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Hackers utilizam fotos roubadas para extorquir

Cada vez mais há um modo especialmente invasivo de perseguição virtual: a sextorsão


	Teclado de computador: vítimas costumam ser mulheres jovens e adolescentes
 (AFP)

Teclado de computador: vítimas costumam ser mulheres jovens e adolescentes (AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2014 às 22h51.

Washington - O e-mail aterrorizou a jovem mãe. “E se eu dissesse que tenho fotos suas?”, perguntava o remetente desconhecido. “Várias. Você me mandaria mais?”.

“Elas são bem explícitas”, acrescentou ele.

Para provar que não estava blefando, o remetente misterioso enviou quatro fotos nas quais ela aparecia nua ou em posições sugestivas, que haviam sido guardadas em um laptop que tinha sido roubado recentemente do apartamento dela em New Hampshire.

Ele ameaçou publicar as fotos caso ela não lhe enviasse outras mais explícitas.

E se ela tivesse dúvidas de que ele era uma pessoa cruel e “doente”, “então ele iria agir como uma”, escreveu.

Os e-mails assediadores são exemplos característicos do que os funcionários responsáveis pela segurança nos EUA afirmam ser um modo especialmente invasivo e cada vez mais frequente de perseguição virtual, que está chamando a atenção deles.

O procedimento recebeu um apelido aterrador: “sextorsão”.

“É um problema cada vez maior”, disse Wesley Hsu, diretor da unidade de crimes relativos à propriedade virtual e intelectual na promotoria de Los Angeles, que já lidou com diversos casos semelhantes.

As vítimas “sofrem um choque emocional compreensível no momento em que ocorre e a internet, infelizmente, é totalmente permanente e pode afetar por um longo tempo essas mulheres, na maioria jovens”.

“Elas podem achar que suas vidas estão destruídas”, disse.

O crime cobrou um preço psicológico duradouro da jovem de New Hampshire, apesar de o autor ter sido preso rapidamente.

Ela ficou arrasada com a ameaça de que as fotos em que aparecia nua seriam publicadas na internet ou enviadas a pessoas da sua cidade natal. Quase dois anos depois do fim do assédio ela continuava “extremamente traumatizada”, escreveram os promotores.

Registro de suicídio

No dia 10 de julho, a jovem de 24 anos morreu no que a polícia de Dover, New Hampshire, chamou de aparente suicídio por enforcamento.

Ela deixou um filho de 4 anos. A Bloomberg News preserva a identidade da vítima em respeito à privacidade do filho e porque ela não foi nomeada nos documentos do tribunal.

Em uma entrevista, várias semanas antes do suicídio, a promotora do Departamento de Justiça, Mona Sedky, disse que, para a jovem “equivalia a que alguém estivesse presente com uma arma, tentando fazer com que ela se desvestisse”.

Os sextorsionários realizam suas atividades não apenas com equipamentos roubados, mas também hackeando computadores, contas de redes sociais e até raptando webcams.

Após obter as fotografias, eles as utilizam para exigir resgates em dinheiro ou em forma de fotos e vídeos mais explícitos.

Vítimas silenciosas

“As vítimas de extorsão não têm estímulos para informar o crime”, disse Hsu, promotor de Los Angeles. “Muitas são ameaçadas com consequências piores se recorrerem à lei e se sentem muito envergonhadas”.

As vítimas costumam ser mulheres jovens e adolescentes, mas homens também já foram alvo.

Em 2010, fotos em que um jogador de pôquer profissional aparecia nu foram enviadas por e-mail a 100 pessoas depois que ele se recusou a atender a demanda do hacker, de US$ 100.000.

Outros hackers utilizam software que infecta os computadores com vírus para obter fotos e vídeos comprometedores.

Uma vítima desse tipo de hackeamento foi Cassidy Wolf, que foi Miss Teen Califórnia no ano passado, quando recebeu um e-mail com fotos em que ela aparecia nua em seu próprio cuarto.

As fotos foram tiradas pela webcam de seu laptop, comandada sorrateiramente por um hacker e utilizada para espiá-la.

As autoridades levaram seis meses para prender e acusar o extorsionário: Jared James Abrahams, 20, um ex-colega de escola de Wolf.

Sofrimento indelével

Assim como Wolf, a jovem de New Hampshire descobriu que conhecia seu perseguidor anônimo. O suspeito era John B. Villegas, marinheiro naval que era marido da babá do filho dela.

Qualificando Villegas como “um predador sexual cibernético”, os promotores federais escreveram nos documentos do tribunal que o morador de Maine era “visivelmente insensível”: ele redobrou as ameaças após a jovem ter implorado, dizendo que a publicação das fotos iria arruinar a reputação dela e colocar o filho em perigo.

“O sofrimento emocional que ele provocou” na jovem, escreveram os promotores, “é perpétuo”.

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