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Mulheres relatam assédio de taxistas após uso de aplicativos

Empresas prometem soluções, mas, por ora, pouco pode ser feito para solucionar o problema

Taxi (Reprodução)

Taxi (Reprodução)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 18 de março de 2015 às 10h30.

Mulheres estão sendo assediadas após usarem aplicativos para chamar táxis no Brasil. O problema ocorre com os apps da Easy Taxi e da 99Taxis, que compartilham o número de telefone do passageiro com o taxista e vice-versa. As usuárias foram assediadas pelos motoristas, com ligações e envio de mensagens.

Após um mal-estar no trabalho, Marília, que pediu para seu sobrenome não ser divulgado, chamou um táxi pelo app do Easy Taxi. A estudante universitária de 21 anos  conta que passou a viagem toda em silêncio e chegou em seu apartamento sem problemas. Ao passar pela porta de casa, seu smartphone indicou uma nova mensagem: “Oi, Marília, você é muito simpática”. O remetente era o taxista que havia acabado de deixá-la em casa.

Após a mensagem ter sido ignorada, o motorista tentou contato com Marília insistentemente pelo WhatsApp, cuja conta é vinculada ao número de telefone dos usuários.

Marília entrou em contato com a Easy Taxi por e-mail, mas não obteve resposta. Resolveu então contar o caso em seu perfil no Facebook, mencionando nominalmente a página da empresa na rede social. Após o post ganhar repercussão, a companhia informou que o motorista havia sido bloqueado e que esperava que ela continuasse a usar o serviço.

Depois desse caso, Marília contou a INFO que deixou de usar o app da empresa, especialmente quando está sozinha. “Na Easy Taxi e na 99Taxis, o taxista pode fazer o cadastro e outra pessoa dirige o carro. Já aconteceu comigo de entrar no veículo e ver que a pessoa que estava ao volante não era a mesma da foto do aplicativo”, afirma a estudante universitária.

Após ser vítima de assédio de um taxista durante uma corrida, a analista de sustentabilidade, Ana Clara Leite, de 22 anos, tomou a iniciativa de criar um abaixo-assinado no Change.org, que ultrapassou 25 mil assinaturas. Ana pede uma forma de contato com táxis em aplicativos que não requeira o número do telefone do passageiro, justamente para evitar casos como o de Marília.

"Um taxista ficou me chamando de 'linda' o tempo todo", diz Clara."Uma outra vez, quando um taxista ficou fazendo perguntas invasivas e falando da vida sexual dele, dizendo várias baixarias, fiquei até com medo".

“Já vivemos num mundo em que estamos vulneráveis à situações de assédio o tempo todo e isso partir de um aplicativo do qual somos clientes e no qual disponibilizamos nossos dados é inadmissível”, disse Ana, em entrevista a INFO.

A analista diz conhecer outras mulheres que foram assediadas após usarem aplicativos para chamar táxis e que recebeu relatos de desconhecidas contando situações semelhantes.

“A petição, infelizmente, não abrange medidas para evitar o assédio durante a corrida, mas acredito ser um bom passo para chamar a atenção das empresas para o fato”, afirma Ana.

O lado das empresas

Procuradas por INFO, as empresas Easy Taxi e 99Taxis ainda não oferecem uma solução simples para evitar que o motorista tenha acesso ao número de telefone dos passageiros.

Dennis Wang, co-CEO da Easy Taxi, afirma que o cadastro dos motoristas que usam o app é “super rigoroso”, contando com levantamento de ficha criminal para garantir que o profissional seja idôneo e possa prestar um serviço de condução adequado. Além de oferecer um treinamento aos taxistas, indicando o que deve ou não ser feito ao atender um passageiro, a companhia tem a habilidade de bloquear o taxista durante um período indefinido. Wang ressalta também o sistema de avaliação de motoristas, em que os usuários do app podem recomendá-los ou não como bons condutores.

Tallis Gomes, CEO da Easy Taxi, informou que o aplicativo terá um sistema de comunicação por IP, como as chamadas de voz no WhatsApp, que entratá em vigor “até o meio do ano de 2015.

Por ora, o que os usuários do aplicativo da Easy Taxi podem fazer é enviar um e-mail para telefone@easytaxi.com.br pedindo para que o número de telefone seja removido de seu perfil e, dessa forma, não seja mostrado para os taxistas. Feito isso, a pessoa precisa ativar o modo de ligações privadas, disponível no iOS 8 por padrão, mas que varia de aparelho para aparelho nos sistemas Android e Windows Phone. Caso tenham problemas, os clientes da Easy Taxi podem contatar a empresa também pelo telefone 4003-2498, bem como pelo e-mail contato@easytaxi.com.br.

Já 99Taxis disse levar “ muito a sério a segurança e a privacidade dos seus passageiros” e que conta com uma atualização de seu aplicativo, prevista para abril deste ano, que promete resolver o problema do compartilhamento do número de telefone entre taxista e passageiro.

“Os passageiros terão a opção de ocultar seu número para os taxistas, garantindo sua privacidade”, garante a empresa. “Em seguida criaremos outros canais de comunicação do taxista para o passageiro sem a necessidade de ligar ou saber o número, através do próprio aplicativo”, informou a empresa, por e-mail. Veja como ficará o app após o update.

Justiça

Adriano Mendes, especialista em direito da tecnologia e sócio do escritório de advocacia Assis e Mendes, conta que é possível que uma mulher assediada por um taxista entre com ações cíveis ou criminais, dependendo do caso. “Em casos de temor ou ameaças, a vítima pode também fazer um B.O. na Delegacia. Alguns relatos de vítimas dizem que o principal receio ocorre porque o ofensor sabe, além do celular, onde a pessoa mora ou trabalha”, disse Mendes a INFO.

No caso de um assédio de um taxista vinculado a uma empresa como a Easy Taxi ou a 99Taxis, quem é acionado judicialmente é somente o condutor. “É normal as pessoas pretenderem responsabilizar também as empresas, mas a relação de consumo entre aplicativo e usuário não pode ser interpretada tão extensivamente. Somente haverá responsabilidade da empresa se, após apuradas denúncias, esta não descadastrar ou tomar medidas contra um mesmo motorista reincidente”, afirmou Mendes.

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