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Nadando contra o suco, Rodrigo Góes viciou as marcas em falar sobre saúde

Com vídeos que acumulam milhões de visualizações, o nutricionista se tornou viral ao questionar o uso de esteroides anabolizantes no fisiculturismo. Como consequência, ganhou a atenção das marcas e do público

Rodrigo Góes: criador de conteúdo já ultrapassou um milhão de seguidores nas principais redes em que atua (Instagram Rodrigo Góes / Edição EXAME/Reprodução)

Rodrigo Góes: criador de conteúdo já ultrapassou um milhão de seguidores nas principais redes em que atua (Instagram Rodrigo Góes / Edição EXAME/Reprodução)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 18 de setembro de 2023 às 11h41.

Última atualização em 18 de setembro de 2023 às 12h08.

É natural ou “fake natty”? A expressão que tenta diferenciar quem são os “falsos naturais” do fisiculturismo vem crescendo nas redes sociais, e o homem que a inventou carrega o termo como uma missão. Em menos de um ano, o nutricionista Rodrigo Góes acumulou 140 milhões de visualizações no YouTube gravando vídeos que apontam quais influenciadores e celebridades fazem uso de esteroides anabolizantes – tudo com um equilíbrio de humor e informação. Todos os bombados e bombadas estão na mira: seus vídeos mais famosos são analisando as fotos e vídeos da influenciadora Virgínia e do padre Marcelo Rossi, respectivamente. Se eles são “fake natty” ou não, cabe a Góes decidir até o final do vídeo. 

Percebi que os esteroides anabolizantes estavam sendo romantizados nas redes sociais e quis fazer algo sobre isso”, explicou o nutricionista, que já competiu como fisiculturista natural. “Decidi misturar o inglês no meio das frases, usar palavras como “suco” [tradução literal de juice, gíria em inglês para esteroides], para aliviar os tópicos mais pesados e também comprei um martelinho de juiz de tribunal”. Brincar com a língua inglesa veio naturalmente – o nutricionista fez o ensino médio nos Estados Unidos –, mas Góes estudou para aprender a editar vídeos e narrar “numa pegada mais jornalística”.

Ao contrário de influenciadores que se orgulham de não buscar informações, preferindo uma abordagem mais informal como uma “conversa de bar”, Góes garante que pesquisa bem sobre o tema antes de começar a gravar. Mas no geral não há roteiro, e os bordões mais famosos – “fake natty”, “o shape vicia”, “você faz amor com o suco, não é mesmo? e por aí vai – saem de forma espontânea.

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Virada de chave

As coisas mudaram de vez numa tarde como outra qualquer. Junto com a esposa, Bárbara Maltez, Góes atendia pacientes em uma clínica em Brasília. Ele havia acabado de sair de uma consulta quando percebeu o celular quente no bolso. O motivo? Um novo vídeo de Casimiro reagindo ao vídeo do nutricionista – e chamando ele de fenômeno – fez a tela lotar de notificações. “Foi nessa hora que a ficha caiu”, relembra ele. O streamer carioca é um dos mais assistidos no Brasil, e é conhecido por reagir ao conteúdo de outros criadores em seu canal no YouTube.

Desde então, as visualizações não pararam de crescer para Góes – e as parcerias, também. Burger King, Paramount Pictures (para o filme “Tartarugas Ninjas”), Heineken e SportBets são apenas algumas das marcas com quem Rodrigo Góes colaborou ou deve soltar algo em breve. O fisiculturista já participou do “The Noite”, com Danilo Gentili; o podcast “Flow” e o “Tá na Área”, no Sportv, com o humorista Marcelo Adnet.

Se rendendo às redes

Com a onda de sucesso, o nutricionista -- que as vezes se parece com o desenho He-man, ao dar conselhos de saúde para as crianças --, teve de cancelar todas as consultas marcadas até o fim do ano. “É hora de focar no novo sonho”, ele resume a decisão. Mas, com uma pitada de orgulho na ponta da língua, não deixa de adicionar que os patrocínios e nova empreitada têm um impulsionador maior: a filha de dois anos do casal. “O dinheiro que eu ganhar vai ficar na poupança para eu comprar as coisinhas pra Yasmin”.

Góes entende a dimensão do setor que ele já atua. Para se ter uma ideia, segundo dados do Statista sobre o universo fitness do Brasil, mais de 30% dos brasileiros realizam atividades físicas no nível recomendado. Em relação as academias, os brasileiros estão no topo do ranking, sendo o 2º que mais frequentam academia do mundo.

Contudo, também tem consciência de que o mercado de influenciadores é um mar de oportunidades arriscadas, com altas chances de cancelamento. Produzindo vídeos alertando sobre os perigos do “suco”, ele foi contra nomes grandes do bodybuilding que detalham suas rotinas de exercício e alimentação restrita para milhões de seguidores, mas restringem informações sobre o uso de esteroides anabolizantes.

Os criadores de conteúdo de fisiculturismo normalmente também têm parcerias com marcas de suplementos que dominam o mercado nacional, como Growth e Max Titanium, dando mais motivo para esconder o uso. Respeito os fisiculturistas, mas quero evitar que a nova geração entre nesse mundo, que muitas vezes, é um caminho sem volta”, disse. “É importante frisar que não existe forma segura de usar esteroides. O médico só faz controle de danos, porque esses medicamentos são para quem realmente precisa, e não fins estéticos”. 

O nutricionista também tem de tentar crescer num mercado que se apoia em patrocínios com marcas, o famoso “publi”. Poderia ser um desafio tentar alinhar as ofertas a quem o assiste – o mesmo público de quem ele acusa de “fake natty” – , mas o sucesso de Góes nas redes sociais fala mais alto.

Além da marca de camisetas Insider, em breve, o nutricionista vai fechar parceria com uma marca de suplementos. “Foi difícil encontrar porque não quero pessoas que preguem o uso de esteroides anabolizantes na marca”, disse. Góes resume que, apesar dos desafios, tudo está dando certo, mas que ele definitivamente está nadando contra a maré – e ela é feita de suco, não é mesmo?

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