Tecnologia

'Kony 2012' divide internet entre apoio e polêmica

Alguns analistas do conflito consideram que a mensagem simplifica o problema e, inclusive, manipula informações sobre os meninos-soldados

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de março de 2012 às 20h37.

Washington - O vídeo 'Kony 2012', divulgado na internet para tornar conhecido pelo mundo o homem mais procurado de Uganda, Joseph Kony, virou um fenômeno de mobilização na rede com mais de 60 milhões de visualizações e o apoio declarado de famosos como Oprah Winfrey e George Clooney, além de ter colocado o nome 'Kony' entre os mais citados no Twitter.

A mensagem do documentário, criado pela ONG americana Invisible Children, é simples: Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), deve pagar pelas graves violações aos direitos humanos que é acusado, incluindo assassinato em massa, escravidão e sequestro de crianças para transformar os meninos em soldados e as meninas em empregadas e escravas sexuais.

Através da história de um suposto menino-soldado de Uganda, o vídeo de 29 minutos pede ao mundo para agir com o objetivo de encontrar Kony neste ano, procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) desde 2005 e que, supostamente, está escondido nas selvas da República Democrática do Congo (RDC) e da República Centro-Africana.

A Invisible Children comercializou um 'kit de ação' contra Kony - as vendas já foram esgotadas - e definiu 20 de abril como o dia para os cidadãos espalharem cartazes da iniciativa em suas cidades.

A grande aceitação do vídeo contrasta com o ceticismo e as críticas de alguns analistas do conflito, que consideram que a mensagem simplifica o problema e, inclusive, manipula informações sobre os meninos-soldados.

'O melhor que podemos fazer para reintegrar os meninos-soldados é humanizá-los, não apresentá-los como vítimas sem cérebro de uma máquina programada para matar', defendeu Mark Drumbl, professor de Direito da Universidade de Washington and Lee (Virgínia, EUA) e autor de um livro sobre os meninos-soldados.


A ONG foi acusada de usar a campanha como cortina de fumaça para os relatórios sobre irregularidades em suas atividades e a divulgação de uma fotografia em que os fundadores da organização posam com fuzis ao lado de membros do Exército Popular de Libertação do Sudão, inimigo do LRA.

Outras críticas atacaram a arrecadação de recursos iniciada pela Invisible Children. O fundador da ONG, Jason Russell, justificou à emissora 'CNN' que o dinheiro servirá para cobrir as despesas do vídeo, financiar atividades de campanha e projetos de campo em Uganda.

'Somos uma organização pouco ortodoxa. Trabalhamos fora dos padrões tradicionais da caridade e das instituições sem fins lucrativos', justificou Russell.

As críticas à organização levaram inclusive o grupo de hackers Anonymous a repensar o apoio declarado à campanha na última quinta-feira, tendo, no dia seguinte, assinalado que se trata de uma 'propaganda' e que há 'algo obscuro' na iniciativa.

Por sua vez, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, exaltou os esforços da Invisible Children em informar o mundo sobre os crimes de Kony, embora tenha lembrado que há 'países vizinhos (a Uganda) e ONGs que veem há décadas trabalhando neste problema'.

Em outubro do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou à região uma equipe especial de 100 soldados para localizar o líder rebelde, e alguns especialistas em segurança advertem que a campanha virtual pode pôr em risco essa missão sigilosa.


'Tudo o que posso dizer é que isto não poderia ter ocorrido em um momento menos adequado, no plano estratégico e operacional', indicou à 'CNN' Peter Pham, assessor civil do comando militar americano enviado para o país africano.

Contudo, para a massa que apoiou 'Kony 2012', o desafio maior é fazer o que os meios de comunicação parecem não conseguir: conscientizar os jovens sobre uma tragédia que ocorre em uma parte do mundo que afeta a maioria da população do mundo.

'Eu gostaria que um criminoso de guerra acusado atinja o mesmo nível de fama que eu', disse George Clooney nesta semana em sua conta de Twitter. 'Isto é justo'. 

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaGoogleInternetONGsTrabalho escravoYouTube

Mais de Tecnologia

Canadá ordena fechamento do escritório do TikTok, mas mantém app acessível

50 vezes Musk: bilionário pensou em pagar US$ 5 bilhões para Trump não concorrer

Bancada do Bitcoin: setor cripto doa US$135 mi e elege 253 candidatos pró-cripto nos EUA

Waze enfrenta problemas para usuários nesta quarta-feira, com mudança automática de idioma