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"Me senti envergonhada e muito invadida", diz cliente que sofreu assédio sexual por funcionário da NET

Mulheres relatam casos de assédio sofridos após atendimentos de serviços como NET e Vivo em suas próprias casas

Apps de mensagens (Reprodução/Facebook)

Apps de mensagens (Reprodução/Facebook)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2015 às 22h30.

Nessa terça-feira (26), depois de receber uma ligação da NET, a jornalista Ana Prado foi surpreendida com muito mais do que apenas a propaganda de um pacote de serviços: o funcionário que havia oferecido a promoção começou a enviar mensagens no WhatsApp dela sem sua permissão, alegando que teria pegado o número pessoal pela base de dados dos clientes da NET.

Em um relato no Facebook, a jornalista de 26 anos mostra as fotos da conversa entre ela e o atendente, que se recusou a excluir seu número do aparelho e mesmo sob ameaça de processo, disse que “teria o prazer de ganhar a causa”. O que ele não sabia era que a publicação de Ana seria vista por milhares de pessoas, inclusive tantas outras mulheres que já sofreram assédio sexual por técnicos e outros funcionários de prestadoras de serviços.

Hoje de manhã me ligaram da Net pra oferecer um pacote. Disse que não estava interessada, agradeci e desliguei. Agora o...

Posted by Ana Prado on Terça, 26 de maio de 2015

Ana conta a INFO que raramente atendia a ligações desconhecidas em seu celular. Era a primeira vez que algo desse tipo acontecia com ela. Após a publicação cobrando um posicionamento da empresa, sua maior surpresa foi ver a quantidade de meninas que também tiveram experiências parecidas com a dela, mostrando que, infelizmente, ela não é a única a ser assediada por técnicos ou funcionários de prestadoras de serviços.

Para piorar, os abusos relatados não acontecem apenas na tela do celular. Em novembro de 2013, Mariana precisou ligar para o marido e expulsar um técnico terceirizado da Vivo de sua casa, em São Paulo. Segundo a confeiteira de 26 anos, o funcionário estava realizando um reparo na internet quando pediu para usar o notebook da cliente, alegando que o notebook oferecido pela empresa havia sido roubado. “Eu perguntava o que ele estava fazendo e ele não me respondia. Ele pediu para testar meu computador e, quando me dei conta, ele tinha fechado minhas abas do navegador, abriu clipes do YouTube e olhou tudo o que eu estava acessando”, disse a INFO.

Mariana ainda conta que ao procurar a Vivo, a companhia afirmou que esse tipo de procedimento não estava de acordo com suas políticas, e que o adequado seria o técnico usar sua própria máquina e acessar as páginas apropriadas para realizar os testes necessários. A empresa chegou a ligar para a cliente para saber do ocorrido e saber se estava tudo bem. “As atitudes e o jeito com que ele falou comigo também me deixaram desconfortável. Depois disso, tenho medo de qualquer serviço do tipo e não recebo mais ninguém sozinha em casa”, afirmou a jovem.

Isadora é outro exemplo. A analista de mídia de 22 anos acabava de se mudar para São Paulo e havia solicitado a instalação dos serviços da NET em seu apartamento novo. “Logo que os técnicos chegaram, recebi uma mensagem em meu celular antes mesmo de o interfone tocar”, diz. “Achei estranho, mas imaginei que a NET teria compartilhado meu número com eles justamente para avisar se acontecesse alguma coisa.”

No entanto, alguns minutos depois de sair, um dos técnicos enviou a seguinte mensagem no celular da jovem: não poderia ir embora sem dizer que você é LINDA!!!! (sic). “Ao longo do dia, recebi outras mensagens do tipo ‘nossa, não vai me responder? não custa nada’ ou ‘vai me ignorar mesmo?’ Mais tarde, precisei pedir para minha colega de quarto entrar em contato com ele pois a senha da rede estava errada, e também pedi para dizer que ele parasse com aquilo”, diz Isadora a INFO.

