Ana Paula Assis, da IBM: "existe um valor maior para nossos clientes e acionistas em separar a unidade de serviços de infraestrutura gerenciada em um negócio independente e autônomo" (IBM/Divulgação)
Filipe Serrano
Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 06h03.
Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 09h22.
A decisão da IBM de separar os seus negócios de serviços de infraestrutura gerenciada em uma nova empresa será um importante passo para a gigante da tecnologia se expandir no segmento de computação em nuvem híbrida, um mercado em forte crescimento no mundo e que ficou ainda mais relevante depois da pandemia do novo coronavírus. Esta é a visão da brasileira Ana Paula Assis, executiva encarregada de liderar a transição de clientes da IBM globalmente para a nova empresa.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Ana Paula Assis diz que separação da unidade de negócios de serviços de infraestrutura em uma nova empresa vai possibilitar trazer mais valor para clientes e acionistas uma vez que estiver concluída até o final de 2021.
A nova companhia, que tem sido chamada provisoriamente de NewCo, já nascerá como uma gigante da tecnologia: terá um faturamento anual de 19 bilhões de dólares (aproximadamente 96 bilhões de reais), cerca de 90.000 funcionários, 4.600 clientes e presença em 115 países, de acordo com a estimativa da empresa. “Como empresa independente, a NewCo terá a vantagem de ser escalável, desde o primeiro dia, beneficiando os clientes imediatamente”, diz Ana Paula Assis.
A executiva, que era presidente da IBM para a América Latina, assumiu o cargo global de gerente geral de transição de clientes na IBM logo após o anúncio. Ela também já foi vice-presidente da IBM na China, na unidade de software da empresa. “Este é um momento muito emocionante na minha carreira. Tenho a oportunidade de trabalhar com clientes em todo o mundo, ouvi-los, ajudá-los e garantir que suas necessidades sejam atendidas, que tenhamos uma transição tranquila, ao mesmo tempo que os apoiamos em sua reinvenção digital”, diz ela. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Como tem sido o trabalho de transição desde o anúncio da criação da nova empresa focada em infraestrutura de TI em outubro?
Conforme anunciamos, esperamos que o spin off do nosso negócio de serviços de infraestrutura gerenciada (Managed Infrastructure Services) seja concluído até o final de 2021. Por enquanto, tudo continua como de costume. No momento em que fizermos a transição, no entanto, a IBM e a NewCo – como a nova empresa é chamada por enquanto -- continuarão como parceiras. A NewCo será capaz de fazer parceria com outros os provedores de nuvem e, ao mesmo tempo, manter uma forte parceria estratégica com a IBM para continuar atendendo clientes atuais e novos. Além disso, a NewCo será a parceira preferencial da IBM para serviços de infraestrutura gerenciada, permitindo operações contínuas entre as duas empresas para os clientes.
O que muda exatamente para a IBM e para os clientes?
Durante a transição e uma vez que o spin off seja concluído, os principais pontos de contato dos clientes permanecerão essencialmente os mesmos, e a qualidade dos serviços e entrega que eles recebem permanecerá inalterada. Na verdade, estamos empenhados em redobrar nossos esforços na capacidade de resposta e atenção do cliente e esperamos que essas mudanças sejam levadas adiante pelas duas empresas.
Por que a IBM tomou a decisão de fazer esta separação?
Acreditamos que existe um valor maior para nossos clientes e acionistas em separar a unidade de serviços de infraestrutura gerenciada em um negócio independente e autônomo, com maior foco e agilidade para atender às necessidades de nossos clientes de serviços de infraestrutura e criar o futuro dos serviços de tecnologia. Isso colocará a IBM e a NewCo em uma trajetória de crescimento clara, trazendo valor e crescimento acelerado para clientes e acionistas de ambas as empresas.
Há quanto tempo esta mudança estava sendo preparada?
