Steve Jobs e Bill Gates eram parceiros de negócios e concorrentes (Wikimedia Commons)
Maurício Grego
Publicado em 24 de outubro de 2011 às 16h03.
São Paulo — Como se sabe, Steve Jobs não era nada comedido quando falava de seus rivais. Sua biografia oficial, que começa a ser vendida hoje em vários países, revela detalhes sobre sua relação com Bill Gates, o mais antigo desses rivais e também um importante parceiro de negócios, com quem Jobs parecia ter uma relação de amor e ódio.
Jobs disse a Walter Isaacson, seu biógrafo, que admirava Mark Zuckerberg por não ter vendido o Facebook. Também disse que não via mais ninguém importante na área de redes sociais. Mas, em vários momentos, o fundador da Apple demonstrou certo desprezo pelo Google, pela Microsoft e por seus respectivos fundadores. “Eles não entendem nada”, disse ele, referindo-se às duas rivais da Apple.
Meu modelo é melhor que o seu
Isaacson conta que Gates foi visitar Jobs em maio deste ano, quando o fundador da Apple já estava bastante doente. Os dois passaram algumas horas juntos e falaram sobre casamento, filhos, educação e, claro, negócios. Gates comentou que Jobs havia provado que o modelo da Apple, que controla inteiramente os produtos que vende, podia ser bem sucedido.
Jobs respondeu que o modo de negociar da Microsoft, que licencia o software para outras empresas fabricarem os equipamentos, também funcionava. Obviamente, os dois estavam certos. O Mac convive há décadas no mercado com PCs de milhares de marcas que rodam software da Microsoft. O sucesso das duas estratégias é inquestionável.
Mais tarde, entrevistando Bill Gates, Isaacson perguntou a ele sobre a conversa. “O que eu não disse a ele é que o modelo da Apple funciona desde que haja um Steve Jobs no comando”, disse Gates. De volta ao Vale do Silício, Isaacson perguntou a Jobs se ele realmente achava que o modelo da Microsoft era bom. “É claro, o modelo de negócios fragmentado deles funciona. Mas não leva a produtos realmente grandiosos. Ele produz porcarias. Esse é o problema, pelo menos a longo prazo”, respondeu Jobs.
A história relatada por Isaacson mostra bem a maneira como os dois empreendedores se viam um ao outro. Gates, ao que parece, sempre teve certo fascínio por seu concorrente amalucado e genial. Jobs sempre achou Gates normal demais para seu gosto, e chegou a dizer que ele estaria melhor se tivesse tomado drogas e ido meditar na Índia na juventude. Em 1993, falando sobre Gates ao Wall Street Journal, ele disse: “Ser o homem mais rico do cemitério não me interessa. Ir para a cama à noite dizendo que fiz alguma coisa maravilhosa é o que importa para mim.”
Mac x Windows
Houve pelo menos dois momentos em que a carreira de Jobs ganhou um empurrão de Bill Gates. O primeiro foi quando a Apple precisava desesperadamente de bons aplicativos para o Macintosh, na metade dos anos 80. A Microsoft era a empresa mais bem posicionada para produzi-los. Seus aplicativos abriram as portas dos escritórios para o Mac. A planilha Excel, por exemplo, foi criada inicialmente para o computador da Apple, em 1985. Só dois anos depois a Microsoft lançou uma versão para Windows.
Como parte dos acordos entre as duas empresas, a Apple licenciou, à Microsoft, algumas partes do sistema operacional do Macintosh para uso no Windows. Mais tarde, Jobs diria que os advogados de Redmond haviam sido mais espertos que os de Cupertino. Para ele, o acordo de licenciamento foi favorável demais à Microsoft.
Gates na Macworld
Gates entraria em cena (literalmente) outra vez em 1997. Jobs tinha acabado de assumir o posto de CEO da Apple, completando sua volta à empresa que havia fundado 20 anos antes. Mas a empresa da maçã estava sendo vista como decadente depois de uma década colecionando erros enquanto Jobs esteve ausente.
Apple e Microsoft fizeram, então, um anúncio conjunto na feira Macworld. As duas empresas trabalhariam para produzir uma nova versão do pacote de aplicativos Office para o Mac. E a Microsoft fez um investimento de 150 milhões de dólares na Apple. A face de Bill Gates exibida num telão sobre o palco causou estranhamento na plateia de fãs do Mac. Mas o apoio da Microsoft à Apple foi importante, naquele momento, para renovar a confiança do mercado na empresa da maçã.
A biografia de Jobs deve chegar dentro de alguns dias às livrarias brasileiras, já traduzida para o português. Quem tiver pressa em lê-la pode comprar a versão digital em inglês pela web.