Tecnologia

Hacker americano Kevin Mitnick entra no mercado de segurança do Brasil

A empresa KnowBe4, de Kevin Mitnick, compra a brasileira El Pescador para aproveitar um mercado que cresce mais de 50% ao ano

Kevin Mitnick, da KnowBe4: o hacker mais procurado pelo FBI virou um educador contra os golpes pela internet  (KnowBe4/Divulgação)

Kevin Mitnick, da KnowBe4: o hacker mais procurado pelo FBI virou um educador contra os golpes pela internet (KnowBe4/Divulgação)

DC

David Cohen

Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 18h11.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2019 às 16h48.

Um dos hackers mais famosos do mundo, o americano Kevin Mitnick, está preparando ataques no Brasil. Mas são ataques educativos. Mitnick, o pirata digital mais procurado pela polícia federal dos Estados Unidos no anos 1990, converteu-se em hacker “do bem” e hoje trabalha como “chief hacking officer” da empresa de educação contra ataques digitais KnowBe4 – que acaba de comprar a companhia brasileira El Pescador.

A especialidade das duas empresas é a mesma, o “phishing”, uma modalidade de golpe que não requer grandes tecnologias: o meliante manda mensagens tentando fazer com que a vítima lhe entregue por livre e espontânea vontade seus dados – senhas, nome completo, número da conta etc. O termo é uma corruptela (tanto gramatical quanto moral) de fishing, pescar, indicando que o golpista lança sua rede para capturar internautas incautos (vem daí, é claro, o nome do El Pescador).

Mitnick, cuja história foi contada no livro Takedown e no filme Hackers 2: Operação Takedown, era um especialista em phishing desde a adolescência. Sua conversão aconteceu depois de cinco anos de prisão, um deles na solitária. Mesmo antes de ser preso, ele já trabalhara como “agente duplo”: disfarçado, arrumou um emprego em que ajudava uma companhia a reforçar sua segurança digital (mas, à noite, atacava outras empresas). Ao sair da prisão, montou sua própria firma, a Mitnick Security, que em 2012 foi incorporada à KnowBe4 – hoje a maior plataforma de treinamento e conscientização de segurança digital do mundo, com mais de 23 000 organizações clientes em diversos países.

Fazia todo o sentido estabelecer-se no Brasil, um dos principais pólos de atividade de criminosos especializados em phishing. O país já aparecia como um dos cinco com maior número de empresas atacadas em relatório de 2013 da RSA, a divisão de segurança da empresa de tecnologia EMC; e foi o campeão de ataques (em número de internautas expostos ao golpe) no ano passado, de acordo com a Kapersky Lab, empresa russa de segurança digital. Segundo a consultoria Gartner, os brasileiros foram os que mais sofreram ataques de phishing também em 2017.

Não é à toa que o mercado de segurança contra o phishing cresce tanto. Nos Estados Unidos, as fraudes dirigidas às empresas aumentaram 2.370% desde 2015, segundo relatório do FBI (a polícia federal americana). No total, estima-se que o phishing tenha provocado perdas de 1,4 bilhão de dólares em 2017. Acompanhando a ameaça, no mundo inteiro o mercado de empresas de segurança contra esse tipo de golpe cresceu 40% entre 2016 e 2017. De acordo com o Gartner, trata-se de uma indústria de 500 milhões de dólares que continuará crescendo a uma taxa de 56% ao ano até pelo menos 2022.

Para o El Pescador, o crescimento tem sido até maior do que isso. De acordo com Rafael Silva, fundador e executivo-chefe da empresa, o El Pescador vem mais do que dobrando de tamanho desde 2015, quando foi comprado pela empresa de segurança digital Tempest. Naquela época, o negócio era de complementaridade: a Tempest, uma empresa que nasceu como startup do Porto Digital de Recife no ano 2000, vende sistemas antifraude à moda da IBM, da Accenture e da PwC, e a aquisição lhe permitiu entrar também no mercado de educação dos funcionários (uma constante fragilidade dos sistemas de segurança). “O El Pescador oferecia uma linha de trabalho complementar à nossa e ao portfólio que oferecíamos”, diz Cristiano Lincoln Mattos, fundador e CEO da Tempest.

Agora, o negócio é de consolidação: a KnowBe4 atua exatamente no mesmo nicho que o El Pescador. A Tempest deixa de ser dona, mas deve continuar como parceira de negócios. Os americanos não divulgam quanto pagaram pelo El Pescador, mas segundo a Tempest o preço é sete vezes maior do que ela havia pago em 2015.

Silva deverá continuar com autonomia para gerir os negócios no Brasil. Como pioneira no mercado brasileiro, sua empresa desenvolveu um ciclo educacional com diversas simulações de phishing, e seus treinamentos foram traduzidos para inglês, espanhol e francês para conquistar clientes no exterior. Os treinamentos ao mesmo tempo alertam a empresa para os riscos que corre e ensinam os funcionários a reconhecer as ameaças. A isso será acrescido o sistema desenvolvido por Mitnick. “Nosso objetivo é fornecer conteúdos novos todos os meses aos nossos usuários, com módulos de treinamento interativos e atraentes”, diz Stu Sjouwerman, CEO da KnowBe4. Silva acredita que, com a associação, o crescimento da empresa seja ainda maior. “Por isso projetamos para os próximos meses a contratação de mais 30 pessoas, triplicando nosso quadro de colaboradores”, diz.

Rafael Silva, do El Pescador: crescimento de mais de 100% ao ano desde 2015
Acompanhe tudo sobre:Hackersseguranca-digital

Mais de Tecnologia

Influencers mirins: crianças vendem cursos em ambiente de pouca vigilância nas redes sociais

10 frases de Steve Jobs para inspirar sua carreira e negócios

Adeus, iPhone de botão? WhatsApp vai parar de funcionar em alguns smartphones; veja lista

Galaxy S23 FE: quanto vale a pena na Black Friday?