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Integração de jogos é importante para todos, diz chefe do Xbox

Em entrevista a EXAME, Phil Spencer fala sobre o mercado de games no Brasil, a anomalia dos exclusivos nos consoles e o jogo enquanto espetáculo

 (Minecraft/Microsoft/Divulgação)

(Minecraft/Microsoft/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 12 de outubro de 2017 às 07h00.

Última atualização em 12 de outubro de 2017 às 10h28.

São Paulo – Phil Spencer foi promovido a vice-presidente executivo de games da Microsoft em setembro deste ano. Agora reportando-se diretamente ao CEO Satya Nadella, Spencer lidera o Xbox desde 2014. Sua história na Microsoft é longa, ele está na empresa desde 1988, quando ingressou como estagiário.

Com uma visão holística de games na Microsoft, Spencer vê a compatibilidade de jogos e disponibilidade de títulos em diferentes dispositivos como algo importante para jogadores e desenvolvedores.

Nos últimos anos, a Microsoft tomou medidas para tornar os jogos mais onipresentes em sua plataforma. O Xbox One tem compatibilidade com jogos do antecessor Xbox 360 e também pode se conectar aos computadores com sistema Windows, por meio da Xbox Live, serviço online do console. Em smartphones, o aplicativo Mixer, da própria empresa, permite acompanhar transmissões de jogadores feitas a partir do Xbox ou do PC.

Em entrevista a EXAME, Spencer comenta sobre seus jogos favoritos na atualidade, conta como vê o mercado brasileiro de games e fala sobre como a transmissão de partidas online ajuda a aumentar a quantidade de pessoas envolvidas com jogos.

O vice-presidente executivo está no Brasil para participar da Brasil Game Show, o maior evento do segmento na América Latina.

Confira os melhores trechos da conversa com Spencer a seguir.

EXAME: Você veio à BGS em 2015. Por que decidiu voltar para a edição deste ano?

Phil Spencer: O Brasil é um grande mercado gamer e a BGS é um dos maiores eventos de games. Estive aqui há dois anos e foi divertido. É bom ver as marcas globais de games investindo nesse mercado. Semana passada, o The New York Times publicou uma reportagem falando sobre um grande evento de games, com público de mais de 300 mil jogadores, que aconteceria, não nos EUA, mas no Brasil. E ele trata da BGS e de como o Brasil é um bom mercado de games.

O que você pensa sobre os jogadores brasileiros?

Eu jogo muitos games, na Xbox Live, e vejo que as pessoas são as mais apaixonadas por jogos do que em qualquer outro lugar. Uma das coisas que eu notei na última vez que vim aqui foi que a BGS tem muitas famílias. As pessoas vão lá por diversão. Não era uma feira corporativa de Sony contra Microsoft. São pessoas buscando entretenimento. No lado dos desenvolvedores, eles estão aprendendo com jogadores e desenvolvedores brasileiros. Essa mistura é incrível: fãs apaixonados, um mercado de desenvolvedores em crescimento e um grande negócio que tem essas grandes marcas globais focando nesse mercado.

O Xbox está evoluindo. A estratégia é fazer upgrades pontuais e manter os games compatíveis com as novas versões do console da Microsoft?

Há mais de um bilhão de pessoas que jogam games hoje no mundo todo. Esse é um mercado de mais de 20 bilhões de dólares ao ano. A Microsoft quer ser uma grande empresa de games, na liderança do segmento. Isso significa que o foco é chegar a esse bilhão de pessoas, buscando formas de como oferecer produtos interessantes a elas, mas também temos que pensar em nos manter conectados ao gamer avançado ao qual o console do Xbox se tornou pouco atrativo.

Na área do console, queremos oferecer a opção mais poderosa, que é o Xbox One X. Mas também temos nossa plataforma Mixer, que é um streaming de games que leva a Xbox Live a todos os dispositivos, mesmo smartphones. Estamos aumentando nossas capacidades para sermos relevantes ao um bilhão de gamers que jogam todos os dias. Ao mesmo tempo, buscamos estar comprometidos com os nossos clientes de consoles. O que acontece quando você conquista um gamer é que ele vai jogar em vários dispositivos. Eu mesmo sou um gamer em diversos aparelhos. Eu jogo em casa no console, no avião, uso o notebook, no ônibus, uso o celular. Estamos criando serviços para chegar aos gamers onde quer que eles estejam.

Nosso lançamento do Minecraft Better Together, que permite a interação dos jogadores em qualquer aparelho, seja iPhone ou Nintendo Switch, todos estarão conectados por meio da Xbox Live jogando Minecraft. Essa integração é tanto estratégica quanto importante para nós. Pela perspectiva do gamer, é assim que deve ser, não importa o dispositivo no qual você joga. Eu sou comprometido com o console, acho que vamos ficar no espaço do console, que é algo importante para nós. Lançamos o S ano passado, o X neste ano. Dois consoles em dois anos–não temos um outro console para lançar no ano que vem. Construir e oferecer ótimas experiências de hardware e de serviços são partes críticas da nossa estratégia.

Veremos, no futuro, um Xbox que pode ser melhorado como um computador, com peças novas que os próprios usuários podem substituir?

Não diria que não, mas o console precisa ser simples. Ele é como um celular, você pode colocar cartões de memória e aumentar o armazenamento. Quanto a um PC, onde você pode comprar acessórios e componentes, acho que é um espaço diferente. Isso não faz parte dos motivos pelos quais uma pessoa procura um console. Vamos continuar a inovar, seja em performance, como fizemos com o Xbox One X, seja em ter HDR e suporte para Blu-Ray como temos no Xbox One S. Mas não vamos complicar as coisas, o console deve ser fácil, ainda que seja poderoso.

