Tecnologia

Google deixa pessoas mais inteligentes, diz Don Tapscott

Em palestra no Brasil, guru da economia digital, autor do conceito do Wikinomics, explica como a "Geração Net" está mudando o mundo

Tapscott: "Cérebro da geração nascida na era digital trabalha em 'multitarefa'" (.)

Tapscott: "Cérebro da geração nascida na era digital trabalha em 'multitarefa'" (.)

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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2010 às 17h26.

São Paulo - O empresário canadense Don Tapscott, escritor e consultor especializado em estratégias de negócios, é otimista em relação ao impacto das novas tecnologias. Em palestra realizada hoje em São Paulo, ele definiu a chamada Geração Y (jovens nascidos a partir de 1980 e cresceram em meio a era digital) como a mais inteligente, mais capaz e responsável por uma revolução na economia e no comportamento global. E contestou a ideia defendida pelo americano Nicholas Carr, um dos pensadores mais influentes do mundo na área de negócios e tecnologia da informação, de que o Google estaria deixando as pessoas "mais burras".

Tapscott discursou nesta tarde na 20ª edição do Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab), promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Carr também fará palestra no mesmo evento, só que nesta quinta-feira (10), de modo que os dois acabaram não se encontrando. "O que os jovens buscam no Google são fatos, datas, nomes. Mas a internet fez com que essa geração pense de forma diferente, em 'multitarefa'", defende Tapscott.

Muita coisa está mudando no mundo com a chegada da Geração Y - que o canadense prefere chamar de Geração Net - ao mercado de trabalho. "Pela primeira vez na história, crianças e adolescentes passaram a ser consideradas autoridade em algum assunto, a saber mais do que os professores, do que os pais", diz. Ele citou diversos exemplos de jovens que conheceu há alguns anos para ilustrar sua tese, como uma menina que não lê jornal porque "só é atualizado uma vez por dia", uma adolescente que considera o e-mail ultrapassado diante de mensageiros instantâneos e redes sociais, e um garoto que dá aulas sobre internet e computadores para seus professores. "Certa vez fui fazer uma palestra em uma reunião da Felaban [Federação Latino Americana de Bancos], em Bogotá, e apresentação deu problemas. Pedi para falar com o responsável pela tecnologia do local e, em meio a um monte de equipamentos de ponta, estava um menino de 13 anos", contou o palestrante para abrir sua sessão.


Tudo isso, segundo ele, indica uma mudança de paradigma que deve ser levada em consideração pelas empresas para se adaptar a um novo mercado consumidor e um novo perfil de trabalhador. "Quando eu era criança, a única opção que tinha ao chegar em casa era assistir tevê. As crianças da Geração Net lidam desde pequenas com o computador e a internet, meios que pressupõem colaboração e compartilhamento". Além dessas duas palavras-chave, Tapscott lista transparência, interdependência e integridade como os cinco princípios que devem reger a indústria. "A crise financeira mundial por que passamos em 2008 está diretamente ligada a isso. Faltou aos bancos norte-americanos integridade, transparência com os clientes", afirma.

Para ele, nos Estados Unidos, as empresas ainda não se adaptaram ao comportamento da nova geração por ter a população muito concentrada em faixas etárias mais elevadas, acima dos 30 anos. Ainda assim, ele credita aos jovens à eleição de Barack Obama ao cargo de presidente do país. "Isso mostra que a Geração Net não está alienada; ela tem inclusive um espírito cívico mais avançado", diz.

A vontade de participar de comunidades se reflete no crescimento de ferramentas colaborativas na internet, segundo o escritor. É o que justificaria o distanciamento cada vez maior do YouTube, em termos de audiência, em relação ao site da MTV dos Estados Unidos; do Facebook contra o Match.com; da Wikipédia diante da Encyclopedia Britannica, do Flickr em relação à Kodak Gallery; do Blogger contra a CNN; do Huffington Post diante do New York Times.


Assim, o marketing é afetado a medida que os consumidores querem participar mais ativamente das atividades das empresas, e os ingredientes para o sucesso de uma marca deixam de ser os 4 Ps [Product, Price, Promotion e Place]. "Ao invés de produto, o consumidor busca experiências; o lugar não é mais importante, a empresa precisa estar em todo lugar; o preço deve ser descoberto em uma interação com o cliente; a promoção deve ser substituída pelo engajamento; e surge ainda um quinto elemento, que é a marca", diz Tapscott. A marca, ele ressalta, não é apenas uma imagem, mas um conceito que representa a empresa e que deve estar baseada no princípio da integridade. "Não procure apenas reter clientes: é preciso engajá-los".

O guru defendeu ainda que, seguindo essa linha, em meio à interação social e a colaboração, a geração atual de jovens deixa de separar trabalho de lazer. "Para eles, trabalho é igual a colaboração, que é igual a aprendizado, que é igual a diversão. Tudo isso pode ser realizado ao mesmo tempo", afirma. Nesse sentido, Tapscott considera um erro empresas proibirem seus funcionários de usar redes sociais. "Se você proíbe seus empregados de usarem o Facebook, elas irão para o MySpace", diz. Para os que associam internet e redes sociais a problemas como falta de produtividade e até aumento no número de estudantes que não concluem a faculdade, ele é categórico: "Há diversos outros fatores envolvidos. A culpa não é da tecnologia".

Tapscott é autor ou co-autor de 11 livros que tratam da influência das novas tecnologias na dinâmica dos negócios, entre eles o bestseller "Wikinomics: How Mass Collaboration Changes Everything", que sugestivamente tem o último capítulo aberto na internet para ser editado de forma colaborativa. Em setembro, ele deve lançar sua próxima obra – "MacroWikinomics: Rebooting Business and the World".


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