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No caos do monopólio do Google, uma má notícia para a Apple

Analistas veem risco de queda de até 23% no lucro por ação da Apple caso acordo bilionário com Google seja desfeito

Apple: empresa pode ser afetada por decisões de monopólio do Google (EarnestTse/Getty Images)

Apple: empresa pode ser afetada por decisões de monopólio do Google (EarnestTse/Getty Images)

Publicado em 29 de julho de 2025 às 06h33.

A decisão sobre o monopólio do Google (GOOGL) pode acabar impactando a Apple (AAPL). Para analistas, o fim dos pagamentos do Google como buscador padrão representaria uma perda relevante na receita de Serviços da Apple e pressionaria seus resultados financeiros nos próximos anos.

A definição das penalidades, esperada para agosto de 2025, cabe ao juiz federal Amit Mehta. Ele já decidiu, em agosto de 2024, que o Google manteve monopólio ilegal nos mercados de busca online e publicidade digital. Agora, avalia os remédios sugeridos pelo Departamento de Justiça (DoJ) para corrigir os efeitos das práticas da gigante de tecnologia.

Entre as propostas mais radicais está a venda do navegador Chrome, considerado pelo DoJ um “canal crítico” de distribuição do tráfego de buscas. O órgão também quer impedir os pagamentos bilionários do Google a empresas como Apple e Samsung pela definição como buscador padrão — acordos que, segundo a Justiça, consolidaram a posição dominante da companhia no setor.

A Apple recebe aproximadamente US$ 20 bilhões por ano do Google para manter o buscador como padrão no Safari, Siri e Spotlight. Esse valor representa 20% da receita do segmento de Serviços e cerca de 5% do faturamento total da companhia. O corte no acordo, portanto, poderia gerar impacto significativo na estrutura de lucros da empresa, segundo análises do J.P. Morgan, Morgan Stanley e Jefferies, que alertaram que a perda dos pagamentos do Google pode reduzir de 2% a 23% o lucro por ação da Apple a partir de 2027.

Mudanças em debate

Além do fim dos pagamentos, o DoJ quer obrigar o Google a compartilhar seu índice de buscas com concorrentes. Caso as primeiras medidas não sejam suficientes, a agência propõe inclusive a venda do sistema operacional Android. O objetivo é que os remédios sejam “prospectivos”, evitando que o Google use sua posição no mercado de buscas para manter vantagem em áreas emergentes como inteligência artificial (IA).

Durante as audiências de maio, Eddy Cue, executivo da Apple, disse que a empresa já avalia alternativas. Ele mencionou planos para integrar serviços de IA como ChatGPT e Perplexity ao Safari e argumentou que a concorrência crescente no setor de buscas pode, por si só, reduzir a força do Google.

A decisão final também pode abrir espaço para novos competidores. Empresas como OpenAI e Perplexity demonstraram interesse em acessar dados do Google ou até disputar a compra do Chrome, caso ele seja colocado à venda. Analistas do Jefferies destacam que a fragmentação do ecossistema do Google poderia beneficiar rivais menores e impulsionar negociações mais agressivas de empresas como Microsoft para ocupar o espaço deixado pelo buscador.

O Morgan Stanley avalia que um cenário com múltiplos concorrentes no setor de buscas pode acelerar a monetização da Apple em serviços próprios, como a App Store e publicidade, uma vez que a empresa controlaria melhor a experiência do usuário em seus dispositivos. Já o JPMorgan reforça que a Apple teria maior poder de barganha para negociar acordos com diversos provedores de busca, como Bing, DuckDuckGo e outros, podendo diversificar receitas sem depender exclusivamente do Google.

Os bancos concordam que, no médio prazo, o aumento da concorrência traria um ambiente mais favorável para a Apple, que poderia explorar sua base de usuários do iOS — responsável por 30% das buscas nos EUA — para capturar novas oportunidades em IA e publicidade digital.

Cenário regulatório mais amplo

Além do processo de buscas, o Google enfrenta uma condenação em abril de 2025 por monopólio no mercado de tecnologia de anúncios digitais. A soma dos casos configura a maior ofensiva regulatória já registrada contra a companhia, que já indicou que pretende recorrer, o que pode prolongar o embate por anos.

Para a Apple, a redefinição da parceria bilionária com o Google exigirá estratégias alternativas de monetização, seja por meio de novas parcerias, do desenvolvimento de soluções próprias ou da expansão de publicidade no ecossistema iOS.

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