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Motorola inventou o celular mas vinha apanhando até ser comprada

A compra da Motorola pelo Google põe fim a uma história que teve momentos de glória mas terminou com a empresa em fraca posição no mercado

A Motorola tem três coisas que podem interessar ao Google: patentes, um negócio de celulares e outro de modems e decodificadores de TV a cabo (Montagem com imagens de divulgação)

A Motorola tem três coisas que podem interessar ao Google: patentes, um negócio de celulares e outro de modems e decodificadores de TV a cabo (Montagem com imagens de divulgação)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 15 de agosto de 2011 às 19h57.

São Paulo — Martin Cooper, um pesquisador da Motorola, pega o celular e liga para Joel Engel, da Bell Labs. A cena seria trivial se não tivesse acontecido em 3 de abril de 1973, seis anos antes de a primeira rede celular entrar em operação comercial. A Motorola acabava de vencer a corrida contra a Bell pelo desenvolvimento do primeiro telefone móvel realmente funcional. E Cooper deu a notícia ao rival em grande estilo.

Nas duas décadas seguintes, a Motorola teria papel fundamental no desenvolvimento e na popularização dessa tecnologia. A empresa liderou o mercado durante a era do celular analógico. Na metade dos anos 90, ela inventou o aparelho dobrável, do tipo flip. Seu StarTAC, o primeiro nesse formato, teve enorme sucesso.

Mas, com a digitalização das redes, a Motorola foi sendo deixada para trás por concorrentes como Nokia e Samsung, que foram rápidas em adotar as novas tecnologias e estabeleceram redes de distribuição mais eficientes. Desde a virada do século, a Motorola passava por altos e baixos e perdia importância no mercado. Entre 2007 e 2009, ela registrou prejuízos que somaram US$ 4,3 bilhões.

Em oitavo lugar

O último levantamento do Gartner Group, divulgado há poucos dias, aponta que a Motorola tem apenas 2,4% de participação no mercado mundial de celulares, número que vem caindo há vários anos. Ela ocupa o oitavo lugar entre os fabricantes, atrás de Nokia, Samsung, LG, Apple, RIM, ZTE e HTC. É uma posição muito modesta para quem já foi líder.

A compra pelo Google acontece sete meses depois de a Motorola ter sido dividida em duas: Motorola Mobility, a fabricante de celulares, e Motorola Solutions, que fornece equipamentos de comunicações de voz e dados para empresas. Aparentemente, a ideia de vender a divisão de comunicação pessoal já estava presente quando a separação foi arquitetada, no final de 2010. A operação foi realizada como uma espécie de spin-off da área de celulares.


Agora, resta saber o que o Google vai fazer com ela. As declarações de Larry Page, o CEO do Google, enfatizaram que o interesse maior do Google está no acervo de mais de 20 mil patentes da Motorola Mobility. Uma razão para a empresa descrever a aquisição dessa forma é evitar assustar parceiros que também fabricam celulares com Android, como Samsung, LG, HTC e Sony Ericsson. 

A visão predominante no mercado é que o Google está mesmo atrás das patentes, como diz oficialmente. “Essa aquisição é uma consequência da falta de sucesso do Google em adquirir patentes no último ano para otimizar seu potencial de inovação no mundo móvel” escreveu Fernando Belfort, analista de mercado sênior da Frost & Sullivan num comunicado distribuído à imprensa.

Kevin Burden, vice presidente de redes móveis da ABI Research, observa que o Google tem permanecido relativamente quieto diante das dificuldades enfrentadas pelos fabricantes de smartphones ao defender o Android das acusações de violação de propriedade intelectual. “Agora, essas empresas que licenciam o Android sentem que sua munição legal foi reposta. Mas a lealdade delas ao Google pode estar sob risco”, escreveu. 

TV a cabo e internet doméstica

Burden também levanta outro possível interesse do Google na Motorola. Ele observa que, apesar de enfrentar dificuldades nas áreas de celulares e tablets, a Motorola tem se saído bem como fornecedora de modems para acesso à internet e decodificadores de TV a cabo. A empresa promove uma estratégia de TV em qualquer lugar. O Google, ao contrário, não teve sucesso significativo com sua Google TV. “A união do Google com a Motorola pode dar, a ele, o conhecimento de que precisa para ser levado a sério e conquistar espaço na distribuição de conteúdo às residências”, escreveu Burden.

Fica a dúvida sobre quanto o gigante das buscas vai investir no negócio de celulares. É bom lembrar que o Google já tentou vender um smartphone com sua marca antes, o Nexus One, mas não teve muito sucesso. Se o interesse principal está mesmo nas patentes (e, quem sabe, na área de TV via internet), é até possível que a modesta participação da Motorola no mercado diminua ainda mais e se torne irrelevante. Martin Cooper, hoje com 82 anos, não ficaria contente.

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