Escritório da Lendico antes da pandemia: impacto econômico fez startup rever riscos (Lendico/Divulgação)
Thiago Lavado
Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 07h00.
Última atualização em 29 de janeiro de 2021 às 12h33.
Para quem vive de analisar riscos, 2020 foi um ano sui generis. Não bastasse os contornos de retomada econômica que já rondavam o país no início do ano, a chegada da pandemia adicionou mais um risco sistêmico a todas as startups.
Para a Lendico, fintech especializada em fornecer empréstimos pessoais e que atua no setor desde 2015, o período, com todas as incertezas que trouxe consigo, foi de análise cuidadosa para entender a operação diante de um novo cenário.
De acordo Marcelo Ramalho, que assumiu a presidência da empresa no final de 2019, o ano passado foi de "colocar o pé no freio", apesar do crescimento e expansão que vinha sendo a realidade até então.
"Restringimos mais as políticas, isso é normal. Houve aumento de risco, que todo mundo tentou entender e quantificar. No empréstimo pessoal sem garantia, que é o negocio da Lendico hoje, houve uma redução de demanda, e é difícil elucubrar as razões: pessoas em casa, gastando menos, cenário de incerteza tanto sobre renda, quanto sobre futuro", disse Ramalho, em conversa com a EXAME.
Apesar disso, entendido o cenário em meados do ano, a fintech voltou ao crescimento, desenvolvendo novos produtos.
Parte dos esforços foram para ampliar o trabalho no produto de empréstimo pessoal, que acontece de maneira totalmente digital — desde a entrega de documentação até a análise de crédito. De acordo com Ramalho, o ticket médio dos empréstimos fica em torno dos 10.000 reais, a uma taxa de juros de cerca de 5%, a depender da análise.
A outra parte ficou no desenvolvimento de um serviço de boleto parcelado, para ampliar acesso a consumo ao financiamento de produtos online. “As pessoas migraram para o consumo online, mas isso exige que você tenha alguns meios de pagamento”, disse Ramalho.
Ele se refere meios de pagamento já tradicionais no e-commerce, principalmente de parcelamento em compras online. A necessidade de cartão de crédito para parcelar compras é um impeditivo para muitos consumidores, que ficam divididos entre a dificuldade de acessar o cartão ou a obrigatoriedade de pagar à vista, via boleto bancário.
“É um produto que tem uma função de dar acesso ao consumo online. Para nós, é natural, mas não é uma realidade para um bom percentual da população, que está acostumada a ir na loja, falar com vendedor, negociar crediário. Eles ficaram restritos agora, com menor acesso”, explica Ramalho, sobre o boleto parcelado.
No ano passado, o boleto parcelado foi lançado à época de conseguir ser usado por empresas parceiras a tempo da Black Friday. Até a segunda-feira seguinte após a data, 300.000 solicitações foram feitas. Se aprovadas, elas somariam 25,7 milhões de reais.
A Lendico conta com 60 mil clientes atendidos em cinco anos de operação. Para Ramalho, o objetivo este ano é fazer crescer esse número e continuar analisando os riscos, para conseguir garantir mais empréstimos.
“Já entendemos o risco associado à pandemia e há uma perspectiva de vacina. Vamos tentar entender o impacto na economia uma vez que forem chegando ao fim as medidas que o governo tomou como concessão de benefícios, isenções e estímulo ao emprego. Queremos expansão e temos uma abordagem otimista para 2021”, afirma.