navegador Chrome com plug-in Flash instalado, permitindo acessar a internet e executar aplicativos online enquanto se assiste a um programa. O desafio, no entanto, é enorme. A ideia de integrar a web à TV surgiu nos anos 90, mas, até hoje, ninguém conseguiu criar um produto capaz de conquistar espectadores e internautas. Mesmo o Google TV já enfrenta problemas. Pouco tempo depois da estreia, as principais emissoras americanas bloquearam o acesso aos seus sites. Os imprevistos não desanimam o brasileiro Mario Queiroz, vice-presidente de gerenciamento de produtos do Google e responsável pelo lançamento mundial da plataforma. Veja o que ele disse à INFO.
INFO - O Google TV será oferecido no Brasil?
MARIO QUEIROZ - Não posso falar sobre países específicos. O Google TV vai chegar aos mercados internacionais em 2011, mas ainda não definimos os lugares. No ano que vem, abriremos o código da plataforma. Também precisamos fazer a adaptação para outros idiomas. Depois disso, em teoria, não temos de procurar um fabricante para o Brasil. Com o código aberto, a empresa pega a plataforma, desenvolve o produto e vende. Veja o que aconteceu com o Android. Há dois anos, tínhamos um aparelho, um país, uma operadora e um fabricante. Abrimos o código e, quando chegamos à versão Eclair (2.1), o Android decolou. Acho que vai acontecer o mesmo com o Google TV. Estamos na versão 1.0. É um bom produto, mas ainda vai melhorar muito.
INFO - Muitas empresas já tentaram integrar a TV à internet e não tiveram sucesso. Por que vocês acham que vão conseguir?
QUEIROZ - Muitas tecnologias chegam na hora errada. Existem experiências com web e televisão há 20 anos, mas achamos que só agora temos os requisitos necessários para isso funcionar. A plataforma Android está madura, é muito forte em recursos para acesso à web e permite usar aplicativos. Colocamos o Chrome, com Flash, no Google TV. O chip da Intel usado nos aparelhos com Google TV tem capacidade de processamento de vídeo suficiente para oferecer bom desempenho numa tela grande. Temos também conteúdos em alta definição e TVs com telas espaçosas. Tudo isso é recente.
INFO - O que o Google TV tem de diferente de outros produtos que integram a web à TV?
QUEIROZ - Muitas das soluções de web na TV exigem alternar entre as entradas HDMI do aparelho. Com o chip, o Chrome e o Flash, trouxemos o sinal da televisão para junto da internet. Tudo fica na mesma entrada. Você pode estar vendo TV e facilmente faz uma busca. Se pesquisa CSI: Miami, vê dados sobre esse programa e quando ele é exibido, verifica se há algo gravado no seu DVR, descobre vídeos na web ou encontra alguma história sobre a série na rede. E pode programar seu DVR a partir daí.
INFO - O bloqueio das redes americanas prejudicou o projeto?
QUEIROZ - Houve bloqueio nos sites de algumas redes. Achamos que o dono da página é quem deve decidir se vai oferecer o conteúdo ou não pelo Google TV. Existem muitas empresas que não estão falando de bloqueio, mas de como usar esse novo meio para desenvolver conteúdo interativo, para estender a experiência. A Turner e a HBO, por exemplo, estão aperfeiçoando sites para serem vistos na televisão. As reações são diferentes. Estamos também abertos a uma conversa. A web é muito grande. Não são só dois ou três donos de conteúdo.
INFO - Existe alguma possibilidade de se remunerar o conteúdo?
QUEIROZ - O Google TV não é um serviço. É uma plataforma. A gente não está comprando conteúdo para oferecer através do Google TV. Estamos fazendo o que a gente acha que faz bem, que é criar uma plataforma de software e oferecê-la aos fabricantes. Não temos a intenção de licenciar e vender conteúdo.
INFO - Antes do Google TV, você participou do projeto do Nexus One. Por que não deu certo?
QUEIROZ - A nossa intenção nunca foi ter o telefone mais vendido. Queríamos demonstrar o que é possível fazer com o Android. Achávamos que a plataforma podia ir muito além do que até então víamos no mercado. Trabalhamos com a HTC para desenvolver um telefone que, na época, poderia estabelecer um novo marco de qualidade, desempenho e funcionalidade. Nosso objetivo é o sucesso do ecossistema Android, não de um telefone com o nome do Google. Usamos um canal experimental, apenas online, e escolhemos não fazer muito marketing, porque a intenção era mostrar o telefone para o mundo. Muito da tecnologia do Nexus One você vê hoje em outros telefones, tanto em software como em hardware.
INFO - O que vocês aprenderam com a experiência da loja online do Nexus One?
QUEIROZ - Aprendemos que o usuário ainda quer ter o contato físico com o telefone ao comprar. E que os consumidores queriam receber suporte técnico diretamente do Google. Foi por isso que lançamos um canal de suporte pelo telefone. Ajustamos os nossos planos na época, mas resolvemos nos concentrar no que a gente faz superbem, que é desenvolver software para esse ecossistema.
INFO - O que ainda falta ao Android?
QUEIROZ - Não posso dar um exemplo específico. Como tudo no Google, a velocidade é muito importante. Queremos melhorar a experiência do usuário na tela inicial, na lista de aplicativos, em cada software do Google. A abertura é muito importante e a nuvem também, porque boa parte do software está lá.
INFO - Existe uma guerra contra a Apple?
QUEIROZ - Não pensamos em guerra com rivais, mas no que podemos fazer para nos diferenciar. Nós queremos criar experiências inovadoras para o usuário.