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Netflix prepara seu golpe mais duro contra o setor de TV a cabo

Serviços mais tradicionais de TV por assinatura estão perdendo assinantes, enquanto o streaming cresce a cada ano

Netflix: serviço de streaming está prestes a ultrapassar as assinaturas de TV a cabo nos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

Netflix: serviço de streaming está prestes a ultrapassar as assinaturas de TV a cabo nos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

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Rodrigo Loureiro

Publicado em 28 de julho de 2020 às 13h37.

Última atualização em 1 de agosto de 2020 às 16h13.

A Netflix está cada vez mais próxima de se tornar o principal serviço de TV a cabo por assinatura nos Estados Unidos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Variety, a plataforma digital já conta com quase 70 milhões de usuários pagantes, enquanto todas as operadoras de TV a cabo no país somam 77,5 milhões de assinantes.

Quando isso acontecer, será um golpe duro para um setor que dominou a audiência americana durante anos e agora precisa de adequar ao streaming. Para superar os números de assinantes de TV a cabo, a Netflix vem investindo pesado na produção de séries e filmes originais. Assim, a empresa consegue ao mesmo tempo atrair novos assinantes para o serviço e também manter os atuais clientes, que hoje têm uma variedade de novos serviços de streaming à sua disposição -- como o Amazon Prime, Disney Plus, Hulu e outros.

Os números entre as duas formas de entretenimento televisivo têm ficado cada vez mais próximos ao longo dos anos. Se a diferença atual é de pouco mais de 7 milhões de adeptos, ela já foi de 70 milhões em 2011, quando os serviços de TV a cabo tinham 94,5 milhões de assinantes e a Netflix contabilizava apenas 21 milhões de usuários pagantes.

O que é possível observar ainda é que, enquanto a Netflix crescia vertiginosamente ao longo da última década, o número de assinantes de TV a cabo manteve-se estável entre 2011 e 2016, com queda de pouco mais de 2,3% no período. No mesmo intervalo de anos, o serviço digital mais do que dobrou seu número de assinantes, chegando a 49,4 milhões.

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O crescimento é inegável. Somente nos últimos seis meses, a companhia de Los Gatos adicionou mais 26 milhões de novos assinantes a sua base. A pandemia do novo coronavírus impulsionou este aumento. “Houve um avanço significativo na adoção dos serviços, levando a um enorme crescimento na primeira metade deste ano”, informou a companhia em seu relatório financeiro do segundo trimestre deste ano.

O que também explica o crescimento da Netflix foi investimento em mais conteúdo original para não se tornar uma refém das produções de emissoras americanas. Mais conteúdo próprio significa independência em relação às emissoras e até uma economia nos gastos com direitos de transmissão de conteúdo alheio.

Se o assunto é dinheiro, o preço é um fator decisivo. Enquanto a mensalidade cobrada por serviços de TV a cabo pode ultrapassar os três dígitos dependendo do pacote e da operadora escolhida, uma assinatura mensal da Netflix, por exemplo, varia entre 21,90 até 45,90 reais, sendo possível dividir a mesma conta com até quatro pessoas ao mesmo tempo.

Este movimento migratório observado no mercado americano se reflete no Brasil. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que o mercado de TV paga (mas que não contabiliza streaming) perdeu 1,7 milhão de assinantes em 2019 – mais de 10% de sua base. O setor terminou o ano com 15,7 milhões de assinantes.

As emissoras abertas também estão sofrendo. Em junho, a audiência de serviços de streaming como Netflix, Amazon Prime Video, Globoplay, entre outros, só foi menor do que a registrada pela Globo durante a faixa comercial (das 7h às 0h). A emissora obteve uma média 32,6% de participação neste horário, enquanto as plataformas de conteúdo online tiveram 15%.

Em outras palavras, isso significa dizer que a cada 100 televisores, pelo menos 32 estavam sintetizados na Globo e outros 15 estavam conectados aos serviços de streaming. Record, SBT e Band tiveram medias de 12%, 10,8% e 3,2% respectivamente. As informações foram obtidas pelo colunista Ricardo Feltrin, do UOL.

Acionistas da Netflix não satisfeitos

Os últimos anos marcaram um crescimento exponencial dos negócios da Netflix. A companhia que tem ações listadas na Nasdaq desde 2004 chegou até mesmo a sustentar a fama de ser a queridinha dos investidores de Wall Street. Os resultados do primeiro trimestre deste ano, quando a receita da empresa aumentou 27% no período animaram ainda mais os acionistas.

O problema é que todo este entusiasmo não se repetiu no segundo trimestre deste ano. Mesmo com lucro líquido de 720 milhões de dólares (1,59 dólar por ação) – bem superior aos 271 milhões de dólares (0,69 dólar por ação) registrados no mesmo trimestre de 2019 –, o resultado ficou abaixo das expectativas do mercado que ansiavam por ganhos de 1,82 dólar por ação.

As expectativas frustradas levam o mercado a desvalorizar a companhia no pregão após a divulgação do balanço dos meses de abril, maio e junho. Os papeis da empresa chegaram a cair 8,17% e fecharam em queda de 6,52% na Nasdaq. Nem mesmo ao aumento de 10 milhões de clientes ajudou a segurar as perdas. Uma prova de que nem a Netflix pode agradar a todos.

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