Ebola (Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2014 às 09h22.
O Ebola matou centenas de pessoas em Serra Leoa, onde o vírus se espalhou como um rastilho de pólvora desde que uma curandeira local se prontificou a tratar a febre hemorrágica, atraindo, assim, os doentes da vizinha Guiné.
Esta fitoterapeuta de Sokoma, um povoado próximo à fronteira da Guiné, afirmava que podia curar o Ebola, confirmou à AFP Mohamed Vandi, principal responsável médico de Kenema, no leste de Serra Leoa, epicentro da epidemia.
"Doentes da Guiné cruzavam a fronteira para ser curados" por esta mulher, acrescenta. "Ela ficou infectada e morreu. Durante seu funeral várias mulheres dos arredores também foram infectadas", disse. As pessoas que compareceram ao funeral se dirigiram às colinas da região fronteiriça, provocando uma reação de mortes em cadeia, e seus posteriores enterros públicos propiciaram novos contágios.
O aumento preocupante de casos se transformou em epidemia quando no dia 17 de junho eles chegaram a Kenema, uma cidade multiétnica de 190 mil habitantes, já conhecida por ter registrado o triste recorde mundial de febre de Lassa, outra doença hemorrágica.
Apesar de sua experiência neste tipo de doença, o hospital local não conseguiu resistir à brutalidade do novo vírus. As fotos de enfermeiras falecidas presas nos quadros de avisos nas paredes do estabelecimento lembram os estragos causados pelo Ebola.
Doze enfermeiras figuram entre os 277 mortos registrados desde a primeira internação no hospital de Kenema. Outras dez enfermeiras foram infectadas, mas conseguiram se curar. O estabelecimento conta com a única unidade no mundo de isolamento contra a febre de Lassa, e agora possui um setor para o Ebola, construído às pressas.
"As enfermeiras mortas e as que sobreviveram não poderiam saber que seriam infectadas. Travamos uma nova batalha. O vírus do Ebola está aqui novamente", reconhece Vandi.
Meios precários
Responsável há mais de 25 anos pela sala de tratamento da febre Lassa, Mbalu Fonnie sobreviveu a esta doença, mas não ao Ebola.
Sua morte, a de outras duas enfermeiras e a de um motorista de ambulâncias provocou uma greve contra a má gestão do centro anti-Ebola. "Onde o vírus Ebola atinge pela primeira vez afeta uma porcentagem elevada das equipes de saúde", afirma Mohamed Vandi. "O vírus do Ebola é mortal e implacável. Com o mínimo erro ocorre um contágio".
O virologista Umar Khan faleceu em julho depois de ter salvado uma centena de vidas, e desde então ao menos nove enfermeiras morreram.
A unidade contra o Ebola conta com 80 camas, quase o dobro de sua capacidade. Os funcionários são voluntários e muitas enfermeiras se negaram a trabalhar nela. Algumas dizem ter trabalhado sem parar durante semanas cerca de doze horas por dia.
Emmanuel Karimu, marido de Rebecca Lansana, falecida em agosto, afirmou à AFP que sua esposa havia sido levada do serviço de maternidade a esta unidade após uma formação rápida de uma semana.
Certo dia, depois do trabalho, começou a ter febre e se submeteu a um teste que deu positivo. "Nesse mesmo dia a internaram na unidade contra o Ebola e faleceu quatro dias depois", contou Emmanuel Karimu, que acusa o hospital de não fornecer material de proteção adequado.
Desde então a formação dos funcionários melhorou consideravelmente, graças à ajuda das agências humanitárias mundiais e à Organização Mundial de Saúde (OMS), afirma o hospital.
Desde que uma curandeira local prometeu a cura das vítimas da epidemia, declarada no início do ano na Guiné, o vírus contagiou 848 pessoas em Serra Leoa, matando 365, segundo o último balanço da OMS.