As fraudes muitas vezes tornam exorbitantes os preços dos ingressos para quem paga a inteira (Getty Images / Scott Olson/)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2011 às 19h35.
Rio - "Carteirinha de estudante, de R$ 20 por R$ 10, na URE, com frete. Cinemas, teatros, shows, eventos culturais, estádios e mais 2.500 lugares com até 50% de desconto". No ar do fim de semana à meia-noite de hoje no site de compras coletivas Groupon, o anúncio provocou a ira de produtores culturais lesados pela lei da meia entrada. Até as 19 horas de hoje, 1.291 pessoas haviam comprado o documento, como se este fosse um produto qualquer.
URE é a sigla da União Representativa dos Estudantes e Juventude do Brasil, entidade nascida há 16 anos e que este ano emitiu, em suas representações em todos os Estados, cinco milhões de carteirinhas. A própria entidade estima que cerca de 150 mil falsários tenham tentado tirar o documento no período - tiveram os pedidos negados por falta de comprovante das entidades de ensino.
Hoje, cerca de 80% do público geral paga meia, contando os estudantes reais, os farsantes, os idosos e outros casos. As fraudes muitas vezes tornam exorbitantes os preços dos ingressos para quem paga a inteira.
O diretor-secretário da URE, Renato Ribeiro, explica que qualquer um pode fazer a compra no Groupon, mas a carteirinha - que é expedida em duas semanas e é válida por um ano - só é emitida depois que a pessoa anexa documentação provando que é estudante, e que seu nome é checado "no banco de dados público do Ministério da Educação (MEC)".
"Se a comprovação não chegar em 60 dias, a carteirinha não é emitida e o dinheiro gasto no Groupon é devolvido. Desenvolvemos um sistema de R$ 600 mil que compila os dados que recebemos de quem comprou e cruza com os do MEC. São mais de 15 itens checados", explicou Ribeiro hoje.
A questão é que o MEC não tem um banco de dados acessível pelo público. Segundo o ministério, os dados dos 51 milhões de estudantes da educação básica e 5,4 milhões de universitários são compilados por ocasião dos censos, mas nunca são repassados.
A reportagem fez o teste: fechou a compra com facilidade hoje à tarde, mediante o pagamento de R$ 10 com o cartão do crédito. Até o fim do dia, não havia recebido, no entanto, o e-mail de confirmação com a senha necessária para que as informações comprobatórias fossem inseridas - dados pessoais e também o anexo de comprovantes de matrícula ou de pagamento de mensalidade, no caso de escolas ou faculdades particulares.
Segundo Ribeiro, no momento em que isso acontecesse, o sistema mostraria que a repórter não é estudante, e seu pedido seria cancelado.
"Isso tem toda a cara de fraude. Antes da meia entrada, o movimento estudantil era combativo; depois, virou o movimento das carteirinhas", criticou hoje Daniel Alcarria, da União Regional de Estudantes da Grande São Paulo. Entidades como a União Nacional dos Estudantes e a Brasileira dos Estudantes Secundaristas tacham a URE de "mercantilista".
"Vamos nos reunir hoje com nosso advogado e decidir que medida tomar. O prejuízo não é só dos produtores, mas de toda a sociedade, que fica afastada do teatro", disse o presidente da Associação Brasileira de Produtores Teatrais, Eduardo Barata.
A meia entrada está em discussão na Câmara dos Deputados. Os produtores endossam a proposta de que a emissão das carteiras seja pela Casa da Moeda e que seja instituída uma cota de 40%. Já o Estatuto da Juventude, que será votado no Senado, prevê a meia entrada para quem tem entre 15 e 29 anos.