Processo de montagem do Q System One em Milão, na sede da fabricante de vidros Goppion (IBM/Divulgação)
Gustavo Gusmão
Publicado em 10 de janeiro de 2019 às 05h59.
Última atualização em 10 de janeiro de 2019 às 09h33.
São Paulo — A IBM deu nesta semana mais um passo rumo à popularização da computação quântica — ou quase isso. Durante a Consumer Electronic Show (CES), a empresa anunciou seu primeiro sistema integrado do tipo, desenhado para uso comercial. Chamado de Q System One, o hardware de 20 qubits de capacidade foi pensado para operar como um mainframe, fora do ambiente de laboratório. Só não espere que isso aconteça tão cedo.
O novo computador quântico da empresa é, na verdade, mais uma visão da IBM de como será o futuro dessas máquinas do que um produto funcional. Basicamente, ele é um protótipo mais bonito e prático do que os já feitos. Tudo graças à estrutura, que foi projetada pela empresa de design industrial Map Project Office e é embalada por um vidro espesso fabricado pela marca italiana Goppion, que faz a proteção envidraçada de obras em museus, como a da Mona Lisa.
Há, sim, uma unidade funcional do Q System One, que opera em uma sede da IBM em Yorktown Heights, nos EUA. Bob Sutor, vice-presidente da IBM Q Strategy, disse ao site Engadget que há inclusive pesquisadores que o utilizam. Mas seu uso é bastante restrito: assim como outros computadores quânticos, ele só é útil, por ora, para pesquisas.
Acredita-se que a computação quântica ampliará exponencialmente a capacidade de resolução de problemas dos computadores. O motivo? Os chamados qubits, ou bits quânticos, já mencionados acima. Ao contrário dos bits normais, que armazenam dados em forma de 0 ou de 1, esses elementos podem existir como "zeros" e "uns" simultaneamente graças a um fenômeno chamado superposição quântica. Dois qubits, portanto, podem assumir quatro formas distintas. Três qubits chegam a oito, e assim por diante. Com isso, é possível processar muito mais informações do que com um hardware normal.
Um dos problemas desses elementos, porém, está em sua fragilidade. Quaisquer mudanças eletromagnéticas ou vibrações, por menores que sejam, fazem com eles percam toda sua capacidade quântica, como destaca da IBM. Além disso, os chips do tipo precisam ser mantidos a uma temperatura próxima do zero absoluto para funcionar.
Por isso há toda uma proteção reforçada em torno do Q System One. Essa "jaula" ajuda a bloquear interferências e mantém a máquina funcionamento. A estrutura integrada, que faz o computador funcionar como um servidor normal, também facilita o processo de reinicialização em caso de problemas, como explicou Sutor em outra reportagem, do The Verge. Ainda não chega a ser um processo rápido. Mas o que podia antes levar semanas passou a tomar apenas algumas horas ou, no máximo, poucos dias.
A ideia da IBM ainda não é disponibilizar modelos do Q System One nas lojas para todas as empresas. Mas a companhia parece estar no caminho. O site do projeto menciona que há planos de inaugurar um centro de computação quântica no segundo semestre em Poughkeepsie (EUA). A ideia é ter ali uma versão melhorada do atual computador, que não é exatamente poderoso (seus 20 qubits são poucos em comparação com um chip do Google, por exemplo, que tem 72) e oferecê-la a outras instituições, todas parte da IBM Q Network, por meio de um sistema de computação quântica em nuvem — mais ou menos como faz com a inteligência artificial Watson.
O grupo de privilegiados inicial inclui startups, universidades, laboratórios de pesquisa e, principalmente, empresas globais, parte do ranking Fortune 500 de maiores do mundo. Ainda será restrito, mas não deixa de ser um bom começo.