O big data e a inteligência artificial permitem aos pacientes das pequenas cidades terem acesso a atendimento médico (Zsolt Biczó/Thinkstock)
AFP
Publicado em 21 de setembro de 2018 às 18h44.
Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 18h46.
Para superar a escassez de médicos na China, algumas empresas de tecnologia optam por máquinas que, graças à inteligência artificial, interpretam a frequência cardíaca ou as radiografias de um paciente.
Qu Jianguo, aposentado de 64 anos, coloca o pulso em um bracelete de metal colocado sobre a mesa. Alguns minutos depois, recebe em seu telefone celular uma análise médica realizada a partir dos batimentos cardíacos, tudo isso prescindindo de médicos.
Este aparelho criado pela empresa "Ping An Good Doctor" atraiu os olhares durante a Exposição Mundial de Inteligência Artificial, em Xangai, realizada entre 17 e 19 de setembro. Uma boa notícia para a China, que quer liderar os avanços tecnológicos no âmbito médico.
"Vim para ver como a medicina tradicional chinesa [que se baseia na frequência cardíaca para o diagnóstico] pode funcionar sem médico. Seria prático", explica Qu.
A China conta com apenas 12 milhões de profissionais de saúde para uma população de quase 1,4 bilhão de habitantes.
Ping An Good Doctor, com 228 milhões de inscritos, é uma das maiores plataformas chinesas digitais de cuidados médicos. Afirma receber 500.000 solicitações de consulta por dia.
Os pacientes introduzem dados pessoais e seu histórico médico no aplicativo da empresa e então descrevem seus sintomas. Partindo desta base, a inteligência artificial emite um diagnóstico, que é enviado a um médico.
Este último ganha tempo: basta verificar e validar a pré-análise realizada pelo sistema e escrever, se for necessário, uma receita digital, de modo que os pacientes não precisariam ir a um dispensário.
"Sem dúvida isto pode ajudar a resolver o problema da escassez de médicos. A inteligência artificial pode eximi-los dos gestos banais, simples e repetitivos", aponta o médico Liu Kang, ex-funcionário do prestigioso hospital Xiehe em Pequim.
"A China ainda se encontra em uma fase de recuperação neste âmbito", reconhece.
Nos Estados Unidos e na União Europeia (UE), as start-ups e os pesquisadores já se lançaram há algum tempo ao desenvolvimento de tecnologias para resolver as questões de saúde.
A China se inspirou neles e, com a ajuda da inteligência artificial e de big data, cria dispositivos para facilitar o diagnóstico, realizar intervenções cirúrgicas com robôs e participar no desenvolvimento de novos medicamentos.
Há escassez de bons médicos no país, e estes se concentram nas cidades grandes.
Cerca de 10% dos hospitais chineses considerados de alto nível precisam tratar metade dos pacientes do país, segundo um relatório de 2017 do centro estatal de informação.
O big data e a inteligência artificial permitem aos pacientes das pequenas cidades terem acesso a atendimento médico. Concretamente, aparelhos ou sistemas ajudam, por exemplo, os médicos menos qualificados a analisarem e interpretarem sozinhos as radiografias, ressonâncias magnéticas, a frequência cardíaca ou os sintomas.
"Imitamos ou reproduzimos as técnicas dos médicos qualificados, dos melhores hospitais, e as difundimos nas localidades menores", explica Fang Qu, diretor técnico da Proxima, uma empresa especializada em diagnósticos de tomografia.
Falta convencer os pacientes do potencial desta revolução. Qu Jianguo, o aposentado que testou o aparelho que mede os batimentos, é cético.
"Ainda não é o mesmo que um médico. E além disso não entendo muito bem os resultados", explica. "Continuo precisando de um médico de verdade na minha frente".