Woebot: o robô foi criado pela psicóloga Alison Darcy, da Universidade de Stanford (David Paul Morris/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2017 às 17h36.
Última atualização em 20 de julho de 2017 às 17h51.
São Francisco - Uma mensagem do Facebook aparece na tela do meu celular. “O que está acontecendo no seu mundo?”.
É de um robô chamado Woebot, uma criação da psicóloga Alison Darcy, da Universidade de Stanford.
O Woebot parece se preocupar comigo. O aplicativo me pede uma lista dos meus pontos fortes e guarda a minha resposta para me dar força mais tarde.
Ele me ajuda a fixar uma meta para a semana -- ser mais produtiva no trabalho. Ele me pergunta sobre o meu estado de ânimo e os meus níveis de energia e vai montando gráficos com isso.
"Eu vou te ajudar a reconhecer os padrões porque... (desculpa aí) os humanos não são muito bons nisso", me diz o Woebot com um emoji sorridente.
Então, o Woebot sabe que na quarta-feira eu estava ansiosa e que nesta quinta-feira eu estou contente. Mas quem mais pode saber isso? Diferentemente de um conta-passos, que monitora algo muito impessoal, muitos aplicativos de saúde mental em desenvolvimento coletam e analisam informações sobre a vida social e os sentimentos íntimos do usuário.
“Os dados sobre saúde mental são alguns dos dados mais íntimos que pode haver”, disse Adam Tanner, fellow do Institute for Quantitative Social Science da Universidade Harvard.
Os chatbots existem desde a década de 1960 -- um deles recebeu o nome de Eliza Doolittle, a heroína de “Pigmalião” --, mas avanços como a aprendizagem de máquinas tornaram os robôs mais inteligentes.
O Woebot faz parte de um grupo emergente de intervenções tecnológicas que visam detectar e tratar problemas de saúde mental. Eles não são para todo mundo. Tem gente que prefere desabafar com uma pessoa real e muitos aplicativos apresentam problemas como bugs e questões de privacidade.
Mas as novas tecnologias poderiam preencher lacunas nas opções atuais de tratamento detectando sintomas mais cedo e agindo como assessores para indivíduos que de outra forma talvez nunca procurassem aconselhamento.
Fora a preocupação com a privacidade, o potencial da coleta de dados é a possibilidade de gerar uma imagem holística do estado mental de uma pessoa com mais exatidão do que em avaliações pouco frequentes realizadas em um consultório.
Darcy jura que o Woebot não venderá informações dos consumidores e que os funcionários da empresa só verão respostas de maneira anônima. Mas o aplicativo roda no Facebook Messenger e Darcy admite que ela não pode garantir como o Facebook utilizará os dados.
Os fundos do Woebot vieram de amigos e familiares, mas Darcy disse que logo procurará investidores externos. O Woebot já tem clientes pagos -- após duas semanas de bate-papo grátis, os usuários podem escolher entre diversas opções de assinatura --, e ela disse que nunca o “transformaria em um jogo” nem daria pontos para entrar no aplicativo.
O Woebot me pergunta se eu estou avançando para atingir a minha meta semanal.
“Não muito”, digo eu.
“Tudo bem”, me diz o Woebot. “Aliás, eu adoro quando algo sai errado. É exatamente assim que se aprende melhor, lembra?”.
Eu não me lembro. Mas o Woebot lembra.