A Foxconn deve passar de 1 milhão de funcionários neste ano. A empresa é acusada de maus tratos aos funcionários na China (Steve Jurvetson / Wikimedia Commons)
Maurício Grego
Publicado em 14 de abril de 2011 às 17h13.
São Paulo — Um dos melhores exemplos do vigor econômico chinês, a Foxconn é o maior fabricante de produtos eletrônicos do mundo e cresce em rito acelerado. Por suas fábricas, passam produtos de marcas como Dell, Nintendo, Microsoft, Apple, HP, Nokia, Samsung e Sony. Mas a empesa também é alvo de acusações de maus tratos aos funcionários. No ano passado, 18 deles tentaram suicídio e, desses, 14 morreram.
A Foxconn faturou 59 bilhões de dólares em 2010. O número equivale ao PIB de países como Equador, Síria e Croácia. A empresa é parte do grupo Hon Hai, com sede em Taiwan. Na lista das maiores companhias globais da revista Fortune, é a número 112. Seu lucro, em 2010, foi de 2,3 bilhões de dólares.
No Brasil, a Foxconn tem instalações em Jundiaí, Indaiatuba e Sorocaba, no estado de São Paulo, e também em Manaus e em Santa Rita do Sapucaí (MG). Entre seus clientes no país, estão Sony, HP e Dell. Até novembro, segundo o ministro Mercadante, a empresa deverá fabricar também produtos da Apple, como o iPad 2. A produção do tablet deve ser feita em Jundiaí, a 50 km de São Paulo.
O maior complexo fabril da empresa, em Shenzhen, no sul da China, ocupa uma área de 3 km² cercada por muros. Dentro, estão 15 fábricas, alojamentos para os empregados e serviços como bancos, restaurantes e supermercado. O complexo é, às vezes, chamado de Foxconn City ou iPod City, em referência ao fato de que o player multimídia da Apple é fabricado lá. Trabalham no local entre 300 mil e 420 mil funcionários.
Suicídios e maus tratos
A Foxconn vem sendo alvo constante de denúncias de maus tratos aos funcionários. O que se sabe é que, como acontece em outras indústrias chinesas, as jornadas de trabalho em Foxconn City são longas e os salários são baixos.
Em 2007, depois de uma série de denúncias, a Apple contratou um serviço de auditoria para aferir as condições de trabalho em Shenzhen. A empresa concluiu que a Foxconn cumpria a maioria das exigências trabalhistas e que as condições, lá, estavam acima da média das indústrias chinesas. Alguns problemas encontrados pela auditoria foram, supostamente, corrigidos.
A situação voltou a se complicar em 2010, quando houve 18 tentativas de suicídio – e 14 mortes – entre os funcionários. Vários deles pularam das janelas dos prédios. Uma das providências da Foxconn foi instalar redes de proteção. A empresa também elevou alguns salários. Além disso, obrigou funcionários a assinar contratos onde eles se comprometem a não se suicidar e declaram que a companhia estará isenta de responsabilidade em caso de suicídio.
No final do ano passado, a Sacom, organização com sede em Hong Kong, elaborou um relatório detalhado das condições de trabalho na empresa. O relatório, feito com base em entrevistas com funcionários, critica os baixos salários, as horas extras excessivas e o estilo de liderança truculento adotado na empresa.
Diante disso, não é estranho que Terry Grou, o fundador da Foxconn, tenha acusado os brasileiros de ser pouco laboriosos. Segundo ele, no Brasil, as pessoas "param de trabalhar assim que ouvem a palavra futebol".