Musical.ly: o app surgiu em 2014 como um aplicativo para dublagem - assim como o Dubsmash, outro sucesso da época (./Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de maio de 2017 às 18h19.
Responda rápido: qual rede social é o grande sucesso do momento entre os adolescentes? Se arriscou Instagram, Snapchat ou Facebook, você passou longe.
Atualmente, o aplicativo que mais chama a atenção dos jovens - e que é totalmente desconhecido para os pais - é o Musical.ly.
O serviço, que permite compartilhar vídeos curtos e com efeitos, já conquistou mais de 7,5 milhões de usuários no Brasil.
Mistura de várias redes sociais populares, o Musical.ly surgiu em 2014 como um aplicativo para dublagem - assim como o Dubsmash, outro sucesso da época.
A ideia é simples: coloque sua música preferida de fundo e finja que está cantando.
Antes de compartilhar o vídeo de 15 segundos, adicione efeitos especiais, de filtros a transições.
Para quem não quer gravar, mas só se divertir, a plataforma permite encontrar vídeos de humor, comportamento, maquiagem, dança e até gravações divertidas com animais de estimação.
A maioria deles foi gravado por meninas da mesma idade dos espectadores. Independente do assunto tratado, vídeos óbvios não têm vez na rede: os mais assistidos são produções com muitos efeitos visuais, que deixam o conteúdo mais dinâmico e leve de assistir.
Quem consegue o feito, viraliza rápido e começa a circular entre os mais de 200 milhões de usuários globais."Todo mundo que eu conheço estava usando o Musical.ly", conta a estudante Fernanda Popp, de 16 anos, que entrou na rede social em 2016.
"É um aplicativo diferente porque você tem de ser criativo do seu próprio jeito, deixar o aplicativo mais divertido para conquistar as outras pessoas. É disso que eu gosto numa rede social."
Segundo ela, muitos usuários que ficaram "órfãos" quando os aplicativo Vine e Dubsmash foram cancelados acabaram migrando para o Musical.ly.
Quem gosta de usar o Snapchat, outro app popular entre os jovens, também acaba se interessando. Essa onda fez o aplicativo se popularizar mais rapidamente entre os adolescentes e também entre celebridades, como a cantora Selena Gomez.
"A gente pensou em atrair os jovens com uma plataforma que reunisse música, dança e interação", diz o fundador e presidente executivo do Musical.ly, Alex Zhu, em entrevista à reportagem.
A partir de agora, Zhu tenta ampliar o público que se interessa pelo aplicativo - majoritariamente adolescentes e jovens, entre 13 e 23 anos, do sexo feminino.
"As pessoas estão começando a descobrir o aplicativo", afirma Karen Oliveira, diretora geral do app para a América Latina.
"As crianças e pré-adolescentes que já estão no aplicativo nos ajudarão a ampliar os usuários do Musical.ly".
Não é apenas de pessoas comuns que vive o Musical.ly. Influenciadores digitais, como os youtubers, são chamados de "musers" na rede social.
Eles se destacam por produzir conteúdos originais e muito bem editados. Alguns já chegaram à marca de mais de 1 milhão de seguidores.
A paulistana Luara Fonseca, de 12 anos, se tornou um dos fenômenos na rede. A estudante do sétimo ano já tem 5 milhões de seguidores e, geralmente, ganha mais de 250 mil curtidas em cada publicação.
"Gosto de fazer comédia, dublagem", conta a menina, que também é embaixadora da rede. "Só não canto porque não sei."
Questionada sobre a fama e o status de celebridade na rede, Luara se mostra surpresa: "É incrível".
Alguns "musers" também já perceberam que dá para ganhar dinheiro. Para isso, o app permite que usuários comprem moedas virtuais - vendidas em dólares - para adquirir e enviar presentes aos influenciadores durante as transmissões ao vivo.
Cada presente é revertido em um valor para o "muser", enquanto parte do dinheiro vai para o próprio Musical.Ly.
"As crianças mandam presentes, que aparecem na nossa tela enquanto fazemos um vídeo ao vivo", explica a "muser" Calú Spallicci, de 23 anos, e que é seguida por mais de 680 mil pessoas.
"Elas mandam para ter destaque e receber atenção, já que o muser pode conversar com a gente, mandar recados. Cria interação com os nossos seguidores."
O Musical.ly e os influenciadores, porém, não revelam quanto ganham.
Apesar do sucesso, a plataforma precisa superar alguns entraves para se consolidar.
O principal é garantir que os usuários mantenham o aplicativo instalado em seus smartphones - ele exige muita memória e consome muitos dados.
"Cada região possui desafios específicos", afirma Zhu. "Na América Latina, nosso desafio é a qualidade do sinal de internet e a memória mais restrita do celular."
Outro é garantir que a plataforma não seja usada para compartilhar vídeos de nudez, incompatíveis com a faixa etária dos usuários.
Para o analista da consultoria Nielsen, José Calazans, outra desvantagem do app é ser uma rede específica.
"O aplicativo não consegue criar outras funções, não pode se reinventar", diz.
"Isso torna difícil a competição. Se o Facebook criar uma funcionalidade parecida, usuários vão abandonar o Musical.ly."
A estudante Fernanda da Nóbrega, de 12 anos, deixou de usar o aplicativo recentemente por perder o interesse nos recursos.
"Ainda uso aplicativos como Snapchat e Instagram", conta a garota. "Seria muito mais prático ter funções como as do Musical.ly em plataformas maiores. Isso geraria muito mais espectadores."