Harley-Deividson: montador trabalha em versão elétrica do veículo (Sean Proctor/Bloomberg)
Victor Caputo
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 16h44.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2018 às 10h43.
Na terça-feira, durante uma rotineira conferência de resultados, a Harley-Davidson anunciou que produzirá uma motocicleta totalmente elétrica.
O anúncio foi acompanhado por notícias sobre novos cortes de postos de trabalho e do fechamento de uma fábrica da empresa com sede em Milwaukee. A novidade também chegou quatro anos depois de a Harley ter revelado o projeto “LiveWire”, um protótipo de motocicleta totalmente elétrica.
“Vocês nos ouviram falar sobre o Project LiveWire”, disse Matt Levatich, presidente da Harley-Davidson, aos ouvintes, durante a conferência, na terça-feira. “Trata-se de um projeto ativo que estamos preparando para levar ao mercado dentro de 18 meses.”
Se guardar alguma semelhança com sua precursora, a nova motocicleta, ainda sem nome, terá uma autonomia de cerca de 80 quilômetros e poderá acelerar de 0 a 60 milhas por hora (96 km/h) em 4 segundos. Para efeito de comparação, a Zero SR faz o mesmo em 3,3 segundos, e a esportiva Mission R tem velocidade máxima de mais de 240 km/h, com tempo de aceleração de menos de 3 segundos. Uma motocicleta Ducati Monster 1200 padrão também vai de 0 a 60 milhas por hora em menos de 3 segundos.
A decisão surge em um momento em que o mercado de motocicletas elétricas é pequeno, mas está se expandindo: em relatório de 2016, a empresa de pesquisa de mercado TechNavio projetou crescimento de 45 por cento no setor de motocicletas elétricas até 2020. É claro o contraste em relação à queda cada vez mais maior da demanda por motocicletas nos EUA, considerando que o setor registrou declínio de 6,5 por cento nas vendas no varejo no quarto trimestre de 2017; as vendas da Harley caíram 11 por cento no quarto trimestre e 8,5 por cento no ano, segundo números divulgados na conferência.
O diretor financeiro da Harley-Davidson, John Olin, disse que a empresa investirá entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões por ano nos próximos anos em tecnologia de motocicletas elétricas. A meta é ser líder mundial no mercado de motocicletas elétricas.
“Nossa marca representa liberdade, independência e liberdade pessoal, e consideramos a marca fundamentalmente sólida”, disse ele na conferência.
A Bayerische Motoren Werke, por sua vez, vende uma e-Scooter C Evolution eletrificada por US$ 23.000 na Europa e exibiu um conceito futurista de motocicleta elétrica (que dispensará o capacete), e novas empresas de motocicletas elétricas, como Zero Motorcycles e Brammo, também mantêm negócios vigorosos.
A ironia é que o anúncio da Harley parte de uma empresa que construiu sua imagem em torno do ronco forte e do estilo durão de seu motor e do visual decididamente antiecológico de suas choppers e cruisers. Os 32.000 novos compradores de motocicletas Harley-Davidson nos EUA no ano passado provavelmente compraram sua primeira estradeira em grande parte por seu característico ronco alto e claro, mas a Harley elétrica sem dúvida será (mais) silenciosa.
“Não vejo nenhum caminho futuro para a Harley”, diz Kevin Tynan, analista da indústria automotiva na Bloomberg Intelligence. “O investimento na tecnologia será financiado por um negócio que está morrendo, e eles estão basicamente começando do zero. Ou eles encolherão para equipara-se à demanda e continuar sendo o que sempre foram, ou vão se vender em busca de algum estranho modelo de negócio baseado na mobilidade futura que não é garantida de nada -- mesmo que tenham capacidade de levá-lo adiante.”
Alan Stulberg, fundador da Revival Motorcycles e nome respeitado da comunidade das motocicletas, revela um otimismo cauteloso.
“Sinto que [a Harley elétrica] será bem recebida pelo público e pelos novos compradores, de quem a Harley tanto precisa, mas não pelas pessoas que normalmente pilotam uma Harley”, diz. “Isso é fantástico. É necessário. Quanto mais gente entrar nesse mercado, melhor.”