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O escândalo de vazamento de dados do Facebook é muito pior do que parecia

Quantidade de dados pessoais vazados aumentou e a rede social agora diz que quase todos nós podemos ter sido afetados

 (Lucas Agrela/Site Exame)

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Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 6 de abril de 2018 às 07h00.

Última atualização em 6 de abril de 2018 às 10h56.

São Paulo – O escândalo de vazamento de dados do Facebook parece não ter mais fim. Tudo começou com uma reportagem do jornal americano The New York Times, que expôs o compartilhamento indevido de dados de usuários de um quizz de Facebook com a empresa de consultoria Cambridge Analytica. Inicialmente, o número era de 50 milhões de usuários. Agora, novos dados do próprio Facebook indicam que a quantidade de pessoas afetadas foi ainda maior: até 87 milhões de informações pessoais foram parar nas mãos da empresa, indevidamente.

No Twitter, a Cambridge Analytica disse que "licenciou" o uso de dados de 30 milhões de usuários do Facebook, e não de 87 milhões de pessoais. A companhia garante que não usou as informações para influenciar resultados na eleição presidencial americana de 2016, da qual Donald Trump saiu como vencedor–com ajuda da Cambridge Analytica.

Em 2013, quando os dados foram obtidos, um aplicativo para Facebook da empresa britânica Global Science Research, do pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan, coletou informações não apenas dos usuários registrados no seu quizz, mas também dos amigos dessas pessoas. Isso aconteceu devido a uma brecha que a rede social só corrigiu em 2014.

O aplicativo em questão era chamado "thisisyourdigitallife". Sua proposta era oferecer previsões sobre sua personalidade com base nas respostas obtidas a partir de um quizz. Ao fazer login com sua conta do Facebook, o app recebia diversos dados pessoais, como seus interesses e dados mais elementares da conta, como e-mail ou data de nascimento. À Cambridge Analytica, a empresa teria fornecido uma lista com dados como nomes, gênero, idade, local de residência e os resultados de personalidade projetados pelo quizz. Somente 270 mil pessoas teriam realmente usado o aplicativo, o que teria sido suficiente para dar acesso à companhia aos dados de milhões de pessoas.

Nesta semana, o Facebook informou a maioria dos seus quase 2 bilhões de usuários podem ter tido dados indevidamente acessados. O motivo seria que a empresa não teria dado a devida atenção à coleta de dados por desenvolvedores de aplicativos por conta da brecha de acesso a dados de amigos de usuários.

Zuckerberg chegou a admitir que não cuidar melhor dos dados dos usuários do Facebook foi um erro. Desde que tomou ciência do caso, no final de março, o CEO começou a coordenar uma série de medidas em prol da privacidade dos internautas, bem como da transparência da empresa quanto ao uso de dados. Há agora, por exemplo, uma ferramenta que permite desvincular vários aplicativos ao mesmo tempo da sua conta no Facebook. Como a rede social já é popular há mais de uma década, e logo buscou seu caminho para se tornar um recurso de login em diferentes serviços online, é possível que você tenha muitos apps conectados ao seu perfil e nem sequer se lembre disso.

O que complica a situação do Facebook nesse caso é que a empresa estava ciente do compartilhamento de informações entre o aplicativo de Kogan e a Cambridge Analytica. A empresa chegou a pedir a exclusão dos dados, mas o caso evidenciou que o Facebook não tinha como controlar os dados obtidos pelas empresas a partir de seus aplicativos nas redes sociais, muito menos proteger as pessoas do uso indevido de suas informações.

Em uma série de entrevistas concedidas nesta semana, Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, disse que a companhia não tem ciência de outros casos semelhantes ao da Cambridge Analytica–ao menos até o momento.

"Conforme encontrarmos mais Cambridge Analyticas, vamos continuar a encontrar uma maneira de compreensiva de colocá-las em evidência e garantir que as pessoas saibam sobre elas", disse Sandberg, em ao Buzzfeed News.

Em meio a esse caso, segundo a CNBC, a rede social interrompeu um projeto secreto no qual pedia a hospitais para compartilhar dados de pacientes para melhorar o tratamento médico. Em poucas palavras, a iniciativa daria ainda mais dados sobre as pessoas.

Zuckerberg já disse que está consertando o Facebook, aliás, essa foi sua resolução pública de ano novo meses antes mesmo desse caso da Cambridge Analytica vir à tona. No entanto, essa mudança de postura ainda pode levar mais de um ano para ser efetivamente completada.

O próximo passo para Zuckerberg agora é esclarecer o papel do Facebook na sociedade e questões de privacidade de seus usuários ao Comitê Judiciário e de Comércio do Senado dos Estados Unidos, o que está previsto para acontecer em 10 de abril. Além disso, a Austrália analisa se a companhia americana infringir leis de privacidade do país. Com a missão de melhorar a imagem do Facebook e a sua própria como CEO, Zuckerberg ainda diz ser a pessoa certa para conduzir a empresa e os membros da diretoria–diz ele–não pediram que ele deixasse o cargo em meio à crise.

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