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Na Tailândia redes sociais driblam a censura dos golpistas

Os jornalistas estrangeiros ainda informam sem dificuldades e os comentários contra e a favor do levante fluem nas redes sociais no país

Protesto contra o golpe de Estado na Tailândia (REUTERS/Erik De Castro)

Protesto contra o golpe de Estado na Tailândia (REUTERS/Erik De Castro)

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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2014 às 06h44.

Bangcoc - "Amanhã repetiremos o protesto, queremos que seja pacífico. Vamos divulgá-lo pelo Twitter e pelo Facebook", diz um tailandês a um círculo de jornalistas em meio a uma manifestação em Bangcoc contra o golpe de Estado na Tailândia.

David, o pseudônimo do manifestante, age com cautela, sabe que os militares detiveram vários dissidentes e intimaram a depor nos quartéis dezenas de acadêmicos e políticos, incluindo a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra.

A junta militar, que tomou o poder do governo civil em um golpe de Estado no dia 22 de maio, mantém censuradas a TV e o rádio, incluindo a emissão de canais internacionais como a "BBC" e a "CNN".

No entanto, ao contrário de outros regimes militares onde os primeiros passos são expulsar os correspondentes e pôr uma mordaça na internet, na Tailândia os jornalistas estrangeiros ainda informam sem dificuldades e os comentários contra e a favor do levante fluem nas redes sociais.

"Quero um governo eleito nas urnas", "por favor, ajudem a Tailândia" ou "Como pode a Tailândia ter estabilidade com tantos golpes de Estado?", são algumas das mensagens que podem ser lidas no Twitter.

Internet e telefones celulares também foram decisivos nos protestos da Revolução Açafrão em Mianmar em 2007 e na Primavera Árabe, que disseminou a rebelião civil no norte da África e no Oriente Médio com a ajuda das redes sociais.

Embora os líderes dos "camisas vermelhas", partidários do governo deposto pelos militares, estejam presos, o coletivo se mantém ativo na rede, onde critica o chefe do exército e líder da junta militar, Prayuth Chan-ocha.

"Onde está a justiça? A primeira-ministra escolhida pelo povo não pode substituir um funcionário, mas os militares podem substituir o chefe da polícia com a velocidade de um raio", critica no Facebook a Aliança contra a Ditadura e para a Democracia (UDD), nome oficial dos "camisas vermelhas".

Os ativistas se referem ao fato de que o Tribunal Constitucional forçou a renúncia de Yingluck há três semanas pela troca de um alto funcionário que considerou "inconstitucional", enquanto o exército exonerou toda a cúpula da polícia no fim de semana passado.

O chefe do exército já afirmou que vigiarão as redes sociais e advertiu aos ativistas que serão julgados de acordo com a rigorosa lei marcial declarada em 20 de maio.

"Por favor, mantenham a calma e sejam pacientes, como sempre foram. Este país esteve em crise durante nove anos", disse Prayuth em cerimônia após receber o aval do monarca.

O general justificou o pronunciamento militar com o risco de um recrudescimento da violência entre grupos de manifestantes pró e contra o governo interino após meses de protestos antigovernamentais que causaram 28 mortes e mais de 800 feridos.

Os jornalistas estrangeiros, além de muitos nacionais, puderam em geral informar sobre a situação na Tailândia, embora a tensão aumente, sobretudo nos protestos em Bangcoc contra o golpe militar.

No dia 27 de maio, os militares emitiram várias mensagens contra a imprensa estrangeira no protesto que reuniu centenas de dissidentes no Monumento da Vitória, onde por alguns momentos o número de repórteres quase superou o de manifestantes.

"Olhem para os jornalistas em sua frente, são estrangeiros que pegarão seu dinheiro e depois irão embora", exclamou um soldado pelos alto-falantes montados em um caminhão militar.

"Agora há mais jornalistas que manifestantes. Por favor, vão embora. Nos vemos amanhã", acrescentou o soldado, quando as centenas de ativistas que haviam se reunido começavam a se dispersar, antes do toque de recolher, que rege das dez da noite às cinco da manhã.

A crise da Tailândia remonta ao levante de 2006 contra Thaksin Shinawatra, irmão de Yingluck que vive no exílio para evitar uma condenação de dois anos de prisão por corrupção. 

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