Sucata: o processo de reciclagem do aço ganhou um impulso extra com o inovador conceito de indústria 4.0
Você sabia que cerca de 30% de todo o aço produzido no Brasil é feito a partir de sucata? O número foi apurado pelo Relatório de Sustentabilidade de 2016 do Instituto Aço Brasil, entidade que congrega e representa as empresas brasileiras produtoras de aço. No mundo, mais da metade da produção deve usar sucata até 2050, prevê a consultoria Boston Consulting Group (BCG). Já uma realidade no Brasil, o processo de reciclagem do aço ganhou um impulso extra com o inovador conceito de indústria 4.0, que permite às empresas desenvolver técnicas modernas de reaproveitamento, gerando benefícios econômicos e sociais.
O conceito de indústria 4.0 nasceu na Alemanha, em 2011, e marca o início da quarta revolução industrial. A união do conceito de internet das coisas com a digitalização industrial gera inteligência à manufatura e um universo de possibilidades para diferentes tipos de indústrias. Máquinas interconectadas conversam e trocam comandos entre si, armazenam dados na nuvem, identificam defeitos e fazem correções sem precisar de ajuda.
Os processos de reciclagem começam a se beneficiar com o uso de tecnologias como as de inteligência artificial e sistemas mobile, que devem revolucionar o processo de reciclagem ao redor do mundo. O mapeamento com o uso de drones, por exemplo, reduz o tempo do processo de mensuração, nos pátios de sucata, de três dias para apenas sete minutos.
Já sistemas de monitoramento e diagnóstico online ajudam a antecipar falhas nos equipamentos, o que aumenta a produtividade e reduz os custos do processo de produção do aço. “Os sistemas inteligentes devem ser usados em massa nas indústrias em até dez anos”, afirma Rodolpho Simas, gerente de sustentabilidade da área de assessoria de riscos da consultoria Deloitte.
Sistemas inteligentes podem impulsionar a reciclagem do aço e inserir essa indústria na chamada economia circular. A ideia é seguir o processo cíclico da natureza, em que restos de frutas consumidas por animais, por exemplo, se decompõem e viram adubo para as plantas. Para a sociedade, é importante que os impactos causados pelo ser humano ao meio ambiente sejam minimizados. Isso pode ser feito com a circulação mantida por mais tempo dos recursos extraídos da natureza.
Segundo Fernando Pessanha, diretor de matérias-primas da Gerdau, produtos que usam aço, como geladeiras e automóveis, são desmontados e regenerados, no lugar de serem produzidos e descartados. “Isso é possível porque o aço é infinitamente reciclável. Assim, qualquer que seja o formato final do produto de aço, a sua sucata pode ser transformada inúmeras vezes em um novo aço, sem perder a qualidade. Esse produto pode ter diversas finalidades, como, por exemplo, a construção de aeroportos, pontes, hospitais, ferrovias e rodovias”, diz Pessanha.
Mais qualidade de vida
Não são apenas as empresas que lucram com processos produtivos inteligentes. O planeta também agradece. A indústria 4.0 contribui para diminuir a extração de materiais não renováveis, como a bauxita, fundamental para a produção de alumínio. “De todos os sistemas de reciclagem, o que está com mais força econômica é o do metal, devido à dificuldade de obter o produto na natureza”, afirma Rosani Novaes, professora do curso de engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas (SP).
A reciclagem também reduz o volume de lixo depositado em locais inapropriados e minimiza a emissão de gases formadores do efeito estufa, como o gás carbônico (CO2). “A indústria brasileira do aço já dispõe de painéis que monitoram os níveis de emissões de combustíveis fósseis”, diz Simas, da Deloitte. Assim, se um equipamento poluir acima do limite permitido, ele é automaticamente bloqueado, até que seja feita uma manutenção.
A melhoria nos processos de reciclagem traz ainda benefícios para a população, ao ampliar a demanda por coleta seletiva nas cidades. Com o surgimento de novas iniciativas que educam sobre a separação adequada do lixo e a estimulam, aumenta o número de cidadãos que são conscientizados e convidados a mudar de hábitos. “O processo de coleta feito hoje é praticamente artesanal”, afirma a professora Rosani. “Cada morador consciente faz a separação do lixo. E mesmo que a coleta seja municipal, não acontece em todos os bairros.” O indivíduo é o protagonista o tempo todo nesse processo, pois é com ele que a reciclagem se inicia.
A startup brasileira B2blue, por exemplo, desenvolveu um sistema em que empresas e cooperativas podem anunciar o volume e o tipo de resíduo que têm disponível e negociar a venda diretamente com as indústrias responsáveis pela reciclagem. “Por meio de aplicativos como esse, a indústria 4.0 pode ajudar a formar um ecossistema que, junto com a indústria, garante um processo de coleta mais eficiente”, diz Simas.
Iniciativas que unem a sustentabilidade ao ritmo tecnológico do mundo moderno devem crescer nos próximos anos, dando um novo recomeço aos resíduos que antes acabavam no lixo. A economia lucra com o fim do desperdício, e o meio ambiente também.