Tecnologia

O chip é o novo hit da moda

Indústria dos wearables quer ir além dos acessórios e investir em roupas inteligentes

DESFILE DE ROUPAS TECNOLÓGICAS EM SP: um mercado que atrai gigantes como Google e Intel  / Divulgação

DESFILE DE ROUPAS TECNOLÓGICAS EM SP: um mercado que atrai gigantes como Google e Intel / Divulgação

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Isabel Seta

Publicado em 22 de novembro de 2016 às 15h03.

Última atualização em 23 de junho de 2017 às 15h24.

Em 2017 chegará às lojas americanas, ainda em versão de teste, o novo produto do Google. Não espere um aplicativo, um serviço de internet ou um carro autônomo. A mais recente aposta da empresa é um acessório que está por aí há mais de um século: a jaqueta jeans.

Desenvolvida em parceria com a fabricante de roupas Levi’s, a jaqueta do Google tem um charme a mais: parte de seu tecido funciona como uma tela touch, que entende o toque do usuário e pode realizar pequenos comandos quando conectada ao celular. O produto foi pensado especificamente para atender às necessidades de ciclistas urbanos, como mudar de música, atender uma ligação ou acessar um mapa sem precisar parar para tirar o celular do bolso.

O projeto, batizado de Jacquard, conseguiu avançar em um dos terrenos mais sonhados pelos entusiastas dos wearables (roupas e acessórios tecnológicos): criar um fio condutor embutido em materiais naturais, como algodão. Os fios eletrônicos desenvolvidos pelo Google são conectados a circuitos em miniatura, do tamanho do botão da jaqueta, capazes de captar o toque e entender diferentes gestos.

Criar tecidos eletrônicos que dispensem grandes baterias, fios e placas de circuito, e ainda mantenham as características de um tecido natural, é um dos maiores desafios para o desenvolvimento da indústria dos wearables, hoje concentrada em acessórios, como relógios inteligentes e câmeras, e pulseiras que medem dados biométricos para a prática de exercícios físicos.

O mercado

Segundo a consultoria de tecnologia CCS Insight, o mercado de wearables, que inclui roupas, produtos fitness, relógios e acessórios inteligentes, e ainda câmeras e dispositivos para realidade virtual e realidade aumentada, fatura cerca de 14 bilhões de dólares por ano, e deve chegar a 34,2 bilhões de dólares em 2020.

O segmento fitness detém hoje 50% do mercado de wearables, com produtos que vão desde as populares pulseiras da FitBit a camisetas e bermudas que medem a frequência cardíaca, taxa respiratória e queima de calorias.

Na próxima segunda-feira 28, a Nike lança nos Estados Unidos, por 720 dólares, um tênis, inspirado no filme De Volta Para o Futuro 2, que “amarra” sozinho. Quando calçado, o tênis se ajusta automaticamente ao formato do pé por meio de sensores de pressão. Para funcionar, ele conta com uma bateria que dura duas semanas e precisa ser recarregada por cerca de 3 horas.

O envolvimento da Nike e outras grandes empresas de tecnologia e de moda mostra que os wearables devem ter vindo para ficar. No Brasil, a C&A vai participar, nos dias 10 e 11 de dezembro, de uma maratona de desenvolvimento de softwares com esse tema. A ideia é conseguir criar, em 36 horas, um wearable -fitness ou não-, chamando atenção para esse mercado.

Para a consultora de inovação Ana Carolina Merighe, o sucesso dos produtos fitness está no fato de se apoiar no hábito do consumidor e no preço baixo (claro que há exceções, como uma camiseta “inteligente” feita com fibras de prata da Ralph Lauren, que custa 295 dólares). “As pessoas já usavam esses produtos, como medidores de atividade na academia, não tanto no dia a dia” diz.

Óculos de realidade virtual, wearables para exercícios e relógios inteligentes têm algo em comum. São todos acessórios, e há ainda uma certa indefinição acerca de sua praticidade e funcionamento. Em uma pesquisa da Forrester, por exemplo, muitos usuários alegaram
terem desistido de usar o AppleWatch por não verem necessidade dele além do smartphone.

“Hoje o wearable não é ni carne, ni pesce, como costumamos dizer na Itália”, afirma Alessandro Colombo, diretor do Instituto Europeu de Design de Florença. “Queremos ir além.”

Trajes tecnológicos

As roupas inteligentes, obviamente, não têm esse dilema. Necessárias elas são. Se vão servir a fins tecnológicos, é outra história. A estilista americana Becca McCharen é uma das vozes mais ativas a defender um futuro promissor para peças de vestuário conectadas.

Suas criações, que misturam moda e tecnologia, já apareceram na Semana de Moda de Nova York. Para ela, as vestimentas deveriam agir como ferramentas para o corpo, ajudando-o, melhorando sua performance e conectando-o ao que quer que seja.

Um de seus projetos mais recentes é o chamado “Sports Bra”, desenvolvido em parceria com a Intel. Trata-se de um top para fazer exercício que ao identificar, por meio de sensores, um aumento na temperatura do corpo, abre pequenas “janelas” para aumentar a ventilação.

A tecnologia por trás dessa e de outras criações de Becca é um pequeno chip da Intel, lançado no ano passado, com sensor, giroscópio, acelerômetro, conexão Bluetooh e memória flash. É ele que permite que o top responda a padrões de respiração e temperatura corporal.

O objetivo final da estilista é criar roupas capazes de entender sinais do nosso corpo e responder a eles. Mas, para isso, há ainda muito o que avançar em termos de materiais, tecidos e dispositivos.

“Os componentes eletrônicos não foram construídos para o corpo, não são macios, nem flexíveis. As baterias são enormes e pesadas”, disse a estilista em entrevista a EXAME Hoje, durante o WeAr, um evento realizado em São Paulo para discutir o futuro das roupas e dos acessórios tecnológicos.

“O que nós temos hoje no mercado são eletrônicos “ancorados” nos têxteis, que precisam ser retirados na hora de limpar ou lavar”, diz Silgia Costa, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e especialista em têxteis. Para ela, os maiores desafios em torno dos wearables estão em fazer com que eles sejam pequenos, flexíveis, condutivos, confortáveis e integrados ao têxtil.

“Pesquisas nessa área estão evoluindo para que as fibras do têxtil sejam condutoras. O objetivo é que uma fibra como o algodão,
por exemplo, que oferece conforto, possa conduzir eletricidade também”, diz.

A tecnologia Jacquard, do Google, é um exemplo. Outro é uma pesquisa das universidades de Lisboa, Exeter e Aveiro, em parceria com o Centro Belga de Investigação Têxtil, que conseguiu integrar eletrodos transparentes e flexíveis em materiais têxteis, criando um fio condutor. Na prática, isso permitirá incorporar dispositivos eletrônicos como GPS e baterias à roupa.

Imagine um vestido capaz de reagir ao ambiente, tornando-se mais ou menos chamativo; uma camiseta que muda de cor quando a pessoa está com febre; uma luva capaz de nos ajudar a falar com linguagem de sinais; ou um casaco que seca sozinho. Em breve, tudo isso deve estar no seu guarda-roupas.

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