O foco da IBM em nuvem híbrida e em inteligência artificial (IA) se intensificou quando adquirimos a Red Hat no ano passado por 34 bilhões de dólares. Desde então, a IBM tem priorizado o crescimento e focado em ajudar os clientes a migrar para IA e nuvem há algum tempo. O anúncio de outubro posiciona a IBM para cumprir essas prioridades, ao criar duas empresas líderes de mercado. A NewCo, como uma empresa independente, terá maior agilidade para atender às necessidades de nossos clientes e impulsionar a inovação em serviços de infraestrutura gerenciada.
Qual é a vantagem de ter uma empresa separada?
A nova empresa se concentrará na execução e modernização dos serviços de infraestrutura gerenciada das organizações mais importantes do mundo. Como empresa independente, a NewCo terá a vantagem de ser escalável, desde o primeiro dia, beneficiando os clientes imediatamente. A NewCo terá uma receita de 19 bilhões de dólares, mais de 90.000 funcionários e mais de 4.600 clientes em 115 países. A NewCo ajudará seus clientes a modernizar sua infraestrutura e acelerar a digitalização e terá a capacidade de investir em tecnologia e habilidades para impulsionar a transformação digital.
Como encarou o desafio de liderar a nova área de transição de clientes globais?
Enfrentei como um desafio, mas também como uma oportunidade de fazer parte de um dos momentos mais importantes da empresa em toda a sua história. Já morei e trabalhei em diferentes mercados, diferentes países e também diferentes segmentos IBM (software, serviços, etc.). Este é um momento muito emocionante na minha carreira. Tenho a oportunidade de trabalhar com clientes em todo o mundo, ouvi-los, ajudá-los e garantir que suas necessidades sejam atendidas, que tenhamos uma transição tranquila, ao mesmo tempo que os apoiamos em sua reinvenção digital.
A mudança que a IBM está fazendo visa consolidar a empresa como um player relevante no mercado de computação em nuvem híbrida. Estimamos que esse modelo oferece 2,5 vezes mais valor às empresas do que um modelo de nuvem pública único por aumentar produtividade do desenvolvedor, ter uma variedade de opões estratégicas, ter eficiência de custos de infraestrutura, conformidade e segurança. Nosso objetivo final é ajudar nossos clientes a modernizar seus ambientes de aplicações existentes para que possam capturar esse valor, expandir seus negócios e permanecer relevantes para seus mercados.
Qual é a importância do mercado brasileiro e da América Latina para a nova empresa?
A América Latina e o Brasil são mercados muito importantes, não apenas para a NewCo, mas também para a IBM. Temos 15 centros de delivery localizados em países importantes como Argentina, Brasil, Costa Rica e México, dois centros de gerenciamento de serviços em multicloud -- um na Argentina e um no Peru – bem como 12 centros de continuidade de negócios e resiliência, e esperamos a NewCo seja um empregador muito atrativo na região para apoiar as crescentes operações de tecnologia dos países.
Durante a pandemia, houve um crescimento forte da demanda por serviços baseados em nuvem no mundo todo. Isso tem relação com a criação da nova empresa?
Há algum tempo, há uma crescente demanda global por serviços baseados em nuvem. Essa demanda aumentou pela pandemia, que acelerou a jornada de transformação digital de empresas de todos os tamanhos e setores de um período de 5 ou 6 anos para 12 a 18 meses. No entanto, a digitalização já estava impactando os modelos de negócios e a experiência do consumidor, e queríamos capitalizar essa tendência.
Com a chegada das vacinas, o impulso pela digitalização vai continuar? Por quê?
É importante observar que as empresas começaram suas transformações digitais bem antes da pandemia, mas aceleraram sua jornada de transformação digital devido à covid-19. Um estudo do IBM Institute for Business Value descobriu que mais de um em cada cinco entrevistados prefere trabalhar remotamente no futuro, mesmo depois que os empregadores voltem às operações normais de negócios. Além disso, muitos também gostariam de ter opções remotas, pelo menos ocasionalmente. E o mesmo estudo mostra que os consumidores pretendem continuar usando ferramentas de compras virtuais após a pandemia. As empresas perceberam que a tecnologia se tornou um componente essencial para a resiliência de seus negócios.