Google: apesar de ameaça, a empresa fechou um acordo semelhante com a França horas antes (Mike Blake/Reuters)
Laura Pancini
Publicado em 22 de janeiro de 2021 às 10h11.
O Google ameaçou fechar seu serviço de busca na Austrália caso o governo aprove a legislação que torna obrigatório o pagamento pelas notícias exibidas nos resultados do site.
A legislação, intitulada “Código de negociação da mídia de notícias”, vem sendo criticada pelo Google, que acredita que pagar por links para determinados editores “danificaria fundamentalmente” a busca do site.
Apesar de tal posicionamento, o Google concordou em pagar por publicações de notícias na França horas antes de ameaçar o governo australiano. O acordo com a França provavelmente levará a mais negócios em toda a Europa, de acordo com o New York Times.
A diferença entre os dois acordos é a centralização do poder. A decisão do governo francês permite que a empresa-filha da Alphabet tenha total controle sobre as negociações entre editoras, usando critérios estabelecidos pela empresa como volume de publicação e tamanho do público.
Já a Austrália quer que tenha um órgão de arbitragem independente caso a empresa de mídia e o Google não cheguem a um acordo.
“É sobre o processo externo que está sendo imposto a eles pela legislação, em vez de apenas serem capazes de distribuir negócios como acharem adequado”, disse Peter Lewis, diretor do Centro de Tecnologia Responsável do Instituto da Austrália, um grupo de pesquisa independente, ao NYT. “Isso muda o equilíbrio de poder de suas mãos para um terceiro, e é isso que eles não conseguem tolerar.”
Em reunião no Senado australiano, Melanie Silva, diretora geral do Google Austrália e Nova Zelândia, disse para as pessoas imaginarem um cenário onde alguém recomendaria uma cafeteria para um amigo e, depois, receberia uma conta do lugar por compartilhar essa informação. “Quando você coloca um preço no link para certas informações, você quebra a forma como os mecanismos de pesquisa funcionam”, ela disse.
Recentemente, o Google foi alvo de críticas por fazer experimentos com o serviço de busca na Austrália. A empresa removeu alguns links de notícias locais que atingiram “cerca de 1% dos usuários australianos”, mas disse que só estava experimentando e que realiza “dezenas de milhares de experimentos” todos os anos.
"Quando uma empresa privada tenta usar seu poder de monopólio para ameaçar e intimidar uma nação, é um sinal infalível de que a regulamentação está atrasada", disse Chris Cooper, diretor executivo da filial australiana Reset, uma organização que luta para as gigantes da tecnologia terem mais responsabilidade.
"A busca na Internet é necessária para a sociedade e a economia. O Google tem a enorme vantagem de ser gigante no espaço, mas acha que pode evitar a responsabilidade. Não é assim que as coisas deveriam funcionar."