Nível do mar pode subir até 2 x mais do que o esperado
Em novo estudo publicado na Science, cientistas alertam que o degelo na Antártida tem mais influência do que se pensava na elevação do nível do mar
Revisão: cientistas alertam que o degelo na Antártida tem mais influência do que se pensava na elevação do nível do mar.
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Vanessa Barbosa
Publicado em 30 de março de 2016 às 18h02.
São Paulo – Um novo estudo publicado hoje (30) na prestigiada revista científica Science pinta um cenário ainda mais sombrio para um mundo em aquecimento. Nele, os cientistas alertam que o nível do mar pode subir até duas vezes mais que o esperado até o final do século.
A descoberta faz as estimativas preocupantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) parecerem conservadoras — no último documento de referência, os cientistas previram até um metro de elevação do nível do mar neste século.
Mas eles não anteciparam qualquer contribuição significativa do degelo na Antártida. Contudo, no novo estudo, os cientistas descobriram que uma vasta camada de gelo da região é menos estável do que se pensava anteriormente e que seu eventual derretimento pode aumentar os ricos para muitas cidades costeiras e nações insulares no mundo.
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Weddell Sea, Antártida: desintegração de grandes penhascos de gelo pode contribuir ainda mais para a alta do mar em todo mundo.
Anteriormente, os cientistas consideravam apenas o derretimento passivo do gelo marinho, nas camadas mais profundas, associado ao aquecimento da atmosfera e das águas do oceano, como fator determinante para elevação do nível do mar. Mas o novo trabalho considera a influência de “processos ativos”, como a desintegração de enormes penhascos de gelo sob influência do ar quente.
A boa notícia, segundo a pesquisa, é que uma redução agressiva das emissões de gases de feito estufa, vilões do aquecimento global, poderá limitar o risco de grandes perdas da camada de gelo da Antártida. A má é que, no cenário business-as-usual (sem medidas mitigatórias contra as altas emissões), a maré vai subir com mais violência.
"Seria um desastre para muitas cidades de baixa altitude. Por exemplo, Boston, nos EUA, poderá ver um aumento de mais de 1,5 metros no nível do mar nos próximos 100 anos”, exemplifica o cientista climático Robert Deconto, da Universidade de Massachusetts Amherst, que assina o estudo, junto de David Pollard, da Universidade Estadual da Pensilvânia.
A sentença severa já ameaça a existência de micronações, como as Maldivas, o país mais baixo e plano da Terra, e Kiribati, um pequeno país no Pacífico que estuda a ideia radical de mudar toda a sua população para uma nova ilha.
1. Para eles, o desafio da sobrevivência já começouzoom_out_map
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São Paulo - Ao longo dos últimos 20 anos, o nível dos mares subiu uma média de 8 centímetros como resultado do aquecimento das águas e do derretimento das geleiras. Até o final deste século, ele pode aumentar em um metro ou mais, segundo previsões do último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal referência científica no assunto. Essa alta reserva um futuro sombrio para muitas cidades costeiras e nações insulares no mundo e coloca mais de 40 milhões de pessoas em situação de risco. A sentença severa já ameaça a existência de micronações, como as Maldivas, o país mais baixo e plano da Terra, e Kiribati, um pequeno país no Pacífico que estuda a ideia radical de mudar toda a sua população para uma nova ilha. Não por acaso os líderes destes pequenos Estados insulares representam algumas das vozes mais apaixonadas, firmes e exigentes nas discussões da COP 21, a conferência mais importante sobre clima da ONU, que acontece em Paris. Afinal, se o mundo não chegar a um acordo capaz de frear o ritmo das mudanças climáticas, estes micropaíses serão os primeiros a sofrer as piores consequências por estarem na linha de frente do perigo. Para eles, o desafio da sobrevivência já começou. Veja nas imagens.
Um micropaís no meio do Oceano Índico é uma vítima fácil para o aumento do nível do mar. No último século, as água já subiram 20 centímetros em algumas partes do país. De acordo com o levantamento da Ong Co+Life, uma elevação brusca poderia varrer do mapa esse paraíso de praias de areia branquinha, palmeiras e atóis de corais. Temendo o pior, o governo local já estuda comprar um novo território para o seu povo.
Pequeno país insular localizado a leste da Papua-Nova Guiné, no Oceano Pacífico, as pacatas Ilhas Salomão ganharam o noticiário mundial em fevereiro de 2013, após serem atingidas por um tsunami que matou cinco pessoas. Embora possa parecer pontual, a tragédia é a face mais radical de um drama vivido diariamente pela população local, formada por pouco de mais de 500 mil habitantes. Comunidades inteiras estão se realocando para evitar catástrofes a medida que a maré sobe. As ilhas com altitudes mais baixas são as mais atingidas.
Se nos dias de maré alta, a população das Ilhas Marshall já sofre com os danos da invasão da água salgada, uma alta brusca de quase um metro até o fim do século é uma sentença de morte para a região. O mar já cobriu parte do território e está erodindo a costa, enquanto secas e cheias castigam ainda mais o arquipélago, formado por 29 atóis e ilhas de corais entre a Austrália e o Havaí.
Outro pequeno país insular que pode estar com os dias contados é Kiribati, um arquipélago formado por 32 atois no Oceano Pacífico. Com o aumento do nível do mar circundante, o presidente de Kiribati, Anote Tong, prevê que seu país provavelmente se tornará inabitável dentro de 30 a 60 anos. Ele está atrás de um novo lar para os 100 mil habitantes da região, que tem sofrido com a invasão de água salgada que prejudica a agricultura local. Durante discurso na COP 21, em Paris, Tong agradeceu publicamente a nação de Fiji por ter concordado em receber o seu povo se o pior acontecer.
Na arena internacional, o pequeno conjunto de nove ilhas localizado no oceano pacífico, entre a Austrália e o Havaí, é um dos que mais trabalha para se fazer ouvir em meio aos interesses de grandes nações nas negociações climáticas. Com área de 26 km², o minúsculo Estado corre o risco de submergir diante do aumento do nível do mar. Nos últimos anos, as inundações constantes já vêm atrapalhando a produção de cultivos locais e a obtenção de água potável.
Nação insular localizada no Oceano Índico, as Seicheles são constituídas por vários arquipélagos localizados a noroeste de Madagáscar. Com uma população de 87 mil habitantes, foi uma das primeiras nações a ligar o alarme global sobre o impacto das alterações climáticas e da consequente ameaça da elevação do mar para pequenos países insulares.
Densamente povoado, a região do Delta do Mekong, uma das mais férteis do Vietnã, pode tornar-se vítima das mudanças climáticas. Um aumento do nível do mar inundaria rapidamente as fazendas de camarões, os vilarejos e os cultivos agrícolas, que garantem trabalho e sustento para os moradores locais. Segundo previsões mais pessimistas, até 2100, o mar engolirá 5% do território e 7% das terras agrícolas.
Bangladesh é um país com poucas elevações acima do nível do mar, com grandes rios em todo seu território situado ao sul da Ásia. A estimativa é que 120 milhões de pessoas que vivem no delta do Ganges estão ameaçadas pela elevação do nível do mar. Os desastres naturais como inundações, ciclones tropicais, tornados e marés em rios são normais em Bangladesh todos os anos.