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Filho de peixe...

Saíram do Peixe Urbano pelo menos 18 novas empresas, criadas por ex-funcionários do site de compras coletivas. Eles viveram na prática uma cultura empreendedora em que falhar faz parte do negócio

Social-miner (Klaus Mitteldorf)

Social-miner (Klaus Mitteldorf)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de julho de 2014 às 15h59.

Um pacote de sessões de massagem com 70% de desconto. Um jantar em um restaurante do outro lado da cidade pela metade do preço. Um novo conjunto de pneus por 25% do valor original. Houve uma época, em meados de 2011, em que era quase impossível escapar das tentadoras ofertas das compras coletivas. No auge desse mercado, surgiram mais de 1 200 sites especializados, frequentados por praticamente metade dos brasileiros conectados à internet. Um dos serviços de maior destaque foi o Peixe Urbano. Fundada em 2010, no Rio de Janeiro, a startup chegou a ter mais de 1 000 funcionários, escritórios espalhados pela América Latina e faturamento de 350 milhões de reais. Tudo ia bem, até que a maré virou.

Da mesma forma meteórica que surgiu, o mercado de compras coletivas naufragou e, em 2012, o Peixe Urbano sentiu o baque. Cortou pelo menos 200 funcionários, vendeu as operações fora do Brasil e teve de se reposicionar como uma plataforma de produtos e serviços. Muitos acreditaram que seria o fim de uma história de sucesso, mas, independentemente dos resultados de sua reestruturação, a empresa já deixou um legado maior do que seus cupons de desconto.

Nos últimos dois anos, saíram do Peixe Urbano pelo menos 18 novas empresas, criadas por ex-funcionários, sendo 13 de origem digital. De aplicativos a ferramentas de inteligência, os novos negócios nascem com uma grande vantagem: as lições de quem viveu de perto uma verdadeira cultura empreendedora.

Social Miner Para entender o usuário
Foi nos corredores do Peixe Urbano que o engenheiro Ricardo Rodrigues (foto), 28 anos, conheceu seu atual sócio, Roger Mattos, 29. No ano passado, eles fundaram a Social Miner, ferramenta que ajuda empresas a identificar quem são e do que gostam os usuários que acessam seu site. Com os dados, é possível enviar alertas de conteúdo personalizado por e-mail ou Facebook. “O usuário aceita fazer login com seu perfil e, em troca, a experiência de navegação fica melhor”, diz Rodrigues. Entre os clientes da Social Miner estão os sites Catraca Livre e Submarino Viagens.
 

“No Peixe Urbano, pude participar de um processo de estruturação e ver como o serviço estava sendo criado”, diz o engenheiro de computação Ricardo Rodrigues, que fundou, no ano passado, a Social Miner. Nascido em Mato Grosso, Rodrigues trabalhava em um instituto de pesquisas na França quando, em 2011, aceitou um convite para voltar ao Brasil e atuar com compras coletivas. Um ano depois, ele e três colegas criaram o Partyu, aplicativo que usa geolocalização para encontrar eventos próximos e permite a compra de ingressos. O negócio foi tocado por mais de um ano em paralelo com o trabalho no Peixe Urbano, e de lá surgiu o embrião da Social Miner. “Havia algumas iniciativas muito legais no Peixe que foram fundamentais para fundarmos a empresa. Uma delas era o talk-show, bate-papo no escritório com pessoas de empresas como Google, Facebook e SurveyMonkey. Também gostava quando investidores iam ouvir as ideias dos funcionários”, diz Rodrigues. O Peixe Urbano organizava ainda a Innovation Week, semana de inovação em que os times de engenharia podiam trabalhar em diferentes projetos, à sua escolha. Nessa experiência, Rodrigues, que atuava no escritório do Rio de Janeiro, conheceu seu atual sócio, Roger Mattos, que trabalhava no escritório paulista.

Foi também nos corredores do Peixe Urbano que o designer Eduardo Wexler encontrou seu atual sócio, o publicitário Eduardo Grinberg. No fim de 2012, após pouco mais de um ano trabalhando na empresa, eles fundaram a Pinion, plataforma mobile que usa recursos de gameficação para coletar e analisar dados a pedido de empresas. A ideia é fazer pesquisas qualitativas de produtos com clientes. “Antes de trabalhar no Peixe Urbano, meu contato era restrito à área de design e às agências. Quando entrei, me envolvi em uma série de projetos que abriram meus olhos para o universo das startups”, diz Wexler. Hoje, ele é também sócio e cofundador do Loggi, serviço online de entrega expressa por motoboy que atua em São Paulo. O negócio tem pouco mais de um ano e já conseguiu mais de 2 milhões de reais de investidores-anjo.

Zase Programa de fidelidade
Após pouco mais de um ano no Peixe Urbano, o mineiro Leandro Morais, 31 (foto), criou, em 2013, a Zase, uma plataforma de inteligência para estabelecimentos comerciais atrelada a um aplicativo para clientes receberem alertas e promoções. Com foco em bares e restaurantes, o Zase é uma espécie de programa de fidelidade aliado a banco de dados. “O cliente usa o app para dar check-in”, diz Morais. “Com isso, ele acumula pontos e ganha prêmios e, em troca, o restaurante entende melhor o perfil do consumidor e pode mandar alertas diversos.”
 

O Peixe Urbano foi criado em 2010, no Rio de Janeiro, por Julio Vasconcellos, Emerson Andrade e Alex Tabor, depois do período em que viveram nos Estados Unidos. Andrade trabalhou na sede da Microsoft, Tabor veio de uma startup chamada Power.com, e Julio Vasconcellos, ex-aluno da Universidade Stanford, foi o primeiro executivo brasileiro do Facebook. “Não temos um programa específico que estimule a criação de novas empresas por funcionários, mas criamos um ambiente com muita troca de ideias”, afirma Vasconcellos, presidente do Peixe Urbano.

