Tecnologia

Nokia, pets e idosos: os segredos da Multilaser para chegar aos R$ 4 bi

A companhia brasileira dobrou de tamanho nos primeiros nove meses de 2021 e busca novos mercados para manter o ritmo de crescimento de receita e lucro

Multilaser: salto na receita foi de 99% de janeiro a setembro de 2021 (Germano Lüders/Exame)

Multilaser: salto na receita foi de 99% de janeiro a setembro de 2021 (Germano Lüders/Exame)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 12 de novembro de 2021 às 05h55.

Última atualização em 12 de novembro de 2021 às 19h12.

Em apenas nove meses do ano de 2021, a receita líquida da Multilaser praticamente dobrou. O valor que era de 2,01 bilhões de reais de janeiro a setembro de 2020 passou para 4,03 bilhões de reais no mesmo período neste ano. O segredo do sucesso da Multilaser é a diversificação de produtos e marcas. A empresa comercializa hoje cerca de 5 mil produtos sob 25 marcas próprias e outras nove globais. Entre elas, está a marca Nokia, viabilizada por uma parceria com a finlandesa HMD Global desde o ano passado.

A divisão de smartphones foi a que representou o maior salto no faturamento da companhia. Ela saiu de 683 milhões de reais nos nove primeiros meses de 2020 para 1,84 bilhão de reais neste ano. Só no terceiro trimestre de 2021, a unidade de negócios faturou 643 milhões de reais.

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Os dados do balanço corporativo da Multilaser ainda mostram efeitos relacionados ao trabalho remoto. A área de tecnologias e materiais para escritórios subiu 44,4% no acumulado do ano e é responsável por 1,16 bilhão de reais da receita da companhia.

O lucro líquido também está em alta no ano. Enquanto a receita subiu 99,6% de janeiro a setembro, o lucro saltou 129%, atingindo 621 milhões de reais. Só no terceiro trimestre de 2021, o lucro foi de 225 milhões de reais, valor próximo dos 271 milhões de reais que foram registrados como lucro em nove meses do ano anterior.

Como fatores que foram importantes para os resultados expressivos da companhia neste ano estão a aposta na linha de smart TVs com a marca Toshiba, o lançamento dos notebooks da marca Ultra no varejo, os produtos para pets da Mimo e os já citados smartphones Nokia. No entanto, o cenário econômico também ajudou a equilibrar os preços e estabilizar as vendas, uma vez que o dólar manteve menor volatilidade entre os meses de julho a setembro.

Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser

Alexandre Ostrowiecki: CEO da Multilaser passou a integrar a lista de bilionários brasileiros em 2021 (Multilaser/Divulgação)

Para manter o equilíbrio dos níveis de estoque adequados à demanda, a Multilaser tem utilizado recursos captados no IPO que realizou neste ano na B3, quando levantou 1,9 bilhão de reais, para antecipar compras de fornecedores, um movimento importante para conter os efeitos negativos da crise global de semicondutores que afeta toda a cadeia de fornecimento de componentes.

“Diante da crise de semicondutores, antecipamos as compras, e ficamos quatro ou cinco meses antes da concorrência. Há fornecedores que já fecharam a compra de chips do ano que vem inteiro. A falta de processadores ainda é muito grande”, afirma Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser, em entrevista para a EXAME. “O frete internacional está estacionado na casa de 13 mil dólares, os componentes custam caro, mas ainda não vejo um alívio nos preços ou na demanda.”

Para continuar a crescer, a Multilaser reforçou neste ano a sua presença no segmento de pets. Em sua primeira aquisição após o IPO, em agosto, a empresa comprou a Expet, conhecida pela venda de tapetes higiênicos, por um valor estimado de 8,6 milhões de reais. A segunda compra veio dois meses depois. No fim de outubro, a Multilaser pagou 15 milhões de reais para tornar-se dona da Obabox, especializada na venda de eletrônicos via marketing digital e anúncios na TV aberta. A companhia vende, por exemplo, celulares para a terceira idade, mas tem expandido o escopo de atuação. “A Obabox tem algo muito interessante que é chamado Conecta, um ecossistema simples de produtos voltado aos excluídos digitais”, conta Ostrowiecki. A operação da companhia passa a ser incorporada pela Multilaser a partir de dezembro e o laboratório de Minas Gerais será mantido - mas sem a operação de faturamento.

A estratégia de ampliação dos negócios da Multilaser também conta com a otimização da sua operação fabril. A companhia anunciou no início do segundo semestre que iria investir, até o terceiro trimestre de 2022, o valor de 150 milhões de reais para aumentar a capacidade de produção das fábricas que ficam em Extrema (MG) e Manaus (AM). Em Minas Gerais, cerca de 100 milhões de reais serão alocados para permitir a fabricação de eletroportáteis e produtos da Expet. Já a fábrica do Amazonas passará a contar com montagem de câmeras e televisores.

Para a empresa avaliada em pouco mais de 9 bilhões de reais, o Brasil começa a ficar pequeno e a ampliação da presença internacional dos negócios já está no radar. A empresa começou a vender seus produtos fora do Brasil no ano passado, começando pelos vizinhos Uruguai e Argentina. A companhia busca distribuidores no México, Bolívia, Chile, Portugal e Angola. Ou seja, a proposta é vender produtos não só para países da América Latina, mas também para aqueles onde a população fala a língua portuguesa.

Para fechar o ano de 2021, a Multilaser prevê um quarto trimestre com prós e contras. “O consumidor está mais animado para sair e comprar em lojas físicas, há o 13º salário que é muito usado para compras, e existe um histórico de o quarto trimestre ser normalmente positivo para o nosso setor. Os contras são a inflação, o dólar alto e o desemprego. Isso pode minar a confiança do consumidor e reduzir a massa de consumo de eletroeletrônicos. No entanto, temos como missão vender produtos com preços competitivos e construímos uma marca que tem confiança do público, somos procurados por nossa oferta de produtos de boa relação entre custo e benefício”, diz Ostrowiecki.

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