Tecnologia

Kindle Fire, da Amazon, é reprovado em teste

Especialistas apontam falhas de usabilidade no tablet da Amazon, que deve fechar o ano como o segundo mais vendido no mundo

O Kindle Fire tem tela de 7 polegadas e roda o sistema operacional Android, do Google (Reprodução)

O Kindle Fire tem tela de 7 polegadas e roda o sistema operacional Android, do Google (Reprodução)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 6 de dezembro de 2011 às 10h41.

São Paulo — Lançado nos Estados Unidos com enorme sucesso há pouco mais de duas semanas, o Kindle Fire, deve terminar o ano como o segundo tablet mais vendido no mundo – atrás, apenas, do iPad 2, da Apple. Mas os milhões de compradores do tablet da Amazon podem se decepcionar com ele. É o que mostra um teste de usabilidade divulgado ontem pelo Nielsen Norman Group.

“O Kindle Fire oferece uma experiência decepcionante ao usuário”, escreveu o especialista Jakob Nielsen. O principal problema apontado por ele está no tamanho reduzido da tela do Fire, que mede apenas 7 polegadas na diagonal. São quase 3 polegadas a menos que a medida da tela do iPad, que tem 9,7 polegadas.

Para Nielsen, a tela compacta torna a navegação na web penosa. “Tudo parece pequeno demais nela”, diz ele. O resultado é que os usuários frequentemente acabam acionando o link errado ao tocar nela. O Fire foi considerado lento no teste e, de fato, ele é mais fraquinho que tablets avançados como o iPad 2 e o Xoom, da Motorola. Para chegar ao preço de 199 dólares, a Amazon simplificou bastante o tablet, sacrificando seu desempenho.

Falhas no teste?

Apesar de todo o prestígio de Jakob Nielsen, um dos especialistas em usabilidade mais conhecidos no mundo, há algumas coisas questionáveis no teste. Os participantes acharam o Fire pesado, algo estranho já que ele pesa apenas 413 gramas, contra 600 gramas do iPad 2. O que parece é que, como o teste foi feito por usuários de smartphone, eles não estavam habituados ao peso de um tablet. Outra reclamação estranha é sobe a falta de botões físicos no Fire. Para Nielsen, isso prejudica a experiência de ler livros no tablet. Mas muita gente lê livros no iPad e em outros tablets sem reclamar da falta de botões.

Também é questionável o fato de o teste ter sido feito com apenas quatro usuários. Nielsen argumenta que estudos qualitativos como esse geralmente trazem resultados mais detalhados do que pesquisas com muitas pessoas e foco nas estatísticas. Os participantes tinham pelo menos um ano e meio de experiência no uso de dispositivos com tela sensível ao toque. Dois eram usuários de smartphones com Android e, os outros dois, de iPhone.


É bom lembrar, ainda, que há relatos positivos de pessoas que compraram o Fire nos Estados Unidos. Considerando tudo, há duas coisas que parecem estar acontecendo. A primeira é que, como a maioria dos produtos em versão inicial, o Fire precisa mesmo de aperfeiçoamentos. É provável que algum polimento no browser Silk, usado no tablet da Amazon, reduza os problemas observados ao navegar na web. Talvez alguns aplicativos precisem de adaptações para a tela compacta. E um processador mais rápido certamente seria bem vindo.

A segunda coisa a observar é que o Fire é mesmo o carro popular dos tablets. Quem compra um automóvel com motor 1.0 pode até reclamar da falta de potência, dos vidros com acionamento manual, do porta-malas pequeno e do acabamento espartano. Mas são justamente esses ingredientes que permitem baixar o preço e tornar o carro acessível a mais consumidores. A mesma coisa acontece com o tablet da Amazon, que não tem GPS, nem câmeras e nem conexão 3G, mas custa só 199 dólares, 40% do preço do iPad 2 mais barato.

Interesse em queda

Nesta semana, a empresa de anúncios online Chitika divulgou um estudo que aponta que, passado o entusiasmo inicial, o interesse no Kindle Fire parece estar diminuindo nos Estados Unidos. A empresa monitorou a exibição de anúncios no browser Silk, da Amazon, o que dá uma ideia de quanto os usuários do Fire vem navegando na web. A navegação aumentou rapidamente até o final de novembro, mas caiu nos últimos dias. A Chitika diz que, dadas as limitações do Fire, ele pode ser melhor descrito como um e-reader com funções extras. A empresa afirma que essas limitações podem frustrar os usuários. Mas diz, também, que o Fire foi um passo na direção certa para a Amazon.

O fato é que o Fire dividiu o mercado de tablets em dois segmentos distintos. Há o iPad e seus concorrentes que custam mais de 400 dólares no mercado internacional. E há produtos simples e baratos como o Fire e o Nook Tablet, da Barnes & Noble (que deve ser o quarto mais vendido no mundo neste ano), com preço inferior a 250 dólares. O fato de tanto o iPad 2 como o Fire serem bem sucedidos em vendas mostra que há espaço para produtos nas duas categorias.

Tanto a Amazon como a Barnes & Noble vendem seus tablets apenas nos Estados Unidos. E não adianta trazer um deles na bagagem ao viajar para lá, já que os serviços de venda de filmes, músicas e aplicativos para esses tablets também são oferecidos só naquele país. Mas um produto como o Fire – com preço baixo e um conjunto de recursos enxuto mas bem implementado – provavelmente faria sucesso no Brasil, como fazem os carros populares.

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