Um dos smartphones Android "Gradiente iPhone" lançado pela empresa brasileira antes da resolução da disputa judicial no STF (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 28 de julho de 2025 às 10h51.
Em 2023, uma longa disputa entre a empresa brasileira de eletrônicos Gradiente e a norte-americana Apple chegou ao fim, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) determinar que ela não tem direito ao uso da marca “iPhone” no território nacional. Para as gerações mais jovens, essa disputa pode parecer sem sentido, mas ela simboliza uma época na qual tecnologias eram desenvolvidas no Brasil.
Fundada em 1964, por Luis Alberto Salvatore e Nelson Bastos, em São Paulo, a Gradiente se destacou nas décadas de 1970 e 1980 pela produção de equipamentos de áudio de alta qualidade, como amplificadores e sistemas de som, além de televisores e videocassetes.
Durante esse período, a marca cresceu aproveitando a limitação das importações, o "milagre econômico" brasileiro, durante a ditadura militar, e a implantação de sua primeira fábrica na Zona Franca de Manaus, em 1972.
Nos anos seguintes, a empresa se expandiu com aquisições estratégicas de marcas como Garrard, em 1978, voltada para exportação, e a Polyvox, em 1979, uma de suas concorrentes. Nos anos 80, ela também adquiriu a Telefunken e, mais tarde, já em 2005, a Philco, o que possibilitou sua expansão no mercado de televisores e DVDs.
No entanto, nos anos 1990 e 2000, a Gradiente enfrentou dificuldades financeiras, agravadas pela abertura econômica e concorrência crescente de fabricantes estrangeiros. A empresa ainda tentou se reinventar, apostando no mercado de games em parceria com a Nintendo e diversificando a linha de produtos, mas, apesar disso, problemas administrativos e má gestão causaram retração e levaram a pedidos de recuperação judicial a partir de 2007.
Em 2012, a empresa retornou ao mercado de eletrônicos sob o nome IGB Eletrônica, mas com a manutenção do nome Gradiente para seus produtos. Apostando na nostalgia, com a campanha “Meu Primeiro Gradiente”, e no público idoso, a marca tentou reviver por meio da linha de tablets OZ e os celulares SafePhone, mas sem sucesso.
O episódio mais conhecido da marca nos anos 2000 foi a disputa judicial com a Apple pelo direito de uso da marca "iPhone" no Brasil. A Gradiente registrou o nome "iPhone" junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) em 2000, obtendo o registro em 2008 – portanto, antes da chegada oficial do dispositivo da Apple no Brasil, mas após seu lançamento nos EUA, em 2007.
Em 2012, a Gradiente lançou um smartphone Android com o nome "Gradiente iPhone", dando início a uma longa disputa judicial, que durou mais de uma década. Algumas decisões permitiram o uso do nome para ambas as empresas, desde que a Gradiente usasse o nome completo.
Em 2020, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas só foi resolvido em 2023. A empresa chegou a contratar o ex-presidente Michel Temer para seu time de advogados, mas não obteve sucesso em reverter a situação.
Atualmente, após encerrar sua recuperação judicial, a Gradiente está investindo no setor de energia solar para residências e pequenos negócios. A empresa está aplicando R$ 50 milhões para consolidar um mercado pulverizado no Brasil, que é o terceiro maior do mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos.
Além disso, a Gradiente deixou de ser fabricante direta de eletrônicos e passou a obter recursos com a locação de galpões industriais, especialmente na Zona Franca de Manaus, onde sua antiga fábrica foi transformada em espaços para outras empresas e está totalmente locada.
Sua marca também foi licenciada para uma importadora e fabricante de eletroportáteis e caixas de som, com a empresa recebendo royalties sobre as vendas. Essa estratégia ajudou a Gradiente a liquidar suas dívidas, que inicialmente somavam cerca de R$ 976 milhões, pagando cerca de R$ 138 milhões, e levantar capital por meio da venda de ativos e créditos tributários.
Apesar do foco no solar, Eugênio Staub, presidente do conselho de administração, diz que a Gradiente está sempre olhando para a frente e para a inovação, analisando oportunidades de investimento em outros segmentos.