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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h38.
Depois de mais de doze horas de reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e todos os ministros da área econômica nesta quarta-feira (7/1), o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, anunciou na manhã de quinta (8/1) as prioridades do governo para 2004. Além dos consensos (necessários) de sempre - crescimento, emprego, inclusão social, promoção de exportações -, Furlan deixou escapar uma novidade: o governo pretende atrair entre 1,5 bilhão de dólares em investimentos para a construção de fábricas de microprocessadores. "Já identificamos empresas que potencialmente podem se interessar por atuar no país e vamos sair a campo buscando os investimentos necessários", afirmou Furlan, segundo comunicado emitido pelo ministério.
Das quatro áreas estabelecidas como básicas para a política industrial do governo, apenas a de chips foi associada a um valor numérico de investimentos. No caso dos bens de capital, outra área prioritária, Furlan afirmou que, nos próximos dias, será anunciada medida para desonerar o setor e fortalecer as exportações. No caso dos fármacos e do software, as duas áreas restantes, nada foi dito de concreto.
O ministro também informou que os instrumentos para realizar a política industrial já existem, mas que precisam ser direcionados. "Vamos concentrar esforços para produzir resultados em 2004. Hoje, existe uma diversidade muito grande de programas, o que acaba produzindo dispersão de esforços", disse Furlan.
No orçamento da União, há cerca de 12 bilhões de reais alocados para investimentos em todas as áreas em 2004. Boa parte disso deve ser destinada à infra-estrutura. Do 1,5 bilhão que Furlan estuda atrair para o setor de microprocessadores, ainda não se sabe se algo virá de investimento do governo. Sabe-se, porém, que se trata de uma produção altamente tecnológica, com baixo potencial de geração de empregos, embora um alto potencial de geração de conhecimento.
A maior fabricante de chips do mundo, a Intel, considera que o Brasil não tem nenhuma possibilidade de ter algum impacto global no setor, conforme declarações a EXAME de seu presidente mundial, Craig Barrett. A Intel, por meio de seu fundo de capital de risco, costuma investir no Brasil em outras áreas, como software. Desde que montou sua fábrica na Costa Rica para exportação, excluiu o país de seus planos globais de expansão fabril.
A Motorola, outra grande fabricante mundial de chips, tem uma fábrica e um campus de desenvolvimento de sistemas (leia-se software) para celulares em Jaguariúna, na região de Campinas. Ela associou-se à Unicamp para montar salas limpas experimentais, destinadas à produção de microprocessadores. O equipamento é de unidades desativadas nos Estados Unidos e poderia produzir chips de segunda ou terceira linha, segundo os padrões internacionais. Interessante para desenvolver capacidade acadêmica e conhecimento interno, mas nada que, remotamente, pudesse competir no mercado externo. Outros fabricantes mundiais de chips, como AMD ou Samsung, não anunciaram nenhum plano de investir na produção de microprocessadores no país.
Resta, portanto, o ministério esclarecer quais então seriam as tais empresas que "potencialmente poderiam se interessar" por produzir no Brasil e como - se é que isso é possível - o país se tornaria competitivo num setor que já está abarrotado, com capacidade ociosa e quase completamente comoditizado em todo o planeta.