Os casos de Ana, Mariana e Isadora são parecidos com o de muitas outras moças pelo país. Seja por WhatsApp, ligações telefônicas, e-mail ou até pessoalmente, a maioria dos assédios sexuais por parte de atendentes de empresas desse tipo acaba não sendo denunciada.

Um dos motivos para que atitudes como essas saiam impunes é a insegurança e o medo que as jovens sentem para enfrentar o agressor. É o caso de Isadora: “Lembro de ter ficado com muito medo já que ele tinha acesso a todos os meus dados e sabia onde eu morava”, diz. Além disso, muitas pessoas podem nem saber como proceder legalmente quando sofrem abusos desse tipo.

Segundo o advogado especialista em direito do consumidor, Rodrigo Ribeiro, a primeira medida a ser tomada nesses casos é ir até a delegacia mais próxima para registrar uma ocorrência – tanto contra a empresa, quanto contra o indivíduo que cometeu o assédio. “Em caso de assédio por mensagens, é importante que a vítima capture a tela em questão para registrar o número, ajudar a identificar o autor da mensagem e conectá-lo à companhia telefônica. A ação judicial pode alegar quebra de sigilo”, afirma Ribeiro a INFO.

Ao denunciar ou ao menos cobrar um posicionamento das empresas a respeito do assédio sofrido, é possível combater a impunidade para quem comete o crime. Mesmo nas redes sociais, Ana Prado conseguiu alcançar mais de 10 mil pessoas com seu relato, chamando a atenção da NET e de outras companhias para esse problema. Ao ser contatada pela companhia para obter um esclarecimento nessa quarta-feira (27), a jornalista afirma que a própria NET ainda não tinha conhecimento da quantidade de casos e nem da frequência com que eles podem acontecer - talvez justamente pela falta de denúncia.

Em compensação, a companhia parece estar engajada em combater o assédio sexual de vez por parte de seus colaboradores e parceiros. Ana conta a INFO que a diretora da ouvidoria da NET se ofereceu para levar a cliente até a delegacia da mulher mais próxima de seu trabalho para registrar um boletim de ocorrência, e também que a pessoa em questão era um funcionário terceirizado. “A empresa disse que não quer agir apenas civilmente – que seria apenas demitir o funcionário – como também quer agir judicialmente nesse caso”, diz.

A equipe da INFO também procurou a NET para obter um posicionamento. Em uma nota de esclarecimento divulgada pela companhia nessa tarde (27), ela afirma estar tomando “todas as medidas cabíveis para apurar, identificar e afastar sumariamente qualquer colaborador ou prestador de serviço que faça uso indevido de informações pessoais, confidenciais e sigilosas de seus clientes”.

É importante lembrar que uma abordagem como a feita pelo atendente nunca é e nem deve ser considerada como elogio. Além de invasão de privacidade, é assédio sexual, dois crimes claramente previstos pela lei brasileira. “Eu fiquei muito nervosa e demorei um pouco pra perceber o quanto eu me senti pequena e invadida com isso”, disse Mariana sobre o caso do técnico da Vivo. O mesmo disse Isadora, sobre as ‘boas vindas’ nada agradáveis em sua chegada a São Paulo: “Me deu um pouco de vergonha e fiquei me perguntando se dei alguma abertura para isso acontecer – e não, eu não dei! E me senti muito invadida.”

E as clientes de empresas de telefonia não são as únicas a presenciar esse tipo de abuso. Conforme reportagem da INFO por Lucas Agrela, em março desse ano aplicativos como EasyTaxy e 99Taxis receberam diversas denúncias de mulheres que sofriam assédios após usar o serviço, pois o número de celular de quem usava o app ficava registrado no aparelho do taxista. Após a repercussão desse problema, ambas as companhias passaram a oferecer opção para o usuário ocultar seu número de telefone.

De acordo com Ana Prado, a empresa afirma que seu caso servirá de exemplo para que essa falta de treinamento e de respeito nunca mais se repita nos atendimentos da NET. "Você tem que ter o evento para eles saberem que não devem fazer isso. E quem é vítima do assédio deve sempre denunciar", diz. 

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