Loja da Apple em Shanghai, China: 17 de março de 2020. (Yifan Ding/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 28 de fevereiro de 2023 às 14h42.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2023 às 14h42.
Fornecedores da Apple na China devem transferir capacidade para fora do país muito mais rápido do que observadores preveem, para evitar o impacto das crescentes tensões entre os governos de Pequim e Washington, de acordo com um dos parceiros mais importantes da empresa americana.
A GoerTek, que fabrica os AirPods, é uma das muitas companhias que estudam locais além de sua sede na China, que hoje produz a maior parte dos dispositivos do mundo, de iPhones a PlayStations.
A empresa destinou investimentos iniciais de US$ 280 milhões para uma nova fábrica no Vietnã, enquanto considera uma expansão na Índia, disse o vice-presidente do conselho, Kazuyoshi Yoshinaga, em entrevista.
Empresas de tecnologia dos EUA, em particular, têm pressionado muito para que fabricantes como a GoerTek explorem mercados alternativos, disse o executivo, que supervisiona as operações vietnamitas da GoerTek na província de Bac Ninh, no norte do país.
“Desde o mês passado, muitas pessoas do lado do cliente estão nos visitando quase todos os dias”, disse Yoshinaga de seu escritório no amplo complexo industrial da GoerTek, ao norte de Hanói. O tema que domina as discussões: “Quando você pode se mudar?”.
O crescente conflito entre EUA e China, que começou com uma guerra comercial, mas desde então se expandiu e agora inclui proibições abrangentes sobre a troca de chips e capital, leva a planos de reformulação da cadeia de suprimentos da indústria de eletrônicos, estabelecida há décadas.
A dependência mundial do país asiático ficou evidente durante os anos da política Covid Zero, quando as restrições do governo de Pequim causaram gargalos no fornecimento de vários produtos, como telefones e carros.
Fornecedores da Apple raramente opinam sobre o assunto, em parte por causa da famosa insistência da empresa americana em manter sigilo sobre sua cadeia de suprimentos global.
A fabricante do iPhone permanece em silêncio sobre os planos de diversificar fora da China, o que implicaria renovar um modelo que o CEO Tim Cook foi pioneiro sob o comando de Steve Jobs.
A gigante americana teve o cuidado de evitar comentários de que poderia reduzir seus investimentos na China, onde construiu um ecossistema centrado em empresas como GoerTek e Foxconn Technology Group, que coletivamente empregam milhões.
Nos bastidores, 9 entre 10 dos fornecedores mais importantes da Apple podem estar preparando mudanças em larga escala para países como a Índia, que tem oferecido incentivos para impulsionar a iniciativa “Make in India” do governo Narendra Modi. A Bloomberg Intelligence estima que pode levar oito anos para transferir apenas 10% da capacidade da Apple para fora da China.
O executivo da GoerTek argumenta que será muito mais rápido.
A maioria dos fabricantes chineses de tecnologia enfrenta a mesma pressão. “Eu diria que, atualmente, 90% deles estão olhando para isso”, acrescentou. “São decisões das empresas de marca.”
A Índia está no topo da lista de desejos dos clientes - um reflexo de seu potencial tanto como mercado quanto como base de fabricação.
“Recebemos pedidos de nossos clientes quase todos os meses. ‘Você tem planos de se expandir na Índia?’”, disse Yoshinaga. “Se eles decidirem construir linhas de produção na Índia, talvez tenhamos que pensar seriamente nisso. Atualmente, estamos nos concentrando no desenvolvimento de nossas instalações de produção no Vietnã.”
A GoerTek, que também planeja fabricar aparelhos de realidade virtual no Vietnã a partir de 2024, espera que o país do Sudeste Asiático responda por mais da metade de sua receita global em três anos, comparada a um terço agora, disse Yoshinaga.
A empresa também tem solicitado a seus próprios fornecedores que estudem novas fábricas no norte do Vietnã, explicou. A empresa fabrica os aparelhos de realidade virtual Quest da Meta Platforms e os dispositivos PSVR da Sony.