Mais do que a cultura corporativa, o que a empresa ofereceu a seus funcionários foi a possibilidade de participar de um processo de crescimento acelerado e em constante mudança. Além de rodadas de investimento, o Peixe Urbano também passou por processos de aquisição de possíveis concorrentes e de outras startups para diversificar os negócios. Foi assim que o mineiro Leandro Morais, 31 anos, passou a integrar o grupo.

Formado em engenharia da computação, Morais foi um dos fundadores do site de delivery de comidas Entregador. Em 2012, quando a plataforma foi adquirida e transformada no Peixe Urbano Delivery, toda a equipe mineira se mudou para a sede da empresa, no Rio de Janeiro. “Chegamos em um momento de crescimento e pudemos ver de perto desafios como o relacionamento com o investidor, algo que não tínhamos antes”, diz Morais, que ficou no Peixe Urbano até setembro do ano passado, quando a unidade de delivery foi vendida para a startup HelloFood, como parte da reestruturação dos negócios.

Loggi Motoboy Rastreado
Antes de trabalhar no Peixe Urbano, o designer Eduardo Wexler, 40 anos (foto), não sabia o que era uma startup digital. Hoje, está no segundo empreendimento, a Loggi, serviço de motofrete online que atua em São Paulo. Na plataforma, é possível saber o valor da corrida antes de fechar o pedido e acompanhar em tempo real onde está a encomenda. Tudo graças a um aplicativo baixado pelos motoboys que usa o GPS como rastreador. O negócio recebeu 2 milhões de reais de investidores-anjo. "Aprendi muito no Peixe Urbano. A informação estava sempre circulando", diz Wexler.  

Na época, o engenheiro já trabalhava na criação de seu próximo negócio, a Zase, uma plataforma para estabelecimentos comerciais se relacionarem com os clientes. A ideia foi aprovada para o Seed, o programa de aceleração do governo de Minas Gerais, e foi também uma das quatro selecionadas no programa da Abril Plug&Play, parceria entre a aceleradora Plug&Play, do Vale do Silício, e o Grupo Abril, que publica INFO.

“A cultura do Peixe Urbano é algo que vou levar para qualquer negócio. Os valores da empresa são muito fortes, e o Julio (Vasconcellos) sempre foi muito transparente, sempre trouxe as pessoas para perto dele”, afirma Morais.

“O movimento de funcionários de startups que fundam o próprio negócio é um sinal de amadurecimento do mercado no Brasil”, diz a americana Pamela Granoff, criadora do Brazil Founders, grupo de investidores e empresários que atua no mercado nacional. “No Vale do Silício, é impossível saber quem trabalhou onde.” Exemplos não faltam. O criador do Instagram, Kevin Systrom, começou como estagiário em uma empresa chamada Odeo, de onde sairia o Twitter. Depois, trabalhou no Google por três anos, antes de lançar a própria startup, comprada em 2012 pelo Facebook. Dennis Crowley, criador do Foursquare, também é ex-Google. Já o fundador da rede social Quora, de perguntas e respostas, veio do Facebook, enquanto Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, criadores do YouTube, são todos ex-funcionários do PayPal. Essa história é também parecida com a dos próprios fundadores do Peixe Urbano.

Mesmo com as dificuldades e as mudanças dos últimos anos, o trabalho dos empreendedores do Peixe Urbano é reconhecido como inovador. Especialmente se considerarmos que, em 2010, quando o termo startup começava a se popularizar no Brasil, esse tipo de comportamento era raro por aqui. “O que eles fizeram no Peixe Urbano foi espetacular”, diz Luiz Manzano, gestor da área de apoio a empreendedores da rede Endeavor. Para Manzano, o fato de cada vez mais brasileiros terem experiência no Vale do Silício está ajudando a transformar o cenário nacional. “Nos Estados Unidos, há uma cultura forte de educação. Os líderes têm visão de longo prazo para formar as melhores pessoas para seus negócios”, afirma Manzano. Julio Vasconcellos fundou o Peixe Urbano com essa visão e, ao que tudo indica, deu um bom fôlego para as próximas gerações de empreendedores seguirem seu caminho.

Conheça 18 empresas criadas por ex-funcionários do Peixe Urbano

+Asas
Vende roteiros exclusivos no Rio de Janeiro, como os de aventura

Bonuz
App que funciona como um cartão de fidelidade para lojistas conhecerem clientes

Bússola de Negócios
Assessoria para empresários e investidores interessados no Brasil

Cookapp
Plataforma argentina que organiza encontros paraamantes da culinária

Eu Me Chamo Antônio
Marca de estampas com ilustrações feitas pelo ex-redator Pedro Gabriel

Flert
App de relacionamento que usa o Facebook para selecionar paqueras

Loggi
Serviço online de entregas por motoboys em São Paulo

Madame Tutu
Organiza eventos com decoração e enredo personalizados

Nibo
Ferramenta de gestão financeira para pequenas e médias empresas

Paulista com Farofa
Projeto que realiza encontros em espaços públicos de São Paulo

PiniOn
Plataforma mobile para coleta e análise de dados

Planedia
Site e rede social de planejamento de viagens

Rebolô
Produção artesanal de bolos

Salão VIP
Sistema de agendamento na nuvem para salões de beleza

Social Miner
Ferramenta que ajuda empresas a identificar usuários de seu site

Vitaminasa
E-commerce argentino para a venda de produtos de beleza

Winggo
Rede social para conhecer pessoas por localização e atividades postadas

Zase
Plataforma que ajuda restaurantes e lojas a conhecer melhor seus clientes

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Agradecimentos: Clube Atlético São Paulo (SPAC)
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