Oceano (AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2014 às 05h44.
O holandês Boyan Slat, de apenas 19 anos, propõe usar as correntes marinhas para livrar os oceanos das milhares de toneladas de plásticos contaminantes, uma ideia que espera que seja revolucionária e na qual 100 pessoas já trabalham.
Até agora, outros projetos se baseavam na coleta de plásticos com a ajuda de barcos.
Mas, "por que esta necessidade de ir até os dejetos quando eles podem vir a nós?!", diz, sorrindo, Boyan, que parou os estudos de Engenharia Aeronáutica para se concentrar em seu projeto.
A "sopa de plástico" ? dejetos jogados no oceano - tem um impacto ambiental considerável. Os animais marinhos, como os golfinhos e as focas, enredam-se nela, estrangulam-se e se afogam. Outros a comem, como as tartarugas que confundem as sacolas plásticas com águas-vivas.
Além disso, decomposta em pequenas partículas, esta matéria, nociva para a fertilidade e acusada de provocar doenças cancerígenas, entra na cadeia alimentar.
A "sopa de plástico" também causa estragos no setor pesqueiro e turístico: as perdas são calculadas em bilhões de euros ao ano.
A maior parte do plástico acaba nos cinco principais giros oceânicos, como são chamadas as imensas correntes marinhas circulares que facilitam a concentração de enormes placas de detritos chamados "continentes" de plástico.
Mas as estimativas variam sobre a quantidade total de plástico nos oceanos, estimada entre centenas de milhares e milhões de toneladas.
- Um "V" gigante -
O projeto de Boyan consiste em estender duas boias flutuantes com 50 km cada formando um "V" até o fundo do mar. Elas bloqueariam os plásticos mediante uma cortina de três metros de profundidade.
Dessa forma, o plástico, concentrado no centro do "V", poderia ser armazenado em uma plataforma cilíndrica de 11 metros de diâmetro à espera de que um barco possa coletá-lo. Seria possível armazenar até 3.000 metros cúbicos de plástico, o equivalente a uma piscina olímpica.
Uma esteira transportadora, instalada na plataforma e alimentada por painéis solares, permitira levar os pedaços mais volumosos a uma desmanteladora.
Boyan conta ter-se interessado pelo tema após "praticar mergulho durante férias na Grécia". "Debaixo d'água vi mais plástico do que peixes", lamenta.
O jovem apresentou seu projeto no final de 2012, com poucas esperanças de que o levassem a sério. Agora, pelo menos 100 pessoas já trabalham nele, algumas em tempo integral.
- "Mais eficaz e mais barato" -
Depois de anos de testes e de um estudo de viabilidade, Boyan quer um projeto-piloto dentro de três ou quatro anos, antes da possível instalação do primeiro dispositivo, no Pacífico Norte.
Ele se deu um prazo de 100 dias para arrecadar dois milhões de dólares, por meio de financiamento coletivo ("crowdfunding"), um montante que lhe permitirá dar continuidade à aventura. Depois de 33 dias, ele já arrecadou mais de um milhão de dólares.
Em dez anos, o dispositivo permitiria coletar quase a metade dos dejetos do Pacífico Norte. Segundo Boyan, seu método é milhares de vezes mais rápido do que os convencionais. "E além de ser mais eficaz, seria mais barato", ressalta.
Cerca de 70 oceanógrafos, engenheiros e juristas participaram do estudo de viabilidade sobre os materiais, os temas legais, ou o financiamento, entre outros.
"Por sorte, estou cercado de pessoas com mais conhecimento e experiência do que eu", sorriu.
- "Perguntas sem resposta" -
"Responderam-se algumas perguntas que se fazia à comunidade oceanográfica, mas ainda restam outras sem resposta", explicou à AFP Kim Martini, da Universidade de Washington, em Seattle.
Alguns analistas estimam que o estudo de factibilidade subestima a proporção de micro-plásticos de alguns milímetros, mais difíceis de extrair. Também consideram que o dispositivo pode representar um obstáculo perigoso para a vida marinha e para a navegação.
A presidente da Associação dos 5 Giros, Anna Cummins, não entende porque Boyan quer instalar o dispositivo "tão longe da costa".
"Coletar dejetos no meio do oceano é como recolher água de uma torneira continuamente aberta", diz Daniel Poolen, da Fundação "Sopa de Plástico". "É preciso ir à foz (desembocadura) dos rios, ir à fonte", afirma.
Boyan diz que o estudo de viabilidade levou em conta os problemas técnicos, mas admite que o projeto "não permitirá coletar todos os dejetos".
Além disso, falta uma mudança de mentalidade e "infelizmente as pessoas continuarão jogando plásticos fora".