Qual é o seu jogo favorito atualmente?

Estou jogando Cuphead no momento. Cada frame do jogo foi desenhado e animado à mão. Eu também sou um grande fã de jogos de corrida, então estou jogando bastante o Forza 7, que lançamos na semana passada. Essa é época do ano na qual muitos jogos são lançados. Também jogo atualmente o Destiny 2, sou fã de Destiny. Como tenho viajado muito, estive no Japão na semana passada e agora estou no Brasil, joguei muito no computador, especialmente Cuphead e Forza 7.

Os desenvolvedores estão animados com a integração do Xbox com computadores e outros dispositivos?

Acredito que sim. Enquanto criador–eu era um criador de games–, você sempre quer que o seu jogo possa ser jogado, assim como se eu fosse um músico, gostaria de ser ouvido. A ideia dos jogos trancados em um dispositivo, que não é nem o meu dispositivo principal e eu não posso nem aproveitá-los, acho que é errada. Não é como deve ser. Meus amigos estão comprando antigos jogos arcade e reconstruindo-os porque eles perceberam que não é mais possível jogá-los quando o hardware morre. No espaço digital, podemos manter a compatibilidade e os desenvolvedores podem vender seus jogos novamente, há um negócio em manter os jogos relevantes e sendo jogados.

Eu amo o programa de compatibilidade que temos para o Xbox 360, que oferece suporte para uma coleção de games do Xbox original. Vimos uma grande absorção por parte dos jogadores e dos desenvolvedores, por isso, acredito que isso funciona.

A Microsoft tem uma estratégia especial para atrair jogos exclusivos ao Xbox?

A maioria dos jogos exclusivos que traremos serão aqueles feitos por nós mesmos, como o Forza. Os exclusivos são uma anomalia do mercado de consoles, não há outras áreas que trancam algumas coisas que as pessoas podem fazer em um aparelho.

Como você vê o mercado brasileiro para o Xbox One S?

Bem, estou feliz que finalmente conseguimos lançá-lo em setembro. Demorou mais do que gostaríamos, mas a América Latina, como um todo, tem sido uma grande força para o Xbox. Investimos em localização nesses países, em fábricas e equipes, e os fãs investiram de volta em nós. Em muitos casos, México e Brasil estão nos nossos cinco principais mercados de Xbox, o que é extremamente importante para nós e para o nosso crescimento. O Brasil tem mais de 76 milhões de jogadores de games, todas as grandes empresas de tecnologia estão aqui–acho que todas em São Paulo. Investimos muito em datacenters e tecnologia porque os jogos se tornaram mais voltados para a nuvem. O mercado de games cresce a dois dígitos por ano e o Brasil é um grande player nesse segmento.

Fora isso, vejo uma comunidade de desenvolvedores aqui. Em 2015, dei um prêmio a um jogo independente chamado "Aritana, a Pena da Harpia". Agora temos vários jogos brasileiros que foram criados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Isso é bom para o Brasil e para o mercado de games como um todo. Os desenvolvedores daqui têm muito a oferecer.

Criar jogos é uma oportunidade para os brasileiros criarem um produto global?

Com certeza. No nosso time para desenvolvedores independentes, temos pessoas dedicadas ao mercado na América Latina. Eles ajudam com conselhos sobre o jogo e, quando ele é lançado, ele é lançado globalmente. É uma ótima oportunidade. As pessoas que jogam o que foi criado aqui podem estar na Rússia, na China ou nos Estados Unidos.

Você notou algo diferente no desenvolvimento de jogos brasileiros?

Um jogo me chamou a atenção porque ele usava o gatilho do controle para pular, em vez do botão "A". Essa mecânica é interessante e foi a essa pessoa que eu dei o prêmio em 2015. Perguntei por que tinham feito isso e me disseram que era porque o controle do Xbox tem os melhores gatilhos e queriam usar o melhor do controle.

O que você vê de mais interessante sobre os jogadores brasileiros?

No âmbito da Microsoft, temos Halo e Gears of War. Na maioria dos mercados, o Halo é o mais popular. Aqui, isso não acontece. O Gears of War tem muito mais jogadores do que o Halo. Sempre me pergunto o motivo disso. Encontrei diferentes respostas: alguns dizem que é porque o Gears foi um dos primeiros games a serem lançados para Xbox 360 e outros dizem que por foi conta da questão da irmandade no jogo, que seria uma característica das pessoas daqui.

Por que você acredita que as pessoas estão vendo cada vez mais gameplays na internet?

Onde estamos hoje é diferente de onde estávamos no passado. Quando essa tendência começou, os vídeos eram sobre como ser melhor em um jogo, como o CS Go. As pessoas queriam aprender a usar recursos e técnicas para vencer. Isso ainda acontece muito. Mas agora há jogos criados para serem tão (ou quase) divertidos para assistir quanto para jogar. O PlayerUnknown's Battlegrounds é o principal jogo no Twitch e no Steam (logo estará no Xbox). Ele é como CS Go, mas 100 pessoas entram no mapa e último a sobreviver ganha. Assistir isso prende você, você quer saber se a pessoa será a vencedora. É como ver uma partida de futebol na TV. Enquanto telespectador, você está quase tão nervoso pelo jogador quanto ele mesmo.

O celular hoje é o principal dispositivo por meio do qual as pessoas assistem a jogos, mesmo que estejam sendo transmitidos de um PC ou de um console. Eu posso ver pessoas jogando pelo celular em qualquer lugar em que eu esteja. As transmissões representam uma ótima oportunidade de negócios para jogadores, mas elas também trazem mais pessoas para os jogos.

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