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Horário de verão gera jogo de empurra entre marcas de celular e operadoras

Segundo caso de relógios adiantados precipitadamente para o horário de verão ainda gera discussão entre empresas

 (coffeekai/Thinkstock)

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Gustavo Gusmão

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 14h17.

Última atualização em 23 de outubro de 2018 às 14h42.

São Paulo — Na última virada de sábado para domingo, os relógios de vários smartphones, computadores, máquinas de cartão e até relógios nas ruas se adiantaram para o horário de verão. O problema é que, da mesma forma que aconteceu na semana anterior com celulares na rede da TIM, a mudança foi precipitada. Mas, dessa vez, embora alguns apontem para os possíveis motivos, ninguém assume a culpa.

Em nota enviada pelo SindiTelebrasil a EXAME, as operadoras já negaram que, dessa vez, o problema tenha sido com elas. A versão delas é sustentada pelo Núcleo de Informações e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).

O órgão, que fornece informações de hora para dispositivos conectados à internet, aponta para outros motivos: atualizações que deveriam ter sido, mas não foram feitas nos sistemas operacionais dos aparelhos eletrônicos. Empresas por trás desses aparelhos e softwares, por fim, não se posicionaram sobre o assunto até a publicação dessa matéria — ou, em um dos casos, simplesmente devolveram a bola para as operadoras.

Como o tempo funciona?

Para entender o caso, é preciso primeiro saber como esses dispositivos trabalham com o tempo. Os sistemas operacionais dos aparelhos usam um chamado NTP (sigla em inglês para protocolo de tempo de redes) para manter o horário atualizado e sincronizado com o de outros eletrônicos. Esses protocolos, por sua vez, se baseiam sempre no UTC (tempo universal coordenado) e em relógios atômicos e outras fontes para se manter na hora certa

No Brasil, há um NTP.br, que usa dados dos relógios do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, e é mantido pelo NIC.br. Ele é usado especialmente por computadores e servidores para seguir a hora certa, como contou a EXAME Antonio Moreiras, Gerente de Projetos e Desenvolvimento do NIC.br e responsável pelo protocolo local. Mas, assim como outros NTPs, ele não é o responsável por determinar o horário de verão, já que não define o fuso-horário dos aparelhos. O protocolo simplesmente identifica o fuso em que o dispositivo está de acordo com informações do sistema, e não por local.

O caso do horário de verão em 2018

"Em um computador ou até mesmo um celular baseado no NTP, o fuso-horário local é determinado pelo sistema operacional, em uma 'tabelinha' embutida no aparelho", explicou Moreiras. É essa "tabelinha" integrada aos softwares que especifica as datas de início e fim do horário de verão. Consequentemente, são os dados contidos nela que definem quando os relógios precisarão se ajustar automaticamente. É nela que, segundo o especialista do NIC.br, mora o problema.

Essa tabela é atualizada sempre que um governo muda a data do horário de verão — ou pelo menos deveria ser assim. No caso do Brasil, os updates eram necessários todos os anos até 2008, já que não havia um dia fixo para a hora ser adiantada. Essa imprevisibilidade sempre gerava problemas na computação. As empresas não conseguiam disponibilizar atualizações a tempo e, no fim das contas, era preciso ajustar o relógio na mão.

Há 10 anos, porém, isso mudou: foi determinado que a alteração nos relógios aconteceria sempre aos terceiros domingos de outubro. Com base nisso, foi possível automatizar, fixando as datas nas planilhas dos sistemas operacionais para que elas fossem seguidas pelos programas sem maiores problemas nos anos seguintes, como acontecia até agora.

A questão é que, no final de 2017, um decreto do presidente Michel Temer, publicado no Diário Oficial no dia 15 de dezembro, determinou uma exceção à regra. Em 2018, o horário de verão só começaria depois do segundo turno das eleições. Discussões no governo até levantaram a possibilidade de que ele começasse ainda mais tarde, graças ao primeiro dia do ENEM marcado para o dia 5 de novembro, mas a data ficou definida mesmo como 4 de novembro. Só que, aparentemente, o decreto não chegou para todos.

Tem solução?

Moreiras diz que a solução de curto prazo, que é ajustar manualmente a hora, é simples, mas tira toda a comodidade da mudança automática e pode gerar riscos. Não é difícil, afinal, esquecer de adiantar o relógio no dia certo. Como o SindiTelebrasil diz que a falha não foi provocada pelas operadoras, a solução ideal seria, então, "aguardar as empresas disponibilizarem uma atualização para corrigir o problema", segundo o executivo.

Mas isso pode levar algum tempo. EXAME entrou em contato com Samsung, Motorola, LG, Sony, Google, Microsoft, Apple e também com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE) para entender o lado das fabricantes e empresas por trás dos softwares e saber se houve mesmo um problema de atualização.

Das sete, a Apple recomendou buscar pelas operadoras de telefonia — mas o próprio sindicato delas negou que o problema era com TIM, Vivo, Claro, Nextel, Oi e outras empresas do setor, algo corroborado pelo NIC.br.

Entre as outras fabricantes, Samsung e Motorola recomendaram contatar a ABINEE. EXAME entrou em contato com a associação, que ainda não havia se posicionado até a publicação desta matéria. LG, Sony e Google também não comentaram o caso até então.

A Microsoft também não havia se posicionado, mas, das sete, é a única com uma página de suporte dedicada à mudança no horário de verão brasileiro. O endereço lista atualizações disponíveis para Windows do XP ao 8 e também menciona que o update é aplicado automaticamente no Windows 10 e Server 2016.

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