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Internet, o "cálice sagrado" das gravadoras

Para John Kennedy, presidente e executivo-chefe da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, música digital pode compensar queda da venda de CDs

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h22.

Em entrevista a EXAME, John Kennedy, presidente e executivo-chefe da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, afirma que o maior objetivo do setor é superar o declínio de vendas de CDs com a oferta de música digital. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa:

EXAME - Como o senhor analisa a transição da indústria de música para o mundo digital?

John Kennedy - Entre 2005 e 2006, as receitas das gravadoras com música digital dobraram de 1 bilhão de dólares para 2 bilhões de dólares. Lembro que, em 1996, as pessoas diziam que, em 2006, não haveria mais CDs. Isso estava claramente errado. No momento, prevemos que, em 2010, as receitas digitais serão 25% do negócio de música em todo o mundo, então isso indica o ritmo em que a evolução está ocorrendo.

EXAME - Um dia a indústria da música será um negócio 100% digital e baseado na internet? Quanto tempo falta para chegarmos lá?

Kennedy - Imagino que um dia será um negócio não-físico, mas não posso dizer quando isso acontecerá. Acho que está bem mais distante do que as pessoas pensam. Prevemos que, em 2010, será 25% de nosso negócio, o que parece fazer sentido, mas talvez no ano que vem nós atualizemos as estatísticas para dizer que 35% de nosso negócio será digital em 2010. Não sei. O que tenho certeza é que não diremos que será 100%. Mas não há necessidade fazer previsões, pois acho que as gravadoras inteligentemente não são mais proprietárias de fábricas de CD. Elas terceirizaram tudo e podem ajustar sua capacidade de produção facilmente.

EXAME - Mas um dos motivos de preocupação dessa indústria é que a queda das vendas de CDs ainda não foi compensada pelas vendas online. Quando isso acontecerá?

Kennedy - É muito importante para essa indústria que isso aconteça logo. Ninguém gosta de queda de receitas, por isso descrevemos como o "cálice sagrado" que perseguimos o estágio em que a ascensão das vendas digitais em cada país individualmente compensará a queda das receitas físicas. Acredito que estamos perto disso nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão e não estamos perto em mais nenhum lugar do mundo. Mas esses são os três maiores mercados de música do planeta.

EXAME - Na América Latina há algum país que está mais perto desse objetivo?

Kennedy - Não, não acho que estamos próximos disso em nenhum lugar da América Latina.

EXAME - Quando olhamos todas as transformações que ocorreram nesse setor, não é estranho que as gravadoras nunca tenham liderado essas mudanças? Do Napster ao iTunes, nenhum grande sucesso com música digital foi uma iniciativa que partiu da indústria fonográfica. Por que as gravadoras não conseguem promover a inovação em seu mercado?

Kennedy - Acho que este é um erro que muita gente comete: o Napster nunca teve um modelo de negócios, nem nada próximo a um modelo de negócios. Apenas roubava música e a distribuía de graça. Só isso. Mas o que o Napster fez foi estragar o mercado para qualquer serviço legítimo. As gravadoras tentaram lançar seus próprios serviços, mas a Comissão Européia e os Estados Unidos não gostaram disso, do ponto de vista das leis antitruste. Disseram que iriam investigar. Não retiraram os serviços do ar, mas criaram um ambiente em que não havia confiança para investir em algo que poderia sair do ar. E quando olhamos para o que Steve Jobs fez - que acho muito impressionante -, ele efetivamente tornou-se um varejista e as gravadoras nunca atuaram no negócio de varejo. Ele tornou-se um varejista online (com o iTunes) e as gravadoras nunca exerceram essa função no passado. As gravadoras investem em talento, gastam mais dinheiro em pesquisa e desenvolvimento do que qualquer outra indústria, mas estão felizes em deixar o varejo para outros - são negócios diferentes que requerem habilidades diferentes.

EXAME - Mas por que toda a vez que uma nova tecnologia surge, a indústria de música parece que é pega desprevenida?

Kennedy - Olhe para o seu próprio negócio. Seu próprio negócio de jornais e revistas tem sido desafiado pelo mundo online. Nos últimos 12 meses, as indústrias de filmes e de jornais e revistas vieram até mim e disseram: sabemos que a indústria de música fez errado, mas não conseguimos achar o caminho para fazer certo. E o que a indústria de música fez é ter agora 4 milhões de faixas online, tem mecanismos de pagamentos e fatura 2 bilhões de dólares com música digital, coisas que a indústria de filme e a indústria de jornais e revistas não fizeram. Esses 2 bilhões de dólares que faturamos em 2006 são o dobro do que registramos em 2005. Não acho que, em 2007, vamos conseguir dobrar de novo, mas ainda exibiremos níveis de crescimento dos quais a maioria dos setores se orgulharia.

EXAME - Mas esse crescimento de 100% ocorre sobre uma base pequena.

Kennedy - Não acho que 2 bilhões de dólares seja uma base pequena. Isso é 10% de nosso negócio total. Mas nunca estamos satisfeitos com o ritmo ou o nível de crescimento e trabalhamos continuamente para criar um ambiente que nos permita melhorar esses números. Não há dúvida que ter música de graça é uma oferta muito tentadora no mundo online, e é contra isso que competimos.

EXAME - As gravadoras enfrentam o desafio de convencer uma geração de jovens e adolescentes que habituou-se a usufruir de música de graça na internet que não é correto baixar arquivos sem pagar. É uma tarefa complicada, não?

Kennedy - Não é fácil. Não subestimamos o problema e não há soluções fáceis. Então temos de continuar trabalhando duro. A melhor solução seria criar um ambiente em que menos música estivesse disponível gratuitamente por ter sido roubada. Mas é um desafio, não subestimamos isso.

EXAME - Um das saídas que as gravadoras escolheram para resolver esse problema é entrar com ações judiciais contra pessoas que abastecem as redes de troca de arquivos de música na internet. Uma indústria que tem de levar seus clientes para a Justiça não está em uma situação muito confortável, não é verdade? Não há um jeito melhor de proteger seu negócio?

Kennedy - Ainda não achamos um jeito melhor, mas estamos preparados para ouvir sugestões. E as pesquisas mostram que isso tem um efeito educacional. Mas não é nosso cliente que estamos processando - quando alguém arromba uma loja física, ninguém o chama de cliente. Mas entendo o que você está dizendo. Somos realistas. Preferiríamos não estar nessa situação.

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