John Kerry (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h26.
Brasília - O secretário de Estado americano, John Kerry, ouviu ontem uma forte queixa do Brasil pela espionagem da CIA e de outras agências de inteligência americanas e disse "entendê-la", mas assegurou que as informações confidenciais vazadas pelo ex-analista Edward Snowden são atividades "legais" e "necessárias" para garantir a segurança global.
"Os Estados Unidos recolhem informação de inteligência para proteger seus cidadãos, como fazem todas as nações do mundo, e faz isso dentro das leis", assegurou Kerry durante encontro com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, que tinha recriminado a espionagem americana e qualificado o episódio de "sombra" nas relações entre os países.
Patriota foi o primeiro a tomar a palavra e, após elogiar as relações econômicas e comerciais entre os países, disse que entre EUA e Brasil existe um "novo desafio, a intercepção eletrônica", em referência à espionagem americana no país.
O ministro lembrou que o Brasil exigiu que os Estados Unidos dessem explicações, mas que elas "não são um fim em si mesmas e não bastam. O necessário é abolir essas práticas".
Segundo Patriota, quando a relação entre dois países alcança o grau de "maturidade" que existe entre Brasil e EUA "devem ser abordados todos os temas relevantes" e citou a espionagem entre eles, após ressaltar que o governo da presidente Dilma Rousseff abriu "canais de diálogo técnico e político" com os EUA depois da divulgação do vazamento.
O Mercosul concordou em formular um protesto nas Nações Unidas, assinado pelos chefes da diplomacia de todos os países-membros, o que, segundo Patriota, "reflete uma preocupação legítima da região e a comunidade internacional". [quebra]
De acordo com o ministro, essas são "práticas que podem atentar contra a soberania, contra os direitos individuais e inclusive contra os direitos humanos".
Kerry, por sua vez, disse que "esperava e entendia essas queixas, mas os EUA se empenham em fazer o necessário para preservar a segurança dos americanos, do Brasil e do mundo em geral".
O diplomata assegurou que os EUA farão "o necessário para que essa questão não interfira nas relações com o país", mas sustentou que essas operações são realizadas "dentro das leis".
Kerry se desculpou com os jornalistas ao não responder a algumas perguntas por não poder "discutir questões operacionais relativas à segurança nacional" em coletiva, mas garantiu que as atividades das agências americanas ocorrem nos marcos de leis americanas aprovadas pelo Congresso depois dos ataques de 11 de setembro de 2001.
No caso do Brasil, garantiu que "se seguirá dialogando para que haja certezas e para que o governo da presidente Dilma entenda e esteja de acordo com o que os EUA devem fazer para garantir sua segurança e a segurança do mundo em geral".
Kerry ressaltou que, "nos últimos anos, certo número de grupos (terroristas) atentaram contra os interesses não só dos EUA, mas também de outros países", e que o governo de Barack Obama "só está tentando evitar que essas coisas ocorram".
Segundo Kerry, Brasil e EUA devem seguir "trabalhando juntos e nos concentrarmos nas questões mais importantes de nossas relações". Entre elas citou a promoção de "valores democráticos", o "empenho por melhorar a vida de nossas sociedades", o fomento do comércio e das relações econômicas e a cooperação em ciência e tecnologia.
Embora o caso da espionagem tenha centrado as declarações públicas de Kerry e Patriota, a visita do secretário de Estado também serviu para começar a preparar a visita que a presidente Dilma fará a Washington no dia 23 de outubro.
A última atividade de Kerry em Brasília, onde termina a viagem pela América Latina iniciada ontem na Colômbia, foi uma reunião privada com a presidente. Depois do encontro fechado, Kerry se declarou "satisfeito" pelo resultado de sua visita e "com expectativa" pela viagem de Dilma a